As causas principais que levaram o Império a cair foram: Abolição
dos Escravos com a expropriação dos donos de escravos que não receberam
a indenização do investimento financeiro que haviam feito. Centralismo
econômico-financeiro, o qual era normal enquanto a Província do Rio de
Janeiro era o guindaste da economia nacional, tendo como base a
plantação de café. Porem, com o enfraquecimento dos seus solos, e quando
as outras Províncias começaram a produzir, principalmente São Paulo
passaram a exigir outro tratamento por parte Imperador o qual sempre se
negou a atender os seus interesses, centralizando tudo no Rio de
Janeiro, quando a realidade nacional já era bem outra.
Militares. Emergentes da Guerra do Paraguai tornaram-se
indisciplinados e poderosos. Apareceu uma geração de altos oficiais que
foram promovidos de forma rápida e que começaram a ocupar os espaços dos
velhos marechais e outras oficialidades e entre eles os de Caxias e
Osório já falecidos. Esta nova geração, esquecendo seus postos de
soldados, começou a protestar e criticar tudo e ainda se imiscuir em
problemas da nação que não lhes dizia respeito. Começaram os jovens
oficiais a se pronunciar contra o poder civil abertamente. As escolas
militares passaram a politizar demais seus alunos constando em seus
currículos alem das teorias de guerra, que eram absolutamente
necessárias na formação dos soldados, ensinavam positivismo,
neo-sociologismo e outras idéias avançadas. Não restam dúvidas, que a
constante escaramuça entre o poder militar e o poder civil,
especialmente contra o Ministério da Guerra sempre sob o comando de um
civil, e em permanente regime de confronto, não havendo habilidade para
tratar os militares, punindo-os, quando em certas situações as soluções
poderiam ser mais políticas. Alem destes fatores haviam outros de
menor importância, como a Questão Religiosa, a possível ascensão ao
poder do Conde D’Eu (maçom), esposo da beata Princesa Isabel, não muito
apreciado pelos brasileiros, além da economia obsoleta e estagnada do
Império quando a situação internacional exigia novos modelos econômicos.
Já estávamos em plena era industrial E não podemos deixar de
mencionar a participação e luta dos republicanos, que desde o Manifesto
de 1870 estavam difundindo a nova doutrina. A quase totalidade dos
republicanos eram maçons e estes se não foram os responsáveis diretos,
pelos menos fizeram a diferença nos últimos estertores da monarquia
decadente. Houve a participação de maçons e não da Maçonaria. Estava preparado o palco dos acontecimentos. No
dia 07/06/1889 tornou-se chefe do 36º Gabinete do 2° Império, o
monarquista convicto, Afonso Celso de Assis Figueiredo, Visconde de Ouro
Preto (iniciado na “Loja Amizade” – São Paulo) que trazia um programa
mais liberal de governo tais como extensão do direito de voto, maior
autonomia municipal, casamento civil e liberdade de cultos. Ouro
Preto estava firme na proposição de impedir o movimento dos republicanos
através de algumas reformas e também combater a indisciplina militar. Como
a Câmara dos Deputados não aceitou o plano de reformas imposto pelo
Gabinete Liberal, esta foi dissolvida no dia 17/06, sendo convocada
novamente somente em 20/11. Entre as várias causas que estavam alimentando uma provável conspiração, esta veio agravar ainda mais. Os
conspiradores militares desde o final de Outubro de 1889 estavam se
articulando e ao mesmo tempo entrando em confronto com o Gabinete
Ministerial, sempre em função das suas rusgas com o dito Ministério,
cujo titular era o visconde de Ouro Preto. Não esqueçamos que apesar do grande poder do Imperador, o Brasil era governado por uma monarquia constitucional. O maçom e positivista Benjamin Constant era para ser o líder do levante. Mas
ele próprio admitia que fosse necessário para ocupar este cargo, um
militar de carreira e que Deodoro reunia todas as qualidades que
resumiam a angustia, e o protesto dos militares. No dia 04/11, o
maçom Deodoro da Fonseca (iniciado na Loja “Rocha Negra“ São Gabriel RS e
pertenceu posteriormente à Loja “02 de Dezembro” – Rio de Janeiro),
apesar de doente, pois tinha uma dispnéia que o perseguia há tempos de
origem cardíaca possivelmente, inclusive com edema das extremidades,
tendo que se acamar com freqüência, recebeu em sua residência, um grupo
de oficiais e estes disseram a Deodoro que Ouro Preto pretendia
reorganizar a extinta Guarda Nacional e fortalecer a Polícia no Rio para
fazer frente ao Exército. Deodoro teria comentado que só mudando a forma de governo e ao mesmo tempo deu o seu aval o grupo para conseguir mais adeptos. Estes
procuraram entre os civis da causa republicana os maçons Quintino
Bocaiuva, Aristides Lobo e em São Paulo, Manoel Ferraz de Campos Sales,
também maçom e que pôs a par da provável sedição, todos os republicanos
paulistas. Só que os civis falavam de República e os militares ainda falavam apenas na queda do Gabinete de Ouro Preto, que os perseguia. Tanto
é verdade que no dia 09/11, enquanto a Monarquia se deliciava em seu
famoso e último baile na Ilha Fiscal, com convite para 4.500 pessoas, o
Clube Militar se reunia e ninguém pronunciou o termo república. O
próprio Benjamin Constant não disse o “nome”. Em seu discurso para mais
de cem militares, foi enfático, afirmando solenemente que se dentro de
um prazo de oito dias não fosse resgatada a honra castrense, ou seja, a
honra militar iria para a as ruas quebrar a espada e derramar sangue. No
dia 10/11 já havia sido decidido na residência de Benjamin Constant,
que o Império seria derrubado, numa reunião na qual participaram
Quintino Bocaiúva, Campos Salles, Francisco Glicéreo e Aristides Lobo
que no dia seguinte estariam presentes em outra reunião na casa de
Deodoro. Somente no dia 11/11 foi falado abertamente com Deodoro
sobre a República. Deodoro relutou muito, pois respeitava muito D.Pedro
II. Tiveram que usar de toda a persuasão possível para convencê-lo. Mas
mesmo assim ele talvez pensasse apenas em derrubar o Gabinete Ouro
Preto. Quando Bocaiúva, Rui Barbosa, Aristides Lobo Campos Sales,
Frederico Sólon Sampaio Ribeiro Francisco Glicério chegaram à residência
de Deodoro, encontraram lá o almirante Eduardo Wandenkolk (maçom) que
foi o primeiro oficial da Marinha a aderir à conspiração. Benjamin
Constant também presente foi muito transparente quando afirmou que seria
necessário proclamar a República. Deodoro ouviu a todos e referiu ser
muito amigo do Imperador. Ainda Benjamin disse do seu receio a respeito
de Floriano Peixoto (maçom), que era então ajudante-general do gabinete
ministerial. Deodoro acalmou os presentes afirmando que na hora exata,
Floriano estaria do lado dos militares. Entretanto de qualquer forma
Floriano era uma figura enigmática e seu comportamento até a deposição
do Gabinete foi um tanto ambíguo, pelo menos aparentemente. No dia
14/11 o major Frederico Sólon Sampaio Ribeiro, maçom, saiu do Campo da
Aclimação, deslocando o 9º Batalhão de Cavalaria e 2º Regimento de
Artilharia para o da Praia Vermelha. Ele era de opinião que o levante
deveria ocorrer imediatamente, porem o tenente coronel Benjamin
Constant, líder dos cadetes da Escola Militar, não achava prudente,
porque haviam muitos oficiais que ainda não estavam convencidos. Sólon
estava desesperado porque tinha em mãos, os dois melhores regimentos,
os mais preparados e engajados contra o Governo de Ouro Preto e estes
estavam sendo transferidos para um local mais distante. Sólon achava
que a revolução se diluiria se os regimentos fossem transferidos para a
Praia Vermelha. Foi aí que teve uma idéia bastante original. Espalhou
o boato por todo o Rio de Janeiro que o Governo ordenara a prisão de
Deodoro e Benjamin Constant e que vários regimentos estavam sendo
deslocados para o interior do país e quem manteria a ordem seria a
Guarda Negra, fundada pelo vereador, maçom José do Patrocínio, grande
abolicionista, porem fiel à Princesa Isabel. Esta guarda era composta de
capoeiristas, considerados na época maus elementos e até de alguns
bandidos e como tal não se dava bem com os republicanos. Interessantes
são os caminhos da História, eis que no dia da Proclamação da República,
Patrocínio aderiu à mesma. No dia 14/11 chegou às mãos do Ministro
da Guerra, uma carta de Floriano onde ele referia que “que tramam algo”,
mas que isso não tinha importância porque conhecia a fidelidade dos
chefes. Ouro Preto que já tinha percebido há muito tempo que alguma
coisa estava prestes a acontecer, reuniu o seu Gabinete neste mesmo dia.
Seu Ministro da Guerra, o visconde de Maracajú (Rufino Enéias Gustavo
Galvão), afirmou que a ordem pública seria mantida que qualquer forma.
Ouro Preto quis saber do envolvimento de Deodoro e lhe foi respondido
que nada constava contra Deodoro, o qual inclusive achava-se enfermo. Nestas
alturas o boato espalhado por Sólon já estava surtindo os seus
efeitos.Neste dia Benjamin Constant, vindo da casa de Deodoro,
encontrou-se com Aristides Lobo e Francisco Glicério. Ele estava
desanimado com o estado de saúde de Deodoro, inclusive achando até que
este viesse a falecer. Eles não sabiam que o boato estava tomando corpo. A
notícia da prisão eminente dos correligionários chegou aos ouvidos de
Quintino Bocaiúva e este mandou saber no Clube Naval, onde se achava
Benjamin Constant se tudo estava bem com ele. O mensageiro voltou
dizendo que sim, e que o levante havia sido adiado para o dia 17/11.
Quintino Bocaiúva assustou-se com a perspectiva de adiamento, procurou o
major Sólon e os dois deliberaram que apesar da doença de Deodoro, a
sorte da sedição estava em jogo e marcaram para o dia 15 onde jogariam
tudo ou nada. Sim, no dia 15 de Novembro de 1889, uma sexta-feira. Uma vez estando tudo definido, necessário se torna, analisar alguns pontos. A
Proclamação da República acabou acontecendo em meio a uma série de
trapalhadas, desencontros entre os lideres, confusões, boatos e com
Deodoro relutante até o fim quanto à proclamação de um novo regime ou
não, já que ele era monarquista e estava indeciso, e ainda a República
aconteceu praticamente sem derramamento de sangue. As tropas
rebeladas estavam em São Cristóvão, nos quartéis e na Escola Militar. O
marechal Deodoro que havia passado o dia na casa de seu irmão
recuperando-se voltou à sua residência, um sobrado no Campo de Santana. Ouro
Preto estava em sua residência próxima a Estação São Francisco quando
foi avisado da revolta, mais ou menos um pouco antes da meia-noite do
dia 14. Em seguida dirige-se a Secretaria de Polícia. Ouro Preto teve a
desdita de perceber que a resistência aos sediciosos não havia começado
ainda. O Ajudante-General Floriano Peixoto apresentou novamente um
comportamento um tanto estranho e incoerente. Floriano soubera da
sublevação da 1ª Brigada através do capitão Godolfin, que viera lhe
falar em nome do tenente coronel João Batista da Silva Telles e não o
pendera. Alegou para Ouro Preto que se o prendesse, logo o saberiam, e
poderiam ataca-los militarmente. Ouro Preto convoca imediatamente uma
reunião ministerial e manda um telegrama à D.Pedro II relatando o
ocorrido, o qual só é recebido pela manhã do dia 15. Este, em Petrópolis
continua a sua rotina normal, escreveu seus dois sonetos diários,
praticamente não tomando conhecimento. Floriano vai para Quartel
General no Campo de Santana. Lá recebe o tenente coronel Silva Teles,
comandante da 2ª Brigada, limitando-se a aconselha-lo a ter cuidado a
não se precipitar e referiu ao mesmo que gostaria de falar com Deodoro e
Benjamin Constant. Ouro Preto por sugestão de seu Ministro da
Guerra, visconde de Maracajú se transfere com todo o Ministério para o
Quartel General, chegando lá mais ou menos às 7 horas. Seguindo os
acontecimentos, os Oficiais da 2ª Brigada, acharam por bem avisar a
Benjamin Constant que a revolução estava em andamento, uma vez que ele
pensava que ela seria deflagrada somente no domingo, dia 17. Ele foi
acordado de madrugada. Benjamin Constant enviou seu cunhado, o
capitão Bittencourt Costa à casa de Deodoro, avisa-lo, e juntamente com
seu irmão carnal major Botelho de Magalhães, foram sublevar os cadetes
da Escola Militar na Praia Vermelha. Deodoro, estava dormindo, pensou
ser uma cilada do Governo levantou-se com extrema dificuldade, sob os
protestos de sua esposa, e só depois de saber pelo mensageiro que fora
Benjamin Constant que o estava informando, fardou-se, colocou um
revolver no bolso, colocou os arreios de sua montaria em um saco de
lona, não levou a espada por não poder suportar o seu peso, tomou um
tilburi e seguiu para São Cristóvão. Constant chegou antes de Deodoro
e dirigiu-se à Escola Superior de Guerra onde foi verificar se tudo
estava pronto. Todos os cadetes já estavam em armas. Os três Regimentos
da 2ª Brigada, também. Então se iniciou a famosa marcha que derrubaria o 2º Império. Os
únicos civis a seguirem com os sediciosos, que se tem notícia, foram o
maçom Quintino Bocaiúva e o cidadão Antônio Rodrigues Campos Sobrinho,
funcionário público que “engajou” no 2° Regimento de Artilharia. Na
frente das tropas, marchou o 1º Regimento de Cavalaria, comandado pelo
tenente-coronel João Batista da Silva Telles. Logo atrás, dois pelotões
da Escola Superior de Guerra, liderados pelo tenente Pedro Paulino da
Fonseca. A seguir o 2º Regimento com 16 canhões comandados pelo major
João Carlos Lobo Botelho. Fechando este contingente, vinha o 9º
Regimento de Cavalaria, comandado pelo major Sólon Sampaio Ribeiro. O
regimento marchou a pé, por falta de eqüinos, porem trazia munições em
carroças atrás da tropa. Estavam trazendo carabinas Winchester, as quais
eram munições novas no Exército e os soldados ainda não estavam
treinados suficientemente para usa-las. As forças reuniam em torno de
450 praças e 50 Oficiais, mais os cadetes, perfazendo mais ou menos um
total de 600 homens. A maioria dos soldados, mal armados, não sabia que
estavam marchando para derrubar a monarquia. Ainda para piorar, a
oficialidade que estava junto com as tropas, era de média patente. Os
comandantes na sua maioria eram monarquistas e não estavam presentes. Vendo
que com aquele contingente, os revoltosos não iriam muito longe,
Benjamin Constant, o cérebro da revolução, mandou o tenente Lauro Müller
(Loja “Dois de Dezembro” Rio de Janeiro e “Acácia Itajaiense” SC) ir à
casa de Deodoro para saber onde ele estava. Deodoro já estava a caminho,
e encontrando os revoltosos mais a frente, a altura do Gasômetro do
Mangue ainda dentro do tílburi, foi aplaudido freneticamente por toda a
tropa. O velho marechal ordenou que a tropa continuasse avançando e
com muita dificuldade saiu da condução em que estava e montou num
cavalo. Quando chegou à saída da Rua Visconde de Itaúna que vai dar
no Campo de Santana, encontrou as forças da Marinha e da Polícia,
prontas para dar combate aos sublevados. Quando as duas frentes se
encontraram, houve hesitação por parte das forças fiéis ao Império,
disso se aproveitando Deodoro com muita autoridade e habilidade. “Então
não me prestam continência?” Marinheiros e policiais em resposta
apresentaram as armas. Graças à astúcia, liderança e respeito que tinham
por Deodoro, a revolta ganhava aí a primeira parte da luta, sem
disparar um tiro sequer. Entretanto, dentro do Quartel General estavam 2000 soldados, bem armados. Apesar
de ter um contingente de soldados bem maior e mais equipado que os
revoltosos, segundo o Barão de Ladário (José da Costa Azevedo), estas
tropas não eram confiáveis. Ouro Preto, vendo um destacamento
avançado e fazendo reconhecimentos, comandados pelo capitão Godolfin e
mais oito soldados e que ninguém foi prendê-los, achou muito estranho, e
fala com Floriano, o 2º em comando no Ministério e este não tomou
qualquer providência. Acabou ordenando ao general José de Almeida
Barreto (maçom), que fosse capturar o referido destacamento. Este se
havia comprometido dias antes com os sediciosos, porem na última hora
ficou do lado de Ouro Preto. Interessante que o general simulou que
prenderia os soldados, mas não o fez, e ainda ficou hesitante relutando
em colocar suas tropas sob o comando de Deodoro. Refere a História que
Deodoro usou um xingamento de baixo calão contra Almeida Barreto naquele
momento. Dentro do Quartel General todos estavam nervosos, porem Floriano permanecia impassível, aparentando calma. A
situação continuou sem definição até às oito horas da manhã do dia 15,
quando então Deodoro coloca suas tropas em frente aos portões do
quartel, e enviou o tenente-coronel João Batista da Silva Teles para
levar um recado a Floriano, dizendo que queria conferenciar. Floriano
com seu estado maior montados em cavalos sai para palestrar com Deodoro. Neste
momento o barão de Ladário vindo em direção à Deodoro, salta de um cupê
ministerial da Marinha, de revolver em punho atira em direção de
Deodoro, errando o alvo. Atira de novo, e também não acerta. Neste
momento os tenentes Müller e Adolfo Pena atiraram em Ladário, ferindo-o e
acertando um dos tiros na região glútea. A pedido de Deodoro, não
mataram o barão. Este foi o único sangue derramado na Proclamação de
nossa República. Por sinal o barão de Ladário foi o único membro do
governo que enfrentou as tropas rebeldes. Se o barão de Ladário tivesse
matado Deodoro, não se pode prever quais seriam as conseqüências. No
interior do Quartel General, Ouro Preto, quis fazer valer sua última
chance, ordenando a Floriano que enviasse um destacamento e tomasse à
baioneta os canhões (“bocas de fogo”) de Deodoro, dizendo que no
Paraguai os soldados brasileiros haviam se apoderado da artilharia
paraguaia em piores condições. Floriano respondeu: “Sim, mas as bocas do
Paraguai eram inimigas e que aquelas que V. Excia está vendo, são
brasileiras e eu sou antes de tudo um soldado da nação”. Neste momento, Ouro Preto viu que estava tudo perdido. Restava
aos sediciosos entrarem no Quartel General e isso foi facilitado por um
um sobrinho militar de Deodoro, o capitão Pedro Paulo da Fonseca Galvão
que estava lá dentro. Referem que Deodoro ao entrar naquele reduto,
teria dito “Viva Sua Majestade, o Imperador”. Apesar de muitos
republicanos desmentirem, o alferes Cândido Rondon presente ao ato, que o
Brasil haveria de conhecer seus feitos indianistas futuros, afirmou que
ele realmente pronunciou tal frase. Deodoro logo após entrar
conversou de forma íntima com Floriano e foi convidado a subir até o 1º
andar, onde estava o Chefe de Gabinete a ser deposto. Deodoro, ao
chegar lá, cumprimentou seu primo, o visconde de Maracajú, Ministro da
Guerra e após um silêncio natural que acontece nestes momentos, disse a
Ouro Preto: “Vossa Excelência e seus colegas estão demitidos por haver
perseguido o Exército”. Estando assim demitido todo o ministério, com
Ouro Preto e Cândido de Oliveira, Ministro da Justiça, considerados
presos e seriam deportados. Entretanto, Deodoro se referiu a D.Pedro II
da seguinte maneira: “quanto ao Imperador tem a minha dedicação, sou seu
amigo, devo-lhe favores, seus direitos serão respeitados e garantidos”.
Referiu também que enviaria uma lista com nomes do novo ministério. Concluído
o fato, Deodoro, desceu para se regozijar e confraternizar junto às
tropas e os civis republicanos que se aglomeravam no Campo de Santana. “O
capitão Antônio Adolfo Menna Barreto deu tantas vivas” à República que
até teve um mal súbito, perdendo os sentidos. Entretanto em nenhum
momento, Deodoro proclamou de peito aberto, a República. Após um tenente
ter notado este fato e dito à Benjamin Constant, este disse em voz
baixa a Deodoro que aquele momento, era a hora certa de dize-lo. Deodoro
mandou tranqüilizar o tenente, alegando que a “nossa causa triunfou” e
que se deixasse para o povo esta manifestação. O major Sólon notou
que a derribada da monarquia não estava a contento, teria dito a Deodoro
que só embainharia a espada se ele proclamasse a república. Os amigos de Deodoro afirmam que nesta hora ele teria dado “vivas” ao novo regime, mas não se comprovou. A
seguir, Deodoro diante de suas tropas com Quintino Bocaiúva, cavalgando
ao seu lado, tomou o rumo do centro da cidade; Benjamin Constant e
Aristides Lobo foram a pé. O povo, atônito, e até assustado não sabia o que estava se passando. Nestas
alturas, os sintomas do seu problema cardíaco estavam se agravando, uma
provável insuficiência cardíaca congestiva, ele mal podia manter-se
ereto na montaria, ainda assim quis ir até o Arsenal da Marinha para
conferir “in loco” se tudo estava em ordem. Uma vez constatando que tudo
estava bem, dirigiu-se até sua casa e acamou-se imediatamente. Mais
ou menos às treze horas, isto é no inicio da tarde, se para os militares
tudo estava resolvido e a honra militar havia sido resgatada, para os
republicanos, a situação não estava muito transparente, pois até parecia
que o movimento estava derrotado. D.Pedro retornou ao Rio de Janeiro, vindo de Petrópolis, por cerca das quinze horas, dirigindo-se ao seu palácio. Nesta
mesma hora, percorrendo as ruas da cidade, Benjamin Constant,
futuramente considerado o Pai da República, o articulador, o republicano
por excelência achava muito estranho tudo o que estava acontecendo.
Encontrando com o jornalista republicano Aníbal Falcão, incitou que ele
imediatamente agitasse o povo, alegando que a República ainda não estava
proclamada. Falcão juntou-se aos republicanos Pardal Mallet e Silva
Jardim e se dirigiram a Câmara Municipal. Procuraram o vereador
monarquista José do Patrocínio, até então detestado pelos republicanos,
mas que neste dia ele fez a sua profissão de fé republicana, e na
condição de vereador mais jovem convocou uma sessão da Câmara
imediatamente. Os republicanos arregimentaram as pessoas que puderam e na Câmara foi referendada uma moção que Aníbal Falcão havia escrito. O
povo reunido isto é, mais ou menos cerca de 100 pessoas ouviu a
aprovação da Câmara a moção “O povo reunido em massa na Câmara
Municipal, fez a proclamação da República na forma lei ainda vigente,
pelo vereador mais moço, após a revolução que aboliu a monarquia do
Brasil, o governo republicano”. A moção ainda referia para quem de direito proclamasse a República de fato. Foi
feito um abaixo assinado representando o povo do Rio de Janeiro. De
posse deste documento, os manifestantes foram se postar em frente à casa
de Deodoro. Deodoro, por estar se sentindo mal, foi representado por
Benjamin Constant (sempre ele), que da sacada do sobrado onde Deodoro
morava afirmou ao grupo que um Governo Provisório convocaria uma
Assembléia Constituinte para que a nação pudesse deliberar
definitivamente a respeito de uma nova forma de governo. Esta
vacilação de Constant talvez se devesse ao fato dele ser um homem
pacifista, positivista de longa data e possivelmente não quisesse que o
Exército tivesse um papel tão importante na administração de um novo
regime, preferindo que uma Constituinte decidisse sobre como seria um
novo regime. Entretanto, graças às atitudes de tomadas a seguir por
D.Pedro II e pelo visconde Ouro Preto, o regime escolhido acabou mesmo
sendo a República. D. Pedro chegando ao Rio logo que se instalou no
seu palácio aceitou com relutância a demissão de Ouro Preto e concordou
com nome indicado para substitui-lo, o senador Gaspar Silveira Martins
(maçom, grau 3, ex-Grão-Mestre do Grande Oriente do Passeio). O senador
gaúcho estava fora do Rio, só chegaria no dia 17. Isto tornaria mais
caótica ainda a situação, pois o país estava em plena vigência uma
revolução, e alem do mais, o senador Gaspar era inimigo antigo e
declarado de Deodoro. Detestavam-se, simplesmente. Já era quase
noite, quando Deodoro ficou sabendo que o senador Gaspar tinha sido
indicado para a vaga de Ouro Preto. Esta foi a gota d’água para a
decisão final de Deodoro. Não se tem provas cabais que o senador
tenha sido realmente indicado para chefiar o Gabinete por indicação do
Imperador. Há outra versão, a qual talvez seja a mais provável que tenha
acontecido, como sendo uma estratégia de Benjamin Constant, que quando
percebeu a hesitação de Deodoro, inclusive podendo pôr tudo a perder,
teria usado o nome do senador Gaspar Martins como provável futuro chefe
de Gabinete, fato este que Deodoro jamais toleraria. Eram inimigos há
muito tempo. D.Pedro II foi persuadido a nomear outro político, o maçom e Conselheiro José Antônio Saraiva. Saraiva
enviou através do capitão Roberto Trompowisky uma carta à Deodoro,
porem este disse ao capitão: “Já é tarde, a República está feita e os
principais culpados são o conde D’Eu visconde de Ouro Preto. O último
por perseguir os militares e o primeiro por consentir nesta
perseguição”. Como vimos o prestígio, a liderança a confiabilidade
num líder como todo o Exército teve em Deodoro, naquele dado momento de
nossa História, foi o maior em todos os tempos que um líder já teve
neste país. Ele proclamou a República na hora que achou melhor, porem
poderia permitir a constituição de um novo Gabinete com continuidade da
monarquia se assim ele o quisesse. Isto significa que naquele dia,
naquela hora, ele tinha a liderança total de um povo em suas mãos, fato
este que desde então jamais foi registrado no Brasil. Liderança total. Mas
não esqueçamos que Benjamin Constant, foi o maestro, foi o articulador o
homem que cuidou de todos os detalhes, por menores que fossem que ele
cuidou de improviso de acertar todos os erros que seus companheiros
cometeram de última hora, que ainda teve o vislumbre de achar que o
Exército, deveria passar a parte política administrativa à civis, enfim
foi o homem certo na hora certa, podendo os brasileiros com toda razão,
chama-lo de o Pai da República. Sabendo que o soldado puro Deodoro
era uma Pedra Bruta em matéria de política, sempre esteve ao seu lado
para lapida-lo com conselhos e orientações e também para protegê-lo. Agora
com a anuência total de Deodoro em se instituir a República, Aristides
Lobo, Francisco Glicério e Benjamin Constant se reuniram para instituir o
governo republicano e preparar os primeiros decretos. O primeiro
Gabinete do Governo Provisório foi constituído somente por republicanos
maçons. No dia seguinte, ou seja, dia 16, num sábado Deodoro ordenou
que a Família Real fosse deportada e enviou o major Sólon para
comunica-los. O major Sólon, ficou todo embaraçado com o peso da decisão
dos revoltosos que levava ao ex-monarca, tratando-o de Vossa
Excelência, Alteza, Majestade e ainda após dar-lhe a notícia, solicitou
licença para se retirar. O maçom, grau 33, e coronel João Francisco
da Costa, foi encarregado de vigiar e proteger a Família Real até que
esta partisse para o exílio. E assim terminou o longo reinado de
D.Pedro II, sem que seus barões, condes e viscondes, protegidos e toda
aristocracia o preservassem ou defendessem. Ressalte-se que dentro desta
aristocracia existiam muitos maçons sérios, que eram opositores aos
maçons republicanos. O número dois está em realce, o famoso número dos contrários. Havia, pois, maçons republicanos e monarquistas. Está
certo que foi um golpe militar, mas talvez o próprio povo fosse
conivente, pois não admitia que o maçom Conde D'Eu, apesar de príncipe
consorte, seria o governante de fato, já que o Imperador velho e doente,
com uma diabetes progressiva, não teria muito tempo de vida. Mas o
Império caiu porque, em realidade, o país estava antiquado e exaurido
economicamente e já não tinha condições de oferecer uma perspectiva
melhor, especialmente no sentido de aumentar a liberdade e o direito dos
cidadãos. Foi a última monarquia da América do Sul a ruir. Entretanto,
ressalte-se que alguns bons amigos da Família Real, como o Barão e a
Baronesa de Loreto, seu médico particular, o Conde Mota Maia, o Barão e a
Baronesa de Muritiba alem do engenheiro abolicionista André Rebouças o
acompanharam espontaneamente na viagem pelo vapor “Alagoas” para a
Europa sem que tivessem sido presos ou deportados. Foi triste o acaso do monarca. Talvez, D.Pedro II merecesse melhor sorte. E o povo que tanto o amava, facilmente o esqueceu. Tivemos um paranaense participando ativamente dos eventos da Proclamação da República. Ele
talvez foi o maior militar por seus feitos, que o Paraná já teve na sua
História. Não só pela participação na Proclamação da República em si,
mas sim pela sua conduta como soldado e artilheiro na Revolução
Federalista que ocorreria daí há quatro anos. Trata-se do então jovem
José Cândido da Silva Muricy que um dia seria general e que estava
cursando a Escola Superior de Guerra na Praia Vermelha no Rio de Janeiro
como cadete por ocasião dos eventos da Proclamação da República. Republicano
e de total confiança de seus superiores tomou parte em algumas reuniões
onde foram detalhados os planos da derrubada da Monarquia e foi um dos
elementos de ligação, que transmitia as ordens aos diversos corpos da
guarnição e na Escola Militar. Ele foi um dos soldados que marcharam
junto com a tropa para o Campo de Santana no dia 15/11. Incorporou-se à
coluna do capitão Hermes da Fonseca (maçom), sobrinho de Deodoro, que
lhe emprestou a espada e estava portando naquele momento uma clavina
Comblain. Estas duas armas o acompanhariam por toda a sua vida, como
recordação. Ele foi iniciado na Loja “Ganganelli” – Rio de Janeiro e teve posteriormente destacada atuação na maçonaria paranaense. Hercule Spoladore – Loja de Pesquisas Maçônicas “Brasil” – Londrina- PR
Referências Castellani, José “A Maçonaria e o Movimento Republicano Brasileiro” Traço Editora – São Paulo – 1989 Castellani, José “Os Maçons que fizeram a História do Brasil” Editora A Gazeta Maçônica – São Paulo- sem data Prober, Kurt “Achegas para a História da Maçonaria no Brasil” São Paulo, 1968 Kurt, Prober “Catálogos dos Selos Maçônicos Brasileiros” Paquetá –Rio de Janeiro, 1984 Machado,Manoel L. “Sangue e Bravura” (romance histórico) . Oficinas Gráficas da Penitenciária do Paraná – Curitiba, 1944 Martins, Romário “História do Paraná” Editora Rumo Limitada – Curitiba - 1939 Vernalha Milton Miró “Do Império à República” Editora Litero Técnica – Curitiba – 1989 Grande Enciclopédia Delta Larousse Dicionário-Histórico-Biográfico do Estado do Paraná Editora “Livraria do Chain” Banestado– Curitiba – 1991 Revista “A Trolha” nº 228 – Outubro 2005 – Artigo “Campos Salles, Um “Maçom Ilustre” – Autor: Mario Name PRINCIPAIS MAÇONS REPUBLICANOS HISTÓRICOS QUE TIVERAM PARTICIPAÇÃO DIRETA NA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA Américo Brasiliense de Almeida Melo (Lojas “Amizade” e “América” - São. Paulo). Américo Brasilio de Campos (Lojas “Amizade” e ”América” - São Paulo) Antônio da Silva Jardim (Loja “América” - São Paulo) Aristides da Silva Lobo (não se sabe onde foi iniciado) Benjamin Constant de Marques Botelho (não se sabe onde foi iniciado) Bernardino José de Campos (Lojas “Amizade” - São Paulo – “Trabalho” - . de Amparo e “Independência” – Campinas -SP Carlos de Campos (Loja “Trabalho” de Amparo – SP) Demétrio Ribeiro (não se sabe onde foi iniciado) Eduardo Wandelkolk (Loja “Esperança” Rio de Janeiro-RJ) Fernando Prestes de Albuquerque (Loja “Firmeza” - “Itapetininga” SP) Francisco Glicério de Cerqueira Leite (Lojas “Independência” ). Campinas SP e “Piratininga” São Paulo. JB News – Informativo nr. 1.523 Florianópolis (SC) – sábado, 15 de novembro de 2014. Pág. 21/32 Francisco Quirino dos Santos (não se sabe onde foi iniciado) Francisco Rangel Pestana (Lojas “Amizade” e “América” - São Paulo) Hermes Rodrigues da Fonseca (Loja “Ganganelli” - Rio de Janeiro) João Tibiriçá Piratininga (Loja “Beneficência Ituana” - Itu- SP) Joaquim Saldanha Marinho (Grão-Mestre do Grande Oriente dos (Beneditinos) Jorge Tibiriçá (Loja “Amizade” - São Paulo) José Luiz Flaquer (Loja “América”- São Paulo) José
Gomes Pinheiro Machado (Lojas “América”-São Paulo, “Harmonia.
Cruzaltense” - Cruz Alta – RS, “Luz e Fraternidade” –. Santa Maria –RS e
“Luz da Serra” – Santo Ângelo -RS José Maria Lisboa (Loja “Amizade” - São Paulo) Júlio Cesar Ferreira Mesquita (Loja “Amizade” - São Paulo) Lauro Nina Sodré e Silva (Loja “Harmonia” - Belém – PA.). Luiz Gama (Loja “América” - São Paulo) Manoel
Ferraz de Campos Salles (Loja “Fraternidade Campineira” -)..
Campinas-SP. filiado à Loja Independência –Campinas e fundador da “7 de
Setembro – São Paulo. Manoel de Moraes Barros (Loja “Beneficência Ituana”- Itu, SP e.). . fundador da Loja “Piracicaba” – Piracicaba SP Martinico do Prado (Martinho Prado Jr.) (Lojas “Amizade” e “América” -. São Paulo). Nilo Procópio Peçanha (Loja “Ganganelli”- Rio de Janeiro) Pedro de Toledo (Lojas “Piratininga” e “Amizade” - São Paulo) Prudente José de Moraes Barros (possivelmente iniciado na Loja “Sete de . “Setembro pertenceu a Loja “Beneficência “(Ituana” - Itu e fundador da Loja “Piracicaba”-SP). Quintino de Souza Ferreira Bocaiúva (Loja “Amizade” - São Paulo Lojas. “Segredo” e “Comércio” GOU Rio de Janeiro). Sólon Sampaio Ribeiro, major (Loja “Amparo à Virtude”- Rio de Janeiro). Venâncio Aires (Lojas “Firmeza” – Itapetininga –SP e “Luz da Serra”-. Santo Ângelo RS.). Ubaldino do Amaral Fontoura- paranaense- (Lojas “Perseverança III” e “Constância” – Sorocaba SP e “América” - São Paulo) Tivemos
republicanos de última hora, ou últimos dias, como José Carlos do
Patrocínio (Loja “União” e Tranqüilidade nº02 – Rio de Janeiro), Rui
Barbosa (Loja “América” – São Paulo) Floriano Peixoto (Loja “Perfeita
Amizade”- Maceió- AL) o próprio Marechal Deodoro da Fonseca (Loja “Rocha
Negra” São Gabriel – RS e posteriormente Grão-Mestre do GOB). Estes
foram envolvidos pelas contingências e o fizeram por livre e espontânea
vontade e não como a maioria quase que absoluta dos monarquistas,
inclusive maçons, que se tornaram republicanos por conveniência, de uma
hora para outra se engajando como puderam no novo regime, sempre
tentando tirar proveito próprio.
Fonte: JB News
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