A paisagem bucólica é linda: em primeiro plano, com uma baía estreita vista do alto, um lavrador, de costas, lida com um arado puxado por um cavalo; em segundo, no terreno irregular, um pastor olhando para o alto de costas para o mar, entre as ovelhas, apoiado no cajado; no terceiro, alguns navios se distribuem entre umas ilhotas com o sol ao fundo dominando o horizonte. Na atmosfera tranquila que envolve montanhas, rochas e uma cidadela à beira-mar, a vida segue prosaica como ela só. O quadro famoso é “A queda de Ícaro”, do pintor renascentista Brughel.
Nesse recorte estrito penso no PT agigantado que desaparece, sem que a maioria dos trabalhadores sequer perceba, como ente político único que pretendeu ser. A existência do nanico moral continua agredindo a decência: o mito do gangsterismo político conquistou o direito de ter suspenso o registro partidário. Que haja voado tão alto é uma vergonha, em qualquer nação menos complacente a queda abrupta não teria levado 13 anos ou esse ícaro aberrante sequer sairia do chão.
Pantafaçudo, o ícaro de volúpia máxima para mínima resistência da oposição oficial, fez dos crimes irrestritos asas que o levaram alto demais e é pelo acúmulo deles e pela força gravitacional da incompetência que essa anomalia se estabaca. Não sei quais forças nascerão ou se aglutinarão no vácuo, fugaz em política, que se vai criando.
Tenho críticas vigorosas ao PSDB, mas não o comparo em absoluto aos escroques que se afogam sem o lamento do país decente que tenta tocar a vida. Vejamos o que fará – e se fará. Não sou analista, meu texto aqui é busca e dúvida, uma placa de procura-se – um país decente, uma oposição eficaz e tal – com aquela esperança e suas filhas, na definição de Santo Agostinho, a indignação e a coragem, ao lado dos milhares de indignados corajosos que se reconhecem aqui.
Agora, iniciado o saneamento da paisagem política brasileira, abre-se a oportunidade de o país mudar de assunto, falar de outros problemas e soluções, elevar tanto o nível quanto os temas do debate. Virar o disco do governante providencial, livrar-se do mofo ideológico, ceder ao novo que sempre vem, levar o sonho para tomar sol, seguir em frente onde o futuro nos espera. Um país arejado e prosaico, quem sabe?, para a gente de bem tocar a vida
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