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Escrito por Gabriela Moreira |
Qua, 04 de Junho de 2014 08:51 |
Palco da final da Copa do Mundo e
reformado por R$ 1,3 bilhão de dinheiro público, o Maracanã privado
ainda convive com os problemas de quando era administrado pelo Estado.
Levantamento feito pela ESPN mostra que as empresas
escolhidas para a prestação de serviços como segurança, limpeza,
orientação de público e colocação de grades são de pessoas ligadas a
políticos do Rio ou da Federação de Futebol do Rio, a Ferj.
Entre os fornecedores levantados pela
reportagem está a Sunset Vigilância e Segurança LTDA. A empresa é
dirigida por Anderson Fellipe Gonçalves, o coronel Fellipe, ex-chefe da
segurança pessoal do ex-governador do Rio Sérgio Cabral. O oficial,
que foi braço direito de Cabral durante os últimos quatro anos, também
dirige a empresa que faz a limpeza do Maracanã, a Sunplus Sistemas de
Serviço LTDA. O Maracanã foi concedido à iniciativa privada pelo
ex-governador, em um processo polêmico que enfrentou dezenas de
manifestações populares, além de questionamentos da Defensoria Pública
da União e do Ministério Público do Estado.
CARTÃO DE VISITAS
O coronel fundou a empresa em 2006, como
mostram documentos obtidos pela reportagem. Na época, o capital social
era de R$ 120 mil. Em 2013, o oficial já não constava entre os sócios,
época em que o capital já somava R$ 1,2 milhão. Em uma das
movimentações na Junta Comercial, em 2013, os novos sócios pediam
pressa para o registro dos documentos, pois “a empresa participaria de
uma série de licitações”.
O oficial nega que tenha participação na
empresa. Mas, mês passado, a reportagem recebeu um cartão de visitas
do policial em que ele se apresenta como diretor da companhia. Na
quarta-feira 29 de maio, a reportagem ligou para a sede do grupo, na
Tijuca, e a atendente disse que o coronel ficava na sede do Leblon e
que mais informações poderiam ser dadas pela diretoria. Além disso, o
jovem oficial pode ser visto em todo dia de jogo, à beira do gramado do
Maracanã.
Com a saída do ex-governador do Rio
Sérgio Cabral para que Luiz Fernando Pezão, candidato à sucessão do
governo, assumisse, o coronel Fellipe também deixou o governo. Foi
cedido para a Assembleia Legislativa do Rio.
A Sunset teve seu primeiro contato com
segurança de estádios na Copa das Confederações, da Fifa, ano passado. O
grupo também fará a segurança da Copa do Mundo para a entidade. O
ex-governador Sérgio Cabral também foi procurado pela reportagem. Por
meio de sua assessoria, ele informou que a escolha da empresa de
segurança é responsabilidade do contratante.
Família de vereador
Outra marca visível do Maracanã privado é
o serviço de orientação de público. Passam todo o pré-jogo com
megafones em riste, ao redor do estádio, oferecendo ajuda aos
torcedores. A empresa contratada é a Entreter Festas e Eventos LTDA. Um
dos sócios é Paulo César Cupello, irmão de Carlos César Cupello, o Tio
Carlos, vereador do Rio. A empresa foi fundada por ele em 2003.
Atualmente, o parlamentar não faz mais parte do quadro de sócios. Ele
afirmou à reportagem que não tem qualquer participação na empresa de
sua família e que sua história com o entretenimento vem muito antes de
sua atuação como vereador.
Em grande número, os orientadores e os
“stewards”, como são chamados os vigilantes do Maracanã, custam caro à
concessionária. De acordo com balanço financeiro publicado em março,
desde o início das operações do consórcio, após a Copa das
Confederações, o estádio pagou R$ 17 milhões aos dois serviços. O valor
é R$ 4 milhões a mais que as duas maiores receitas somadas, aluguel e
bilheteria, que renderam R$ 13 milhões.
Os valores exatos dos contratos não
foram divulgados, embora o Maracanã seja uma concessão pública e
deveria ser regido pelas normas de transparência.
GRADES DE ALUGUEL
Cercando o novo Maracanã estão
espalhadas inúmeras grades para separação de fila e ordenamento do
trânsito. Uma espécie de cavalete de metal. A empresa que fornece o
material é a Equiloc Locação e Serviços LTDA. Duas mulheres são as
donas que constam em contrato. Uma delas é Eloísa Macedo. Ela é casada
com Marcelo Martins, amigo e sócio de Marcelo Viana, diretor de
competições da Ferj. Documentos obtidos pela reportagem mostram que
Viana e Martins são sócios há doze anos em uma loja de materiais de
construção.
Fomos ao endereço de Eloísa apurar
porque somente ela consta no contrato. No local, fomos informadas que
ela só é sócia da Equiloc, mas que não trabalha na empresa. É no
departamento de Viana, a diretoria de competições, que as reuniões para
definição de quantas grades são necessárias por jogo são feitas.
Segundo a Ferj, a decisão é da Polícia Militar do Rio. Segundo o
Maracanã, a reunião também tem a participação dos clubes. Estes, negam
que possam interferir nesta definição.
As grades são necessárias em todas as
partidas, dentro e fora do estádio. E embora sejam usadas cerca de duas
vezes por semana, durante o ano inteiro, o Maracanã prefere alugar os
equipamentos. Elas nem chegam ser retirados entre as partidas. O custo
por partida gira entre R$ 4 mil a R$ 6 mil. E a fatura é paga pelos
clubes.
Fonte: Tribuna da Internet
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