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Escrito por Vasconcelo Quadros |
Ter, 13 de Janeiro de 2015 08:10 |
Em uma ação jurídica articulada, os
advogados que defendem os acusados pelos desvios na Petrobras vão
tentar anular a Operação Lava Jato nos tribunais superiores
questionando pontos que consideram frágeis na investigação. No foco
central está uma decisão do procurador Manoel Peçanha, que defendeu, em
parecer, a prisão preventiva do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da
UCT e apontado como o número 1 do cartel que dominou os contratos
bilionários com a Petrobras, como estratégia para forçar novos acordos
de delação premiada.
Coação – esta será a palavra de ordem da
defesa, um forte argumento jurídico e a grande polêmica que decidirá o
destino da operação”, avalia o ex-juiz e jurista Luiz Flávio Gomes.
Ele prevê uma batalha sem precedente nas duas últimas instâncias do
judiciário, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal
Federal (STF).
A disputa, segundo ele, decidirá se a
Lava Jato será mesmo um divisor de águas na política e no combate à
corrupção ou se cairá – como as últimas duas grandes ofensivas contra
os desvios de dinheiro público, a Satiagraha e a Castelo de Areia, que
ruíram por erros na investigação. A primeira foi anulada pelo uso
indevido da Abin para prender o banqueiro Daniel Dantas e a segunda por
amparar os grampos contra empreiteiros em denúncias anônimas.
PRISÃO PREVENTIVA
No parecer em que defende a prisão de
Pessoa, Peçanha escreve com todas as letras que a preventiva, remédio
amargo e excepcional – que pode se estender por tempo indeterminado
enquanto as investigações estiverem em andamento – se justifica não
apenas para garantir a instrução do processo, “mas também na
possibilidade de a segregação influenciá-lo na vontade de colaborar na
apuração de responsabilidades, o que tem se mostrado bastante fértil
nos últimos tempos”.
Não há sinais de que Pessoa esteja
disposto a se render ao assédio. Ao contrário, tem demonstrado que sabe
bem mais do que se disse até agora sobre a Petrobras e, como suposto
coordenador do cartel, tem os detalhes que podem ligar o esquema de
propina aos partidos e autoridades. O empreiteiro baiano é uma das
apostas de revelação da oposição na provável CPI que deve ser
ressuscitada em fevereiro. O longo tempo na cadeia pode tornar o
depoimento explosivo.
Polêmico, o argumento de forçá-lo a
abrir o jogo com a manutenção da prisão preventiva não é comum nos
embates jurídicos e, por essa razão, será usado pela defesa para acusar
o Ministério Público Federal de coação. “É um absurdo que se aproxima
da tortura psicológica. Prender para fazer falar é ilegal”, afirma o
advogado Alberto Zacharias Toron, que defende Ricardo Pessoa. Segundo
ele, as demais alegações utilizadas para converter a prisão temporária
em preventiva não se sustentam porque seu cliente não pressionou
autoridades, tem endereço fixo, não deixaria de atender a Justiça e nem
fugiria do país.
RISCO CALCULADO
Para o juiz Luiz Flávio Gomes, a prisão
de Pessoa e de outros dez executivos se estendeu além do usual em casos
do gênero. “Fora a coação, não há argumento jurídico para mantê-los
presos. Existem alternativas, como arbitrar uma fiança alta ou a prisão
domiciliar. Creio que o juiz (Sérgio Moro) age dentro de um risco
calculado, testando os limites do sistema”, observa.
A defesa dos empreiteiros é formada
pelos advogados mais requisitados do Brasil para casos envolvendo
corrupção e política. Com a morte do ex-ministro da Justiça Márcio
Thomaz Bastos, a coordenação foi assumida pelo também ex-ministro (da
Justiça e do STF) Nelson Jobim, que defende os executivos da OAS, mas
tem também os ouvidos voltados para a repercussão do caso na política.
Na avaliação de especialistas, a Lava Jato tem potencial para abalar o
sistema, o que explicaria a organização do mutirão jurídico para tentar
matá-la no judiciário.
Independente do fim do recesso e da
possibilidade de instalação de uma nova CPI sobre os desvios na
Petrobras, a batalha jurídica antecederá os possíveis reflexos na
política. Governo e partidos torcem por uma virada de jogo nos
tribunais favorecendo a defesa: uma eventual anulação da operação
pouparia a deflagração de uma crise de consequências imprevisíveis.
A estratégia dos advogados é identificar
os pontos frágeis da investigação da Lava Jato para levá-los aos
tribunais superiores. Os advogados farão um pente fino nas decisões do
juiz Sérgio Moro. Uma das estratégias é demonstrar que elas
extrapolaram a jurisdição do Paraná, o que, se emplacada, poderia
estabelecer um conflito de competência. Outro questionamento será feito
em torno do fatiamento das investigações, que separou suspeitos comuns
e políticos com foro privilegiado, para evitar que o caso saísse do
Paraná.
Uma terceira estratégia da defesa é uma
suspeita que pode dar o combustível mais inflamável para a batalha: os
advogados acham que num sistema jurídico em que a lei determina que
polícia, procurador e juiz exerçam papéis distintos, Sérgio Moro
coordenou, na prática, uma espécie de juizado de instrução, comum em
sistemas como os da Itália e da França, mas sem precedência no Brasil –
o que tornaria questionável o comportamento do juiz.
Toron reconhece que Moro, um dos maiores
especialistas em combate a corrupção, é sério e inteligente, mas
afirma que ele conduziu como bem entendeu todas as etapas da
investigação, conectando ações da polícia e do MP às suas decisões num
suposto acordo informal.
“O procedimento dele foge da moldura do
juiz imparcial”, cutuca Toron. Segundo o advogado, Moro agiu com
rispidez para evitar que políticos fossem citados em depoimentos fora
das delações mantidas em sigilo – o que levaria a operação toda para o
STF –, tem adotado procedimentos parciais, ignorando os argumentos da
defesa e tornando a disputa um jogo de cartas marcadas. “É um déspota
esclarecido”, acusa o advogado do dono da UTC, reclamando que as
instâncias superiores da justiça, que respaldaram a operação, têm feito
ouvidos de mercador aos argumentos da defesa.
http://formadoresdeopiniao.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=30256:advogados-armam-plano-para-anular-a-operacao-lava-jato&catid=80:denuncia&Itemid=131
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