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Escrito por Juan Arias |
Qui, 08 de Janeiro de 2015 07:37 |
A presidente Dilma Rousseff em seu
discurso de posse perante o Congresso fez uma afirmação grave, uma das
mais importantes de seus 40 minutos de discurso, e que causou
perplexidade. Falou que existem “inimigos externos” que conspiram
contra a Petrobras, a grande petroleira brasileira hoje sofrendo grande
humilhação da Justiça e da Polícia Federal por ter sido descoberto em
seu interior o maior escândalo de corrupção política e empresarial da
democracia. E garantiu que está disposta a combatê-los.
Fez bem, Dilma, em tecer os elogios à
que já foi a joia da coroa da indústria brasileira fora e dentro do
país. Fez bem em prometer que deseja extirpar o câncer que corrói a
Petrobras, que tem, entre os diretores e gestores nomeados por ela ou
seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, alguns que estão na prisão
acusados de ter subtraído da empresa bilhões de dólares para alimentar o
partido do governo ou partidos aliados, além de terem enriquecido
pessoalmente, como estão revelando os interrogatórios da Justiça.
POPULISMO
Ocorreu, porém, um lapso grave da
presidente em seu discurso, como puseram em evidência os analistas
políticos, no fato de ter mantido o silêncio e suspense em relação a
esses misteriosos “inimigos externos” da Petrobras.
É estranho porque a tentativa de lançar
sobre inimigos externos os males de um governo costuma ser patrimônio
de democracias frágeis, inseguras, dominadas por populistas ou
ditadores incapazes de fazer autocrítica de seus erros.
Não é o caso do Brasil, que, como a
própria presidente destacou, goza de uma democracia onde funcionam com
liberdade os três poderes e todas as instituições.
Os cidadãos brasileiros e todos os que
têm ações da empresa, que perdeu 60% de seu valor, têm o direito,
portanto, em respeito à democracia que desfrutam, de conhecer quem são
esses inimigos de fora da Petrobras que os levaram a perder parte de
seu patrimônio.
INIMIGOS INTERNOS
Pelo que até agora estão descobrindo
tanto a Polícia Federal como os promotores e juízes federais por meio
dos interrogatórios e das delações premiadas, esses inimigos ficaram
aninhados durante anos dentro da empresa, foram escolhidos pelo
governo, às vezes para agradar aos partidos aliados, e eles mesmos
estão revelando que o demônio que tentou a Petrobras estava dentro,
muito dentro, e não fora.
Nenhum deles, nem sequer os empresários
opulentos que faziam seus cambalachos com a empresa para obter
benefícios –altos dirigentes que continuam na cadeia –, acusou nenhum
inimigo externo pelos males que prejudicaram a Petrobras e a levaram a
perder valor e prestígio.
Já que a presidente preferiu o silêncio
sobre esse enigma dos “inimigos externos”, cabe imaginar que poderia
referir-se, por exemplo, aos meios de comunicação que trouxeram a
públicos os escândalos hoje confirmados pelos juízes.
IMPRENSA LIVRE
A liberdade da mídia, porém, de trazer a
público os escândalos do poder não só não pode ser vista como
“inimiga” da Petrobras, mas, pelo contrário, como um estímulo a mais
para ajudar o governo a corrigir os graves casos de corrupção, cada vez
mais numerosos e graves.
Quantos desses escândalos teriam ficado
ocultos para sempre, impunes, sem a colaboração dos meios de
comunicação, cuja missão em uma democracia é a de ser uma das
instituições que vigiam o poder? A experiência nos ensina que poucos,
talvez nenhum, dos casos de corrupção denunciados pela imprensa
brasileira nos últimos 20 anos eram falsos.
Teríamos conhecido o escândalo do
mensalão sem a ajuda da imprensa? Ou o do metrô de São Paulo e, agora, o
da Petrobras, sem as revelações da mídia?
Outra hipótese é que Dilma poderia estar
se referindo à oposição, como se fosse ela que desejasse a
privatização da Petrobras, para tirá-la do controle público. No
entanto, a acusação da oposição foi que os governos do Partido dos
Trabalhadores (PT) já estavam “privatizando” a Petrobras ao terem-na
transformado em um tesouro político de família, para melhor poder
usá-la por razões pouco republicanas em vez de ser uma empresa a
serviço da nação.
INIMIGOS EXTERNOS?
Que países estariam, por exemplo,
interessados em atentar contra a Petrobras se muitas empresas deles
mesmos já trabalham ativamente com ela e, provavelmente, estão
surpresos e incrédulos vendo a petroleira agitando-se em um mar de
corrupção sem que nem sequer tenha sido substituída sua presidenta e
seus responsáveis mais imediatos?
Dilma deve aos cidadãos que lhe
depositaram sua confiança e aos que não o fizeram, já que todos são
brasileiros, uma explicação plausível sobre esses inimigos que seriam
responsáveis, do exterior, mais do que internamente pela catástrofe da
Petrobras.
A presidente, ao estrear em seu novo
mandato faria um grande bem à sociedade, e fora dela, se revelasse com
nome e sobrenome esses que, segundo ela, estariam, de fora da
Petrobras, tentando destruir a empresa da qual depende em boa parte a
recuperação de nossa economia ferida. Não teriam os brasileiros o
direito de saber?
(artigo enviado por Edson Elcelc)
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