terça-feira, 4 de novembro de 2014

MAÇONARIA: MODERNIDADE E FRATERNIDADE


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Escrito por Carlos Magno Adães de Araújo   
Qua, 22 de Outubro de 2014 17:00
O advento da Maçonaria especulativa no século XVII praticamente coincide com o início da Modernidade. Ironicamente, é no momento em que a razão começa a sobrepujar a fé como matriz de racionalidade dominante no mundo ocidental, que a Maçonaria, impregnada das heranças esotéricas e cristãs, ascende como instituição secular especulativa, a partir das corporações de ofício medievais que constituíam os pedreiros construtores de catedrais e outras grandes obras, que eram por isso livres, haja vista poderem se deslocar entre diferentes localidades, o que não era, na Europa, de forma alguma autorizado a todas as pessoas.
Apesar da ruptura representada pela quebra do paradigma vigente durante cerca de mil anos, a Arte Real conseguiu manter seus pressupostos – que incluem a inegável influência do cristianismo, apesar da tolerância aos egressos na Irmandade de outros credos – e chegou ao século XXI, por um lado renovada, como atestado nos diversos ritos praticados a partir de um rito precursor oriundo da Escócia e, por outro, imersa em desafios hercúleos para se manter e prosperar em um mundo globalizado11, no qual os valores ligados ao produtivismo, ao consumismo, ao individualismo e à efemeridade (representada, por exemplo, nos descartáveis), parecem eclipsar os valores de uma sociedade baseada na cooperação, na tolerância e na fraternidade.
Em meio a esse movimento dialético de transformação e manutenção das tradições, do risco de desaparecer12 ou se expandir – talvez com o auxílio mesmo das novas tecnologias, que poderão ser utilizadas na captação de novos membros – a Maçonaria resiste e se mantém como uma instituição fraterna, apesar dos novos tempos que se anunciam.
O objetivo desse artigo, de caráter introdutório, é discorrer sobre o surgimento da Maçonaria especulativa e seus pressupostos de Fraternidade no seio das mudanças introduzidas pela Modernidade, para podermos conjecturar sobre como a Ordem Maçônica conseguiu se adaptar e subsistir pelos séculos seguintes e, assim, talvez aproveitar os ensinamentos do passado para perpetuarmos a Ordem a partir do presente, que se nos apresenta repleto de interrogações quanto ao futuro da Arte Real.
A IDADE MODERNA E O SURGIMENTO DA MAÇONARIA ESPECULATIVA
O paradigma13 da Modernidade modelou o mundo ocidental e influenciou o resto do mundo. Seus valores e ideais diferem daqueles que vigoraram até a Idade Média. Esses valores estiveram relacionados com várias correntes da cultura ocidental, entre elas a Revolução Científica (séculos XVI e XVII), o Iluminismo (século XVIII) e a Revolução Industrial (segunda metade do século XVIII em diante). A crença no método científico é considerada a única abordagem válida do conhecimento (CAPRA, 2007). Assim, o saber aristotélico e medieval vai gradativamente sendo substituído por esse novo paradigma, que conduz a uma luta apaixonada contra todas as formas de dogmatismo e autoridade (SANTOS, 2008). Em outras palavras, a modernidade se opõe ao classicismo, ao apego aos valores tradicionais, identificando-se com o racionalismo, pregando a liberdade do indivíduo do obscurantismo e da ignorância, pela via da ciência e da cultura em geral (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006).
Historicamente, segundo Japiassú; Marcondes (2006, p. 191),
o desenvolvimento da economia mercantilista, o descobrimento do Novo Mundo e as Grandes Navegações, a reforma protestante, as novas teorias científicas no campo da física e da astronomia (Galileu e Copérnico), fatos que ocorrem em torno dos séculos XV a XVII, marcam uma nova visão de mundo que se contrapõe à visão medieval, caracterizando assim o surgimento do mundo moderno. “Moderno” identifica-se, nesse sentido, à ideia de progresso e de ruptura com o passado.
A transição da Idade Média para a Idade Moderna convencionalmente é datada do século XV, se entendendo até o século XVIII14. Esse período de três séculos desperta dúvidas nos historiadores quanto ao surgimento e a evolução do modo de produção capitalista em substituição ao feudalismo na Europa. Assim, é possível ler as marcas da evolução do capitalismo em alguns pontos do mundo ocidental, bem como é possível, em outros pontos, descortinar características eminentemente medievais. É nesse sentido que Le Goff (2013, 2012) fala em uma Longa Idade Média. De acordo com Gomes (2010, p. 50), “nos é permitido refletir sobre um modelo de modernidade dual, onde a continuidade é rompida pelo confronto recorrente do ‘novo’ e do ‘tradicional’, cada um marcado por uma atualidade que sempre se renova”. Cronologias à parte, o mundo moderno nasce da derrocada das cosmologias antigas, como as estoicas, contempladoras de um cosmos perfeito e imutável, e da contestação da legitimidade das autoridades religiosas. As obras de Nicolau Copérnico, Sobre a Revolução dos Orbes Celestes (1543), Galileu, Diálogos Sobre os Dois Principais Sistemas de Mundo (1632), René Descartes, Princípios de Filosofia (1644) e Isaac Newton, Principia Mathematica (1687), representam algumas das inquietações do período (FERRY, 2010, 2008). Foi a Revolução Científica, marca indelével do Renascimento. Conforme nos recorda Bynum (2013, p. 84),
“no século entre Copérnico e Galileu, a ciência virou o mundo de cabeça para baixo. A Terra não estava mais no centro do universo, enquanto novas descobertas em anatomia, fisiologia, química e física lembravam as pessoas de que, ao final das contas, os antigos não sabiam de tudo. Ainda havia muita coisa a ser descoberta”.
Se nos atentarmos, notaremos que esse período histórico, entre os séculos XVI e XVII coincide com o nascimento da Maçonaria especulativa na Grã-Bretanha, mais precisamente na Escócia, tema que abordaremos adiante. Ora, se a Modernidade se afirma como o domínio do fugidio, do efêmero, do fragmentário e do contingente, não respeitando seu próprio passado nem muito menos uma ordem pré-moderna (HARVEY, 2010), como teria a Maçonaria logrado êxito em se constituir e expandir-se com base nos “Antigos Costumes”? A resposta talvez resida na enorme capacidade que a Arte Real15 tem de assimilar diferentes influências. Nas palavras de Stevenson (2009, p. 23),
influências medievais, renascentistas e iluministas, haviam de fundido para criar uma instituição que parecia refletir o espírito progressivo da época, com ideais de irmandade, igualdade, tolerância e razão. No entanto, ainda que surgida e difundida como um movimento mundial, a Maçonaria se diversificava da forma mais espantosa. A Instituição parecia um Proteu, mudando de forma e conteúdo de acordo com as circunstâncias e filiação. Era capaz de proporcionar uma estrutura institucional para quase todas as religiões e crenças políticas. Podia ter compromisso católico (até ser proibida pelo papa) ou protestante. Podia fomentar conspirações de esquerda ou de direita.
Na Europa, o status quo era contestado, a ciência revelava um universo dinâmico, no qual um cosmos – no sentido etimológico do termo, significando ordem – desmoronava juntamente com a necessidade de um deus que confortasse as pessoas diante da inexorabilidade da morte. Apesar da ruptura que se anunciava, “a Maçonaria se espalhou pela Europa em meados do século XVII, de uma maneira assombrosa” (STEVENSON, 2009, p. 20). De 1717 a 1730, portanto já no século XVIII, o número de Lojas passou de quatro para mais de setenta (MACNULTY, 2012).
A imagem caricatural da Renascença como moderna e racional, que descarta o passado em prol de uma nova era, iluminada pelo conhecimento científico e livre de superstições, contrasta com os interesses existentes à época por temas como a alquimia e o ocultismo (STEVENSON, 2009). Obviamente, uma ciência positivista se engendrava, fazendo o universo esotérico se circunscrever nos séculos seguintes, mas sem jamais desaparecer. Prova disso é a Maçonaria subsistir em pleno século XXI16.
MacNulty (2008) observa que a própria Igreja Romana e os Médici na Itália apoiavam os estudos hermético/cabalísticos no século XVI, que inclusive se espalharam pela Alemanha, Países Baixos e Inglaterra. Esse apoio estava atrelado ao interesse da Igreja em provar que Jesus era o Messias com o uso de métodos cabalísticos. Entretanto, as igrejas protestantes, a Renascença italiana e sua filosofia mística levaram a Igreja de Roma a recrudescer e restabelecer a inquisição papal. No norte da Europa, onde a influência da Igreja Católica era menor, a exploração da tradição hermético/cabalística pôde ser explorada sem o perigo das perseguições. Nas colônias Inglesas, Lojas foram estabelecidas, influenciando enormemente a formação dos Estados Unidos. Durante a Era Napoleônica, maçons franceses criaram Lojas por todo o Mediterrâneo e também na África. Já no século XIX, Lojas sob a Constituição Inglesa e Holandesa foram estabelecidas em todo o mundo.
O Iluminismo foi, sem dúvida, a grande era da Maçonaria, pois foi a época em que esta se consolidou e se expandiu, todavia a Maçonaria é fruto da Renascença. Basta observar como soa paradoxal na Era das Luzes pensar na busca de elementos de mistério, ritual e segredo. O fato é que essa aparente contradição se materializou, pois que havia “o desejo de sociabilidade, em organizações e rituais de origem renascentista escocesa, combinado com a história da arte mítica medieval” (STEVENSON, 2009, p. 275).
Em uma obra seminal sobre as origens históricas da Maçonaria, Stevenson (2009) nos alerta sobre a frequente e equivocada associação que se faz entre a fundação da Grande Loja da Inglaterra17 (atual Grande Loja Unida da Inglaterra), em 1717, e a criação da Maçonaria moderna. Embora a Inglaterra tenha o mérito de ter organizado inicialmente um sistema de Grandes Lojas, as evidências históricas apontam a Escócia como o berço da Maçonaria tal qual a conhecemos hoje. Os primeiros maçons especulativos de que temos conhecimento comprovado foram Sir Robert Moray e Elias Ashmole, iniciados em 1641 e 1646, respectivamente. As Constituições da Maçonaria18, ou a Constituição da Grande Loja de Londres de 1723 – modificada em 1738 – compilada pelo reverendo James Anderson é reconhecida ainda hoje como legítima por todas as potências regulares. Ao lado dos Landmarks19, que são os marcos ou limites da Ordem, constitui o cerne para o funcionamento regular da Maçonaria.
Foi justamente no século XVIII que a ciência moderna, saída da Revolução Científica do século XVI, começou “a deixar os cálculos esotéricos de seus cultores para se transformar no fermento de uma transformação técnica e social sem precedentes na história da humanidade” (SANTOS, 2008). Ora, o século XVIII foi o século da Ilustração, mas também foi o século da Maçonaria, no sentido de que esta deitou raízes profundas no continente europeu, lançando as bases para sua expansão mundial.
MAÇONARIA E FRATERNIDADE
A etimologia da palavra fraternidade é latina, fraternitas; fraternitatis, e significa parentesco, união entre povos (REZENDE; BIANCHET, 2014). Segundo o dicionário Houaiss da língua portuguesa, fraternidade significa:
1. laço de parentesco entre irmãos, irmandade;
2. união, afeto de irmão para irmão;
3. amor ao próximo, fraternização;
4. a harmonia e união entre aqueles que vivem em proximidade ou que lutam pela mesma causa.
O mesmo sentido é encontrado em Borba (2011), Bueno (2007) e Fernandes (1990). As definições acima nos possibilitam a seguinte reflexão. Os maçons se chamam de irmãos, daí a Maçonaria ser uma irmandade. Na Ordem Maçônica lutamos pela mesma causa, qual seja nosso aperfeiçoamento moral, intelectual e espiritual, pré-requisitos para a realização de nossas obras de caridade e filantropia ou, dito de outro modo, a construção – somos pedreiros livres – de um mundo menos desigual, impossível de ser conquistado sem o amor ao próximo. Nessa empreitada, a harmonia e a união são imprescindíveis se quisermos avançar.
Existem muitas ordens esotéricas, como a Ordem dos Cavaleiros Woodcraft, fundada na Inglaterra em 1916, como alternativa aos escoteiros; a Ordem Rosa-Cruz da Fraternidade Crotona, também fundada na Inglaterra em 1911; a Ordo Templi Orientis, fundada em 1895 por dois maçons e considerada uma das maiores ordens mágicas hoje; dentre muitas outras. Conforme já salientamos, a Maçonaria não é propriamente uma ordem esotérica, mas é considerada a mais importante ordem fraternal ocidental (GREER, 2012). É importante insistir nesse ponto, já que muitos equívocos, fruto de lendas, boatos e até má fé, como no caso das ações deliberadas de Leo Taxil contra a Maçonaria no século XIX, ofuscam uma verdade maior, qual seja a da Maçonaria como uma instituição que, embora “velada em símbolos e alegorias”, tem como finalidade tornar melhores a humanidade e o mundo, através dos estudos e da prática do bem, entendido aqui não como mera filantropia, mas como a prática do amor e da solidariedade, enfim, da fraternidade.
A fraternidade é, indubitavelmente, um fator de crescimento e consolidação social da Maçonaria, uma vez que, se entendemos o termo como união entre irmãos, certamente a coesão necessária para o funcionamento justo e perfeito da Ordem será obtida. Todavia, embora não tenhamos dúvida do potencial fraterno de nossa Ordem, consideramos oportuno enfatizar que existem conflitos, que a Fraternidade é uma construção coletiva e, enquanto tal, os atores envolvidos no processo tem diferentes visões e interesses, fato que, longe de enfraquecer a Maçonaria, tem o potencial de fortalecê-la, pois a história mostra que é a partir dos momentos de crise que a humanidade avança. Vejamos as palavras do Maçom Jules Boucher (apud LIRA, 2012, p. 208): “Fraternidade? O Maçom sincero verifica aflito, que a fraternidade é discutível. Mas, o que dizer das rivalidades, das lutas sorrateiras alimentadas pelas Obediências!”
Sinal dos tempos! Embora concordemos com Lira (2012), que responde a Boucher com uma apologia à fraternidade maçônica, é justamente a situação descrita pelo Maçom francês que vivemos no Brasil atualmente. Não é objetivo desse texto realizar uma imersão nos assuntos referentes às querelas entre as Obediências, mas é oportuno citar o exemplo, já que estamos falando de Fraternidade. A questão que se coloca é, afinal, somos ou não fraternos? Esse humilde Obreiro não tem dúvidas que sim, a Fraternidade é, ela mesma, um dos pressupostos da Maçonaria especulativa. Se buscarmos as origens das guildas de construtores do Medievo, perceberemos facilmente que o ingresso de Maçons Livres e Aceitos só faz coro aos ideais de Fraternidade, haja vista estes não serem construtores operativos, dado que remete aos interesses recíprocos de união e, portanto, de Fraternidade.
Na Maçonaria, é caro o lema da Revolução Francesa de 1789, “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Algumas palavras sobre o tema nos ajudarão a desmistificar o senso comum. Não foi a Maçonaria que emprestou o lema à Revolução, mas o contrário, ou seja, a Maçonaria se apropriou do lema e fez dele uma de suas bandeiras. Nada mais justo, uma vez que a Ordem Maçônica tem esses pilares sustentando o Templo Interior de cada Maçom. Conforme Figueiredo (2013, p. 222), “maçonicamente, talvez fosse mais natural a inversão desse trinômio: Fraternidade, Igualdade, Liberdade, pois numa sociedade antes de tudo fraternal, todos os seus membros serão livres e iguais perante a lei”.
Camino (2010) evoca outras conotações maçônicas para o vocábulo Fraternidade. A Fraternidade maçônica abrange somente os membros da Loja. A Fraternidade Universal compreende todos os Maçons, inclusive aqueles que partiram para o Oriente Eterno e fazem parte agora da Loja Celestial. Para o autor, com quem concordamos nesse quesito, a Fraternidade é uma bases mais pujantes da Ordem Maçônica. Mas pensamos ser necessário pensar para além das Lojas e das relações entre os Maçons, pois a Maçonaria transcende nossos Templos. Esteve e ainda está presente na construção – mais uma vez recordo que somos construtores, pedreiros livres ou francomaçons – da história de países e nações, por isso a Fraternidade é uma palavra-chave, pois sintetiza a união necessária para a construção de um mundo no qual os ideais da Revolução Francesa, internalizados pela Maçonaria Universal, deixem de ser utopia e se concretizem efetivamente.
Segundo Aslan (2012, p. 518),
o maior objetivo da Maçonaria é alcançar a Fraternidade entre os homens, transformando a Humanidade em uma grande Fraternidade redentora em que todos os homens sejam livres e de bons costumes, sejam quais forem as diferenças de credo político ou religioso, de nacionalidade, raça, cor ou condição social.
Obviamente, o assunto não se esgota. A Maçonaria tem o mérito de ser uma Ordem Fraternal extremamente tolerante em relação às diferenças entre seus membros. Não fosse assim, provavelmente não teria sobrevivido durante séculos de transformações sociais, políticas e científicas que mudaram radicalmente nossa leitura do cosmos, da autoridade e da humanidade, com sua razão de ser e o porvir. A grande lição da Maçonaria é, na construção do arcabouço da Fraternidade, escorá-lo com conceitos como a tolerância e a igualdade, pois se nos víssemos como melhores ou piores, e não somente como diferentes, ou se considerássemos as especificidades de cada um no mundo profano, seria virtualmente impossível alcançar o equilíbrio necessário para nos chamarmos uns aos outros de irmãos, ou seja, de sermos fraternos. Mas a Maçonaria está na vanguarda e vai além. Nossa Fraternidade não se restringe ao âmbito de nossas reuniões e de nosso círculo, ela nos estimula a lapidar eternamente a pedra bruta que existe em cada um de nós e, assim, extravasarmos nossa egrégora para fora dos Templos e contribuirmos, pois, na construção do Templo Universal.
PARA NÃO CONCLUIR
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A epígrafe acima, que numa tradução livre pode ser lida como “Conhece-te a ti mesmo”, é o mote para não concluirmos essa breve conversa. A Maçonaria é tão fascinante que ficamos sempre com a sensação de que quanto mais nos aprofundamos em seus arcanos, mais precisamos estudar. Relacionar o advento da Modernidade com o surgimento da Maçonaria especulativa e um de seus pilares, a Fraternidade, é um exercício que julgamos relevante, no sentido de nos mostrar um viés da evolução da Ordem através dos séculos, apesar de todas as adversidades representadas pelo avanço da razão a partir do Renascimento, do Iluminismo e, posteriormente, da Revolução Industrial. Uma Ordem que mescla filosofia, mística esotérica e religião – embora não seja uma – tinha tudo para sucumbir diante do avanço implacável do racionalismo científico a partir do século Europa e no mundo quantitativamente, mas também e, sobretudo, qualitativamente, dado o grande número de ritos praticados atualmente.
A literatura historiográfica, ao tratar da Modernidade, geralmente deixa passar à margem o interesse pelo oculto que desde tempos imemoriais acompanha a humanidade. Por outro lado, textos escritos por Maçons nem sempre são confiáveis por não disporem de fontes também confiáveis. Assim, a Maçonaria, talvez nesse caso inadvertidamente, permaneceu obscura aos olhos dos estudiosos e, talvez, tenha com isso aumentado o véu de mistério que a acompanha desde seu surgimento na modalidade especulativa, na Escócia, embora estudar as corporações de ofício dos Maçons operativos da Idade Média não seja menos desafiador.
O dado concreto é que a Maçonaria sobreviveu às adversidades e chegou aos nossos dias, dialeticamente renovada e ameaçada. Agora, os desafios são outros. No mundo marcado por um meio geográfico técnico-científico-informacional, nas palavras do geógrafo Milton Santos, quais seriam os atrativos da Maçonaria para homens adultos renunciarem suas noites livres com outros afazeres, talvez mais prazerosos? Poderíamos, dialeticamente, inverter a pergunta e questionar sobre a necessidade de esteio em um mundo tão fluido onde a fugacidade se impõe. Quaisquer que sejam as indagações, algo é dado como certo: a Fraternidade que uniu os Maçons no passado e os une no presente, apesar dos problemas pontuais que todas as instituições enfrentam, porque lidam com seres humanos, dotados de livre arbítrio, é, certamente, um dos pressupostos basilares para a perpetuação da Ordem, prenhe da necessidade de renovação em seus quadros, uma vez que só é eterno aquilo que se renova... Mas afinal, esse é um assunto para outra peça de arquitetura.
Bibliografia
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Fonte: JB News


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