Escrito por Carlos Chagas |
Qui, 15 de Janeiro de 2015 07:58 |
Getúlio Vargas e Costa e Silva foram
ditadores, entre alguns outros. Chegaram ao poder pela força.
Governaram, em certos períodos, discricionariamente. Anularam os
poderes Legislativo e Judiciário, um por meio de decretos-leis e da
outorga de uma Constituição fascista, outro baixando o AI-5 e
seguintes. Não interromperam, e não há como supor que ignorassem, a
tortura praticada contra seus adversários. Ambos utilizaram o comunismo
como fantasma para justificar o arbítrio do poder público.
No
entanto… No entanto, os dois inscreveram seus nomes na galeria dos
presidentes da República empenhados no aprimoramento social e econômico
do país, sacrificando suas vidas nesse altar. Getúlio Vargas, com um
tiro no peito para enfrentar e vencer as forças reacionárias do capital
internacional e seus esbirros nacionais. Eles temiam que depois de
estabelecer leis sociais de extrema profundidade e de romper os laços do
subdesenvolvimento com a implantação da siderurgia e o estímulo à
produção industrial, no primeiro período, Getúlio seguisse adiante, no
segundo. Procuraram então imobilizá-lo para evitar que obtivesse sucesso
com a criação da Petrobras, da Vale do Rio Doce, do BNDE e da
Eletrobras. Mais ainda, queriam impedir que aprofundasse as
prerrogativas trabalhistas dobrando o valor do salário mínimo,
estabelecendo a participação dos empregados no lucro das empresas, o
voto do analfabeto, a desapropriação de terras improdutivas, o
décimo-terceiro salário e outras iniciativas. Foi trágica a reação do
velho presidente para não ser humilhado com a segunda deposição. Deixou
uma das mais contundentes denúncias da conspiração contra o Brasil: a
Carta-Testamento. Saiu da vida para entrar na História, respondendo com
sua vitória aos que o imaginavam derrotado. Ao ódio, retrucou com o
perdão. O país convulsionou-se, os trabalhadores foram para a rua,
arrependidos de não o haver respaldado enquanto vivia e resistia.
De Costa e Silva será bom não esquecer a
Transamazônica, a ponte Rio-Niterói, o financiamento dos metrôs do Rio
e de São Paulo. Prestigiou a indústria nacional e interrompeu a
política de desnacionalização imposta pelo antecessor. Dedicou-se à
recuperação da malha rodoviária, à estabilidade econômica e à
interrupção da política ditada pelos Estados Unidos, com a recusa do
envio de tropas brasileiras para o Vietnã. Transformou o sistema de
ensino público e incentivou a pesquisa científica.
No final de sua vida, também trágico,
insurgiu-se contra os radicais que o haviam levado a assinar o AI-5,
decidindo acabar com a exceção e o arbítrio. Morreu nessa tentativa,
resistindo aos generais que em seguida implantaram a mais cruel das
ditaduras daquele ciclo. Semanas após o derrame cerebral que o
acometeu, já lúcido, mas sem voz e com poucos movimentos, ouviu de um
auxiliar a pergunta sobre o que pretendia quando, antes de a crise se
consumar, pediu papel e caneta, tentando assinar o nome, sem conseguir.
Por gestos, negou fosse para pagar mais uma prestação do apartamento
que estava comprando. Também negou que era para apostar nas corridas de
cavalo, que apreciava. A pergunta veio certeira: “queria assinar o fim
do AI-5 e a reabertura do Congresso, prevista para dali a uma semana?”
Confirmou a intenção e entrou em pranto convulsivo. Morreu pouco
depois.
MOCINHOS E BANDIDOS
Já se escreveu não estar o mundo
dividido entre mocinhos e bandidos. Todos temos características de uns e
de outros, com exceção do papa Francisco. O tempo passa e a poeira vai
assentando.
Todo esse longo preâmbulo se faz a
propósito de duas aberrações, separadas por mais de cinquenta anos. Nas
horas que antecederam a morte de Getúlio Vargas, seus adversários
davam-no como desmoralizado e já deposto. Assim, no Rio, grupos de
alienados pintaram cartazes de papelão onde se lia “Avenida Castro
Alves”, que colaram sobre as placas da Avenida Presidente Vargas.
Pois agora um energúmeno prefeito de
Taquari, terra natal de Costa e Silva, mandou retirar a estátua em sua
homenagem, numa das praças locais. Tomara que a reponham logo, assim
como foram arrancados os cartazes que pretendiam mudar o nome da
Avenida Presidente Vargas. Até porque, se a moda pegar, não podemos
imaginar o que farão com as estátuas do Lula e de Dilma, daqui a
cinquenta anos…
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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
AS ESTÁTUAS DE LULA E DILMA, DAQUI A 50 ANOS
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