terça-feira, 27 de janeiro de 2015

BTG VIROU ALVO DA LAVA JATO POR COMPRA DE ATIVOS DA PETROBRAS NA ÁFRICA


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Escrito por Leonardo Souza   
Qui, 15 de Janeiro de 2015 07:58
Em 2013, o BTG comprou 50% dos ativos da Petrobras na África, por US$ 1,5 bilhão. Conforme a Folha publicou no ano passado, a transação se mostrou um ótimo negócio para o banco.
Oito meses depois, a Petrobras Oil & Gas, que controla as operações da estatal naquele continente, pagou dividendos, pela primeira vez em sua história, no valor de US$ 300 milhões. Em menos de um ano, o BTG obteve um retorno de 10% sobre o investimento.
A venda para o BTG começou a ser desenhada e se concretizou na gestão da atual presidente da estatal, Graça Foster, que assumiu a companhia no início de 2012.
Até então, a área internacional da Petrobras era dirigida por Jorge Zelada, afilhado do PMDB. Logo após assumir a presidência da estatal, Graça tirou Zelada, e ela própria passou a acumular os negócios na área internacional, como a venda dos ativos na África.
MENOS DA METADE
A equipe de Zelada já estudava se desfazer de parte dos poços no continente africano. Os técnicos chegaram a realizar uma avaliação pela qual seria possível captar US$ 3,5 bilhões com a venda de apenas 25% dos ativos. Em 2013, o BTG comprou 50% dos ativos por US$ 1,5 bilhão. Ou seja, levou o dobro pagando menos da metade.
Essa transação entrou no radar dos investigadores da Lava Jato. Como a Petrobras é controlada pelo governo, a Controladoria Geral da União também tem o dever de apurar se o patrimônio público foi lesado de alguma forma nessa operação.
Ainda como ministro da CGU, Jorge Hage confirmou à coluna, no final do mês passado, que a controladoria recebeu material dos investigadores da Lava Jato e que também já abriu sua própria investigação.
“Embora o trabalho esteja num estágio mais inicial do que esses últimos que temos divulgado, tem esse da África. Está num estado mais inicial [do que as demais frentes relacionadas à Petrobras] porque não temos condição de fazer tudo ao mesmo tempo”, disse Hage.
SUSPEITAS REFORÇADAS
As suspeitas de que a transação beneficiou o BTG foram reforçadas no início do ano passado. Um funcionário de carreira com mais de 30 anos na Petrobras passou a colaborar com os investigadores da Lava Jato. Sem ter seu nome identificado até aqui nos inquéritos policiais, ele colocou em dúvida a idoneidade de dois funcionários destacados por Graça Foster para tocar a venda dos ativos na África.
Num depoimento prestado à Polícia Federal no Rio de Janeiro, em abril do ano passado, o informante afirmou que o negócio foi ruim para a Petrobras. Conforme revelou a Folha no ano passado, Ele disse que o valor real do quinhão abocanhado pelo BTG seria de US$ 3,5 bilhões, do mesmo modo que apontavam as avaliações até 2012.
De abril do ano passado para cá, os investigadores reuniram mais elementos sobre a venda de ativos da Petrobras na África. Foi esse o material encaminhado para a CGU.
Se a CGU ainda está no começo, não se sabe aonde a PF já chegou até aqui. E essa não é a única preocupação de André Esteves, do BTG, com os desdobramentos da Lava Jato.
INVESTINDO EM TUDO…
O banco BTG Pactual se notabilizou nos últimos anos por uma estratégia agressiva de crescimento. Além de fazer um bom caixa com operações de tesouraria no mercado financeiro, o banco investiu mais de R$ 30 bilhões em setores tão díspares quanto farmácias e exploração de petróleo. Parte desse investimento foi feito com capital do próprio banco, e outra parte, com recursos de clientes.
Muitos de seus negócios foram impulsionados com dinheiro dos fundos de pensão de companhias estatais, entre os quais a Petros, dos funcionários da Petrobras. BTG, Petros e outros fundos de pensão uniram seus recursos, por exemplo, na Sete Brasil, que fornece sondas de perfuração para a Petrobras.
O BTG é o maior acionista individual da Sete Brasil. Entre 2011 e 2013, Pedro Barusco foi o diretor de Operações da Sete Brasil. Até 2010, Barusco era gerente-executivo da Diretoria de Serviços da Petrobras, comandada por Renato Duque, preso na Operação Lava Jato. Para não ser preso, Barusco fechou acordo de delação premiada e prestou depoimento à Polícia Federal. Confessou que, juntamente com Duque, participava de um esquema para favorecer um cartel de empreiteiras que recorrentemente fraudavam licitações da Petrobras.
Admitiu ter recebido propina relacionada a mais de 60 contratos. Prontificou-se a devolver aos cofres públicos US$ 97 milhões do dinheiro sujo que embolsou. Barusco citou nominalmente diversas empreiteiras que faziam parte do esquema. Será que ele tem algo a dizer também sobre a relação da Sete Brasil com a Petrobras? A Sete Brasil é a maior fornecedora de sondas de perfuração da Petrobras para os campos do pré-sal.
Procurado pela coluna, o BTG informou por meio de sua assessoria que não se manifestaria sobre o assunto.

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