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Escrito por Editorial do Estadão |
Ter, 03 de Fevereiro de 2015 07:14 |
O governo do PT, principal responsável
pelo escândalo da Petrobrás, está preocupado em minimizar as
consequências com as quais poderá vir a arcar quando toda a verdade
vier à luz, e se articula para armar um esquema que lhe permita, pelo
menos, salvar os dedos ao custo menor de entregar os anéis.
Este é o sentido da ordem do Palácio do
Planalto, de preservar as empreiteiras envolvidas na lambança, e que
imediatamente foi passada adiante por dois porta-vozes da presidente
Dilma Rousseff, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o
advogado-geral da União, Luis Inácio Adams.
Declarou o primeiro: “Do ponto de vista
das empresas, me parece que há um desejo claro, que não afasta as
punições de quem deva ser punido, de que nós não criemos situações que
atrapalhem a vida econômica dos brasileiros”.
As palavras do ministro fazem eco à
posição firmada por Dilma Rousseff em seu discurso na abertura da
reunião ministerial dias atrás: “Nós devemos punir as pessoas e não
destruir as empresas. As empresas, elas são essenciais para o Brasil.
Nós temos que saber punir o crime, nós temos que saber fazer isso sem
prejudicar a economia e o emprego do País. Nós temos de fechar as
portas para a corrupção. Nós não podemos, de maneira alguma, fechar as
portas para o crescimento, o progresso e o emprego”.
TRANSGRESSÕES LEGAIS
O bom senso não recomenda “destruir” empresas, mas a lei prevê, sim, punição para as que cometem transgressões legais.
Até porque empresas não são abstrações
intangíveis, mas as pessoas físicas, empresários e executivos, que as
possuem e dirigem. E como não dá para colocar na cadeia empresas que
agem contra a lei, como se faz com seus dirigentes, a lei prevê que,
entre outras punições, a elas sejam impostas pesadas multas e
compensações que objetivam impedi-las de continuar se beneficiando de
recursos comprovadamente obtidos de modo ilícito.
Assim, ao tentar blindar contra punições
as empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, Dilma Rousseff
arrisca-se, mais uma vez, a incorrer em crime de responsabilidade, por
ignorar, entre outras, a Lei Anticorrupção – que atende aos
compromissos assumidos pelo Brasil em tratados internacionais -, cuja
entrada em vigor no dia 29 de janeiro de 2014 ela comemorou em clima de
pré-campanha eleitoral, mas que agora quer transformar em letra morta.
A VÍTIMA É O CIDADÃO
O chamado petrolão é uma armação
criminosa que só tem uma vítima, o cidadão brasileiro, e muitos
culpados: os agentes políticos a serviço do governo do PT e de seus
aliados; os operadores de dentro e de fora da Petrobrás e as
empreiteiras que se uniram em cartel com o propósito de garantir uma
distribuição “justa”, entre elas, dos contratos com a petroleira. São
todos cúmplices.
É impossível de imaginar que todos saiam
ilesos dos vários processos judiciais que brevemente começarão a ser
instaurados como decorrência das investigações da Lava Jato.
Mas do ponto de vista estratégico está
claro que interessa ao governo do PT preservar as empreiteiras, para o
que lança mão de um argumento que é mera cortina de fumaça: a defesa do
“emprego” e da “vida econômica”.
PARCERIA ÚTIL
E por quê? Pela razão óbvia de que
manter as empreiteiras intocadas significa preservar uma parceria que
tem sido extremamente útil a petistas e associados.
Além disso, essa é uma maneira de
conquistar a boa vontade e arrefecer o ímpeto acusatório dos
empreiteiros, principalmente os que estão na cadeia e que, de qualquer
modo, continuarão mandando em suas empresas. Esses empresários tentam
articular suas defesas em torno do argumento de que são vítimas de uma
chantagem que, em última análise, acabaria sendo imputada ao próprio
governo.
Assim, o escândalo da Petrobrás está,
entre outros efeitos, operando o milagre de transformar o governo do
PT, e Dilma em particular, em defensores de empresas à beira de serem
declaradas inidôneas. Logo Dilma, que jamais disfarçou sua visceral
desconfiança da iniciativa privada.
Das duas, uma: está sendo preparada uma
grande pizza que manterá o Planalto longe do escândalo ou a presidente
da República, tentando preservar as empreiteiras para, alegadamente,
garantir empregos e a saúde da economia, transformou-se em refém da
corrupção. Mas também pode ser que, das duas, duas.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG - O editorial nos foi enviado pelo comentarista Celso Serra. Na sexta-feira de manhã, com absoluta exclusividade, publicamos na Tribuna da Internet artigo denunciando que a presidente da República estava defendendo o descumprimento da Lei Anticorrupção. No dia seguinte, o Estadão seguiu o mesmo caminho, repetindo inclusive o trecho da fala de Dilma que destacamos. Nada mal. E la nave va… (C.N) |
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