segunda-feira, 1 de setembro de 2014

AUTO-DE-FÉ

 

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Escrito por João Ivo Girardi   
Ter, 26 de Agosto de 2014 17:00
1. Auto-de-Fé: do latim actus, fazer e de fides, fé. O ato de pedir perdão ficou conhecido como o Auto-de-fé. Os autos-de-fé consistiam em cerimônias mais ou menos públicas onde eram lidas e executadas as sentenças do Tribunal do Santo Ofício. Foi criado pela Inqusição no séculoXVI. Inicialmente havia dois tipos de autos-de-fé:
1º) Os autos-de-fé que se realizavam no interior do Palácio da Inquisição ou num Convento, destinados exclusivamente aos reconciliados (aqueles que eram readmitidos no seio da Igreja e condenados a penas que iam desde penitências espirituais até à prisão e ao desterro;
2º) Os autos-de-fé que se realizavam na praça pública onde eram condenados não apenas os reconciliados mas também os relaxados (aqueles que eram entregues à Justiça secular para execução da pena de morte). Com o passar do tempo, os autos-de-fé passaram a constituir um grandioso espetáculo, realizado com grande pompa e segundo um cerimonial rigorosamente estabelecido, que incluia a celebração de missa solene. Assistiam a estas cerimônias não apenas as autoridades religiosas e civis (muitas vezes o próprio rei estava presente), mas toda a população da cidade que gritava em júbilo enquanto os condenados eram queimados vivos.
2. Cerimonial: O Auto-de-fé era a cerimônia em que os réus eram obrigados a participar, antes de sua condenação. Era iniciado com um sermão e, logo depois, os réus tinham que pedir perdão por seus crimes sem direito à defesa. Em seguida, caminhavam em direção a um pátio, ladeados por expectadores de todas as partes do reino. Primeiro iam os réus que se salvaram da fogueira. Em suas roupas havia a pintura de uma chama de cabeça para baixo. Depois iam os réus condenados à fogueira. A pintura era de uma chama de ponta para cima (ilustrando o que lhes esperava). Por último iam os ditos hereges, réus que não aceitaram a salvação de suas almas ou que, por conta da gravidade de seus crimes, não receberam o perdão. Em suas vestes havia ilustrações de chamas, cobras e demônios. A cerimônia se encerrava nas chamas da fogueira. Os expectadores, em sua maioria, vibravam.
3. Primeiro Auto-de-Fé: Espanha e Portugal lideraram os tristes recordes dessas punições, realizando fogueiras em cidades como Lisboa, Évora, Madri, Toledo e Valença, entre outras. O primeiro Auto-de-Fé ocorreu em Sevilha, durante o ano de 1481, com a execução de seis homens e mulheres. A Inquisição teve um pouco menos de poder em Portugal, tendo sido estabelecida em 1536 e durado oficialmente até 1821, se bem que tenha sido muito debilitada com o regime do Marquês de Pombal na segunda metade do século XVIII. O primeiro auto-de-fé em Portugal foi realizado a 20 de Setembro de 1540 em Lisboa. O último Auto-de-Fé em Portugal ocorreu no dia 7 de Agosto de 1794, contrariando as tradicionais sentenças de centenas de inocentes, sendo apenas condenado a prisão um homem que teria insultado a Igreja.
4. Um brasileiro na fogueira: Antonio José da Silva, de cognome o judeu, nasceu no Rio de Janeiro. Batizado, mas de origem judaica, foi vítima da perseguição que dizimou a comunidade dos cristãos-novos do Rio de Janeiro em 1712. Em 1737, Antonio foi preso pela Inquisição, juntamente com a mãe e a esposa (Leonor de Carvalho, com quem casara em 1728, que era sua prima e também judia). A mãe e a mulher seriam libertadas posteriormente. Antonio José da Silva foi torturado. Descobriram que era circuncisado. Uma escrava negra testemunhou que ele observava o Sabá. O processo decorreu com notória má-fé por parte do tribunal e Antonio José da Silva foi condenado, apesar de a leitura da sentença deixar transparecer que ele não seria, de fato, judaizante. Como era regra com os prisioneiros que, condenados, afirmavam desejar morrer na fé católica, Antonio José da Silva foi garroteado antes de ser queimado num Auto-de-Fé em Lisboa em Outubro de 1739. Sua mulher, que assistiu à sua morte, morreria pouco depois. A sua vida é retratada no filme luso-brasileiro O Judeu (1995).
5. Posição da Igreja atual: A Inquisição foi extinta gradualmente ao longo do século XVIII. No ano de 2000, o papa João Paulo II, líder máximo da Igreja na época, pediu perdão por vários crimes cometidos pela instituição, inclusive a Santa Inquisição. A Congregação para a Doutrina da Fé é a herdeira do Santo Ofício.
6. Na ficção: No livro Memorial do Convento de José Saramago, cuja ação decorre no século XVIII, durante o reinado de D. João V, a personagem Blimunda conhece Baltasar no Rossio, enquanto a sua mãe é julgada num auto-de-fé, onde é açoitada e degradada.
Na obra Cândido, de Voltaire, o auto-de-fé também está presente. Cândido e Pangloss são condenados a um auto-de-fé quando desembarcam em Lisboa, logo após o terremoto.
Maçonaria
1. Maçons na Fogueira: No livro: Arquivos Secretos do Vaticano e a Franco-Maçonaria, José Ferrer Benimelli cita vários casos de maçons portugueses, mesmo sendo católicos, acusados de participarem de uma sociedade secreta foram obrigados a assistir um auto-de-fé público nas formas habituais, para aí ouvir a sua falta. Eles deveriam fazer a abjuração e receber a absolvição, in forma Ecclesiae, da excomunhão máxima em que haviam incorrido, segundo os termos da constituição In Eminenti. Muitos sofreram penas de prisão e outros penas penitenciais. Continua Benimelli... existem, no entanto, autores que afirmam que em 1º de junho de 1743 foram executados alguns Irmãos maçons portugueses e, em 24 de junho de 1744, dois outros foram queimados pelo crime de terem entrado na Franco-Maçonaria.
2. Altos Graus: Nos Altos Graus do Escocesismo, os Cavaleiros Kadosh queixam-se da situação da Ordem dos Templários e do assassinato de Jacques de Molay, sendo então admitidos no recinto do Tribunal da Santa Veheme. Segue-se um diálogo sobre o tema crimes judiciários, sendo mencionados inúmeros personagens no decorrer da conversação, dentre eles: Comendadores D`Aumont e Harris, Alberden, Walter de Clifton, Roberto Bruce, Larminius, Clemente V, Joana D`Arc, João Huss, Savonarolla, Giordano Bruno, Vanine, Etiene Bolet, Calas, La Barre, Carlos Magno, Oton, Frederico II, Henrique IV, Gregório VII e outros. Falam-se ainda nos Tribunais Malditos - a Santa Inquisição, o Tribunal de Sangue da Holanda, a Câmara Estrelada da Inglaterra e os Tribunais Revolucionários da França. É ressaltada a injustiça dos crimes judiciários, como os crimes contra a liberdade de consciência, de pensamento e crimes políticos, deixando-se claro que a história apenas registrou os casos mais retumbantes, mas que, sem dúvida, os casos anônimos foram inúmeros. Há, no final do diálogo, consideração elogiosa à justiça praticada pelo Tribunal da Santa Vehme.
6. Simbolismo: (...) Porque a Maçonaria combate o Fanatismo? Combatemos o fanatismo, porque a exaltação religiosa perverte a razão e conduz os insensatos a, em nome de Deus e para honrá-Lo, praticarem ações condenáveis. É uma moléstia mental, desgraçadamente contagiosa, que, implantada em um país, toma foros de Princípio, sob cujo nome e nos execráveis ’autos-de-fé’ fizerem perecer milhares de indivíduos úteis à Sociedade. A superstição é um falso culto, repleto de mentiras, contrárioà razão e às sãs ideias que se deve fazer de Deus; é a religião dos ignorantes, das almas timoratas. Fanatismo e Superstição são os maiores inimigos da religião e da felicidade dos povos. (Ritual de Aprendiz-GLSC-REAA).
O herético não é aquele que é queimado na fogueira, mas sim aquele que acende a fogueira. (Shakespeare).

Fonte: JB News

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