sexta-feira, 5 de setembro de 2014

UM GOLPE DE MORTE NA CANDIDATURA DILMA ?


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Escrito por Alex Antunes   
Seg, 18 de Agosto de 2014 09:00
O trágico acidente de Eduardo Campos reembaralhou as cartas da disputa eleitoral. Mas, paradoxalmente, potencializou sua chapa, de uma forma que acordos políticos em vida jamais conseguiriam fazer.
Também acho, como o próprio Eduardo achou, que a entrevista ao Jornal Nacional na terça-feira era o start de uma campanha eleitoral de sucesso. Até onde chegaria, jamais saberemos. Mas o fato é que os (fortes) componentes da sua candidatura – incluindo sua habilidade de conversar tanto com “as ruas” quanto com caciques da economia, e o cacife eleitoral e de credibilidade social trazido por sua vice, Marina Silva – andavam esbarrando em dois obstáculos.
De um lado, a dificuldade, mesmo com o cansaço absoluto do país com o chamado fla-flu, em romper a captura política pela ordem dicotômica do embate entre PT e PSDB. De outro, os choques entre o pragmatismo do PSB (na verdade um saco de gatos, unificado pelo carisma de Eduardo) e o principismo “ranzinza” de Marina.
ACORDOS LOCAIS
Dá para entender porque Marina torpedeou, sem sucesso, acordos locais como os do PSB em São Paulo (com Alckmin, do PSDB) e no Rio (com Lindbergh, do PT). Mas também dá para entender porque o PSB considerava que a pretensão de purismo das estratégias marinistas não agregava ao partido.
Para chegar a vice de Eduardo, Marina passou antes por um erro político grave – e por um acerto surpreendente, naquele que seria seu momento mais baixo: a recusa da justiça eleitoral em registrar seu partido, a Rede, em outubro de 2013. O erro foi não surfar nas manifestações de 2013. Se Marina desse uma única entrevista, como evangélica, no auge da crise da indicação do pastor Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmera dos Deputados, defendendo com clareza o estado laico, se projetaria como a liderança nova que ela pretende ser. Marina seria heroína nas manifestações de junho.
A campanha de coleta de assinaturas pelo registro da Rede seria turbinada, e hoje Marina seria candidata por seu próprio partido. Marina fez o contrário – ficou muda e, quando falou, foi para dizer que Feliciano sofria preconceito como evangélico. Totalmente na contramão das ruas, que pretendia representar.
ACERTO NA ADESÃO
O acerto, bombástico, foi quando Marina ousou propor sua adesão à chapa de Eduardo. Apesar de ter causado estranheza política, o ato tinha um significado simples: investir o cacife eleitoral de Marina (quase 20% nas eleições presidenciais de 2010) em impactar em cheio a eleição seguinte. Marina ingressou no PSB, deixando avisado que seu objetivo final ainda era registrar a Rede.
Para quem o resgate da esquerda passa pela derrota do PT, faz todo sentido. E Eduardo parece ter compreendido isso, para além da oportunidade eleitoral de transferir para si tais votos. A emocional manifestação de Marina após a morte de Eduardo também parece carregada de sentimento real de perda, para além do choque do acidente. A união entre Eduardo e Marina se deu de fato.
A questão de quem encabeçaria a chapa não era apenas simplesmente a de quem tinha mais votos à partida – aí seria Marina. Mas Marina tem também uma taxa alta de rejeição. Colocar Eduardo à cabeça da chapa tinha a correção de “lavar” essa rejeição, transferindo a ele apenas a parte boa, os votos da acreana (e de resto esse era o único acordo possível sob o manto do PSB).
PASSE DE MÁGICA
Acontece que a morte trágica de Eduardo resolve tudo isso como que num passe de mágica – se as partes envolvidas tiverem o bom senso de não perder o momento mágico, sensível e empático (tragédia também é magia).
Marina tem a motivação para abandonar um pouco a rigidez política (em parte já abandonou, tendo que lidar com os acordos de São Paulo e Rio, mesmo reclamando em público). É verdade que o PSB não fica numa posição confortável – tendo perdido o líder que lhe dava unidade, tem que comprar um outro, exterior, maior que o PSB e até então hostil às conveniências do partido.
Na coalizão, a tese de Marina à cabeça começou a ganhar corpo na quinta-feira. Já haviam se manifestado favoravelmente a Marina líderes de cinco dos seis partidos, PHS, PRP, PPL e PSL. A principal questão é: quem será o vice. Alguém do PSB, que compense a perda da cabeça de chapa? Até alguém da própria família Campos já foi cogitado.
Mas o que isso tem a ver com Dilma e o PT? Na eleição de 2010, Dilma já passou pela “prova Marina”. E teve que crescer politicamente, ganhar substância durante a campanha como mais do que uma invenção de Lula. Foi bem sucedida – mas não. Durante o mandato, demonstrou, principalmente em relação ao governo Lula (um exemplo de “governo mágico”), uma grande falta de habilidade, de carisma, de sensibilidade social e de intuição política.
SEM FAZER SOMBRA
A “invenção” de Dilma por Lula, pinçando um membro de sua equipe sem a menor densidade política, deixou claro que Lula não admite quem tenha personalidade, e que pudesse lhe fazer sombra um dia, como Eduardo ou a própria Marina. Foi Lula que afastou os dois, de si mesmo e do PT.
Acontece que a morte de Eduardo joga no colo de Marina, que é uma petista clássica, um mártir grátis. Um segundo cristo. Separa o cristo militante do cristo martirizado – é como se o mito do Eduardo sacrificado em sua luta por um país melhor liberasse as energias de Marina para um combate mais objetivo. É uma troca de papéis entre Eduardo e Marina, e uma memética poderosa – se não for desperdiçada.
O “supremo roteirista” forçou a mão. A desaparição absurda e atordoante de Eduardo Campos paradoxamente pode liberar, coesionar e turbinar sua coalizão. E significar um golpe de (da) morte na candidatura Dilma.
Fonte: Tribuna da Internet



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