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Escrito por Rolf Kuntz |
Seg, 04 de Agosto de 2014 14:00 |
A presidente Dilma Rousseff é uma
batalhadora. Essa virtude ninguém pode negar. Ela briga com as palavras,
a lógica, os fatos, os números, a teoria econômica e os princípios mais
simples da administração. Não é uma vida fácil, até porque os números
têm o hábito lamentável de atacar traiçoeiramente. Enquanto ela pregava
otimismo aos empresários, na quarta-feira à tarde, o Tesouro Nacional
divulgava as contas do governo central, com mais um déficit primário -
de R$ 1,95 bilhão em junho - e mais uma coleção de cifras assustadoras.
No dia seguinte o Banco Central (BC) mostrou um quadro ainda mais feio,
ao publicar as contas consolidadas do setor público. Segundo seu
critério, o mês de junho havia terminado com um buraco de R$ 2,7 bilhões
na administração central e de R$ 2,1 bilhões no conjunto, com
desempenho pouco melhor dos governos regionais e das empresas
controladas.
Na sexta-feira, novo ataque dos números mostrou mais um tombo da
produção industrial: o volume foi 1,4% inferior ao de maio e 6,9% menor
que o de junho do ano passado.
No mesmo dia, à tarde, as cifras do
comércio exterior pareceram trazer alguma ajuda: as contas de julho
foram fechadas com superávit de US$ 1,57 bilhão. Mas pouco mais de
metade desse valor, US$ 866 milhões, foi garantido pela exportação
fictícia de uma plataforma de exploração de petróleo. Além disso, no
acumulado do ano restou um déficit de US$ 916 milhões. Sem aquela
operação - legal, mas fictícia, porque a plataforma continua no País - o
déficit de janeiro a julho ainda seria US$ 1,78 bilhão.
Mas a presidente, auxiliada pelo
ministro da Fazenda, Guido Mantega, continua cobrando otimismo de todos,
como se isso garantisse um desempenho melhor da economia brasileira. Os
dois atribuem os problemas - pequenos, naturalmente - ao pessimismo
espalhado pelos mercados e às condições da economia internacional. Na
Confederação Nacional da Indústria (CNI), na quarta-feira, a presidente
chegou a falar em protecionismo no mundo rico para explicar o
enfraquecimento das exportações. Em relação ao comércio exterior e à
competitividade, os números e dados conhecidos também têm sido adversos
às teses presidenciais.
A presidente Dilma Rousseff e seu
ministro da Fazenda têm aplicado à economia uma criativa mistura de
ideias. As teses de Norman Vincent Peale, autor do best-seller O Poder do Pensamento Positivo,
aparecem mescladas com crenças primitivas em faculdades mágicas da
mente. Além de injusta em relação ao pastor Peale, essa mistura passa
longe de qualquer ideia econômica sobre a importância das expectativas.
Decisões sobre consumo, produção e investimento são realmente afetadas
por expectativas, e isso os economistas sabem há muito tempo. Mas os
fatos são muito mais complexos e, quando se trata de explicar o
desempenho de uma economia, é sempre bom levar em conta a qualidade da
política. Expectativas podem ser importantes, mas a competência de quem
conduz a política também pesa.
De janeiro a junho deste ano a produção
industrial foi 2,6% menor que a do primeiro semestre do ano passado. Em
2013 o produto industrial aumentou 2%, mas havia diminuído 2,3% em 2012.
Nem retornou, portanto, ao nível de 2011, quando o pífio crescimento
havia ficado em 0,4%. Desde o primeiro ano do governo Rousseff, qualquer
iniciativa rotulada como política industrial fracassou, portanto, de
forma indisfarçável.
Atribuir esse resultado ao pessimismo
generalizado seria um exagero, até porque os consumidores demonstraram
boa disposição e considerável otimismo durante boa parte desse período.
Talvez seja o caso, diante desses dados, de abandonar a conversa sobre
expectativas pessimistas e explicar o fiasco da política pelo
mau-olhado. Por que não, se o poder mágico da mente é tão relevante? A
culpa deve ser de oposicionistas, de neoliberais invejosos e, de modo
geral, de pessoas sem patriotismo. Afinal, o crítico do governo, segundo
o discurso oficial, sempre torce pelo pior e é inimigo da Pátria.
Mas as falas da presidente e do ministro
revelam algo mais que a crença nos poderes mágicos do pensamento,
positivo ou negativo Denunciam também uma concepção muito especial da
expectativa. Uma estranha noção está implícita nessa conversa: as
pessoas podem ser pessimistas ou otimistas em relação aos fatos ou dados
conhecidos. Se são conhecidos, no entanto, como falar de pessimismo ou
otimismo? Um fato é claro: o mau humor de empresários e analistas está
associado em primeiro lugar a informações amplamente difundidas, como a
persistência de pressões inflacionárias, o emperramento da indústria, a
piora das contas públicas e as más condições do comércio exterior.
Informações mais detalhadas podem tornar
pior esse humor. Exemplo: de janeiro a junho deste ano, a produção de
bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos, foi 8,3% menor que a
do primeiro semestre do ano passado. Em 2012 e 2013 essa produção ficou
estagnada. Além disso, entre janeiro e julho o valor gasto com a
importação de bens de capital foi 6% menor que o dos mesmos meses de
2013. Conclusão inescapável: os brasileiros estão investindo menos na
ampliação e na modernização da capacidade produtiva. Como o crescimento
da economia depende do investimento, exceto quando há grande capacidade
ociosa, o potencial de expansão do Brasil continua comprometido. É uma
relação elementar. Não é questão de pessimismo. Embora seja difícil
calcular aquele potencial, respeitáveis economistas concordam pelo menos
quanto a um ponto: sem investir muito mais o Brasil pouco poderá
crescer nos próximos anos.
As autoridades às vezes parecem admitir
esse raciocínio. Mas continuam falando como se os fatos conhecidos
fossem positivos e as más expectativas, infundadas, George Orwell chamou
de "duplipensar" a sustentação de ideias incompatíveis. Em alguns
casos, talvez fosse mais adequada outra palavra: "semipensar".
*Jornalista
Fonte: Veja.com
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