segunda-feira, 31 de março de 2014

A MAÇONARIA OPERATIVA FINDOU EM 1717, OFICIALMENTE


“Deixemos de lado as brilhantes, porém mentirosas origens da nossa Instituição, quer egípcias, quer judaicas, quer de quaisquer outras procedências igualmente inverídicas. A Maçonaria é um produto genuinamente inglês e medieval, operário na origem e não iniciático ou religioso. Neste terreno, como já dissemos, todos os historiadores da atualidade concordam de maneira ampla, plena e uníssona.


Pretender ainda discutir esta verdade mil vezes demonstrada, é revelar simplesmente total desconhecimento das conquistas da História relativamente à Maçonaria.”
(Pág.28, do livro “A Maçonaria Operativa” de Nicola Aslan)

INTRODUÇÃO
Não iremos viajar aqui pelas dezenas de teorias, lendas e invenções sobre as origens da Maçonaria. Não existe nenhuma pretensão de criarmos mais dúvidas, onde já pairam muitas. Mas, com base em fontes seguras e autores sérios, além do uso de critérios e muita cautela, poderemos chegar à resposta mais satisfatória que a pergunta do título requer. Do que ouvimos, gravamos muito mais, sabidamente, do que foi bastante repetido, e seguindo essa linha de raciocínio, sabemos melhor então, sobre o período que compreende o final da Maçonaria Operativa e o começo da Maçonaria Especulativa, aliás, nomes com os quais nem todos concordam.

Os historiadores mais conceituados, tem sido praticamente unânimes: a origem da Maçonaria, a mais próxima da verdade, é a que diz que ela descende das antigas organizações ou corporações de pedreiros da Idade Média, responsáveis pelas construções das igrejas e catedrais, e há uma unanimidade também, no aspecto tocante à influência sofrida da Igreja da época. Todas as corporações desses profissionais, que convergiram para formaram o que se convencionou chamar de Maçonaria Operativa, tinham como obrigatórios o cumprimento de uma série de preceitos religiosos e obrigações, o que de certa forma os tornava submissos à Igreja. Numa das fontes consultadas, está dito que a origem da Maçonaria Operativa perde-se na Idade Média. O que é bem melhor de ouvir, que a surrada expressão sobre ela se perder nas brumas do passado.

AS CORPORAÇÕES DE OFÍCIO
As Corporações de Ofício surgiram na Idade Média, a partir do século XII, e tinham o objetivo de agrupar os operários qualificados de uma determinada função, para que tivessem condições de defender seus interesses, negociarem de uma forma mais eficiente, controlar a técnica de produção das mercadorias pelo produtor, cuidarem da distribuição, dos preços, da qualidade dos produtos, da margem de lucro, da hierarquia de trabalho, proporcionar amparo aos seus trabalhadores na velhice, evitar a concorrência, controlar a quantidade de matérias primas, estipular o salário dos trabalhadores, protegerem os seus associados, além de outras razões. Três classes compunham essas corporações basicamente: a) os Mestres, que eram praticamente os donos da oficina. b) os oficiais ou companheiros. c) os aprendizes. As corporações de maior destaque eram a dos construtores e a dos artesãos. Cada uma das corporações agrupava um ramo de trabalho, por isso, era corporação de ofício, e tinham regras estabelecidas para aquele que nela quisesse ingressar.

UM POUCO DA HISTÓRIA INDIVIDUAL DAS CORPORAÇÕES MAIS IMPORTANTES, ACOMPANHADAS DE ALGUNS COMENTÁRIOS E CITAÇÕES
O “Vade-Mécum Maçônico” de autoria do Irmão João Ivo Girardi, lista várias organizações como sendo as principais: Os “Collegia Fabrorum”, os “Comacinis”, os “Compagnonnage”, os Canteiros, as Guildas e os Grêmios Mercantis, que são espelhadas no “Dicionário de Maçonaria” do Urmão Joaquim Gervásio Gigueiredo. Já Castellani, prefere os nomes:
Os “collegia” romanos, as Associações monásticas, as Confrarias, as Guildas, os Ofícios Francos ou Francomaçonaria. Vejamos a síntese histórica de algumas dessas organizações, com informações provenientes das consultas às obras de vários dos nossos estudiosos, lembrando que a Maçonaria adotou princípios e conteúdos filosóficos das muitas corporações que deles faziam uso. Algumas delas são bem anteriores ao período esse que passou à história com o nome de Maçonaria Operativa.

A título de informação, os “collegia” romanos, de Castellani, é o mesmo que os “Collegia Fabrorum”, descritos pelo Irmão João Ivo Girardi, em seu “Vade-Mécum Maçônico” e que diz assim: “COLLEGIA FABRORUM: Diz-nos Plutarco que os Colégios romanos foram originariamente fundados por Numa Pompílio, segundo rei de Roma, que viveu durante o séc.VII a.C. Cada um destes Colégios de Arquitetos estava incorporado a uma Legião Romana, para lhe construir fortificações em tempo de guerra, e templos e casas em tempo de paz. Foi dessa maneira que os Mistérios romanos foram levados para o norte da Europa. (O grifo é meu) Acabaram sendo abolidos pelo Senado Romano em 80 a. C. para serem restaurados vinte anos depois. Finalmente foram abolidos definitivamente no ano 378 d.C. quando o Cristianismo passou a dominar Roma.”

É interessante que se façam os seguintes comentários ainda no tocante aos “Collegia”: em 43 d.C. depois de duas incursões anteriores, as legiões romanas sob o comando do Imperador Cláudio, finalmente, conseguiram fincar pé na Inglaterra. “Os “collegia”, que eram corpos auxiliares, construíram as primeiras vilas e cidades da Inglaterra, a partir de acampamentos das legiões de Roma, e ensinaram as artes aos bretões.

Castellani faz uma restrição quanto à figura de Numa Pompílio e ao estabelecimento dos “Collegia” por esse imperador: “Roma devia ter menos de 40 anos quando Numa Pompílio a governou. Isto é, não era nada; não tinha nada. Alguma coisa está errada neste contexto.” O Irmão Pedro Juk em seu livro “Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom”, assim se referiu aos “Collegia Fabrorum”: “Pelo crescimento do poder de Roma, que se tornou num vasto e abrangente Império, é que cresceu também a necessidade e o desejo do homem de associar -se,  constituindo grêmios organizados denominados “Collegia”. Essas associações possuíam um caráter religioso marcante e acompanhavam as legiões romanas durante as suas conquistas para reconstruir o que fosse sendo destruído pela atividade da guerra na campanha das conquistas. É possível que nessa associação ou colégio, estivesse a semente das futuras corporações de ofício da Idade Média.”

No “Dicionário de Maçonaria”, do Irmão Joaquim Gervásio Figueiredo, encontramos a afirmação de que as tradições secretas dos “Collegia” foram transmitidas ao continente europeu
pelas corporações que vem na sequência. “OS COMACINI: Descendentes dos Colégios, que se instalaram na Ilha Comacini, no Lago de Como ao norte da Itália. Ao seu gênio criador se devem a arquitetura romanesca e muito do renascimento posterior das Lojas da Europa. Apresentam marcante analogia com o moderno sistema maçônico, pois, estavam organizados em Mestre, Guardiões e Discípulos sob o governo de um Grão-Mestre. Tinham sinais, toques, palavras de passe e juramentos de sigilo e fidelidade; usavam aventais, luvas brancas, e entre seus símbolos incluíam o compasso, o nível, o fio de prumo.“

A título de curiosidade, o estudioso Nicola Aslan, referiu-se ao fato de que entre 590 e 604, quando na Inglaterra e na Gália, os pedreiros já haviam desaparecido, na Itália ainda subsistiam algumas corporações do tipo romano, o que prova que a Itália foi um dos redutos na conservação da arte dos romanos.

Ainda, o Irmão Pedro Juk, falando sobre os “Comacini” tece considerações importantes: “A perseguição ao Cristianismo influenciou decisivamente para a dissolução dos Colégios Romanos. Sem dúvida esse é um período tenebroso e de difícil acompanhamento de sua história, fato que causa uma lacuna entre a ligação da arte clássica romana e a aparição da arte gótica desenvolvida pelos canteiros da Idade Média, todavia alguns historiadores estabelecem um elo entre os Collegiati e os construtores de catedrais através dos “Magistri Comacini” ou Mestres Comacinos, guilda de arquitetos que com a queda do Império Romano refugiou-se em Comacina (...) Os Mestres Comacinos eram arquitetos, escultores, entalhadores e decoradores que assumiam um caráter de liberdade, muito antes que se lhes desse o nome de Franco-Maçons, pois, viajavam livremente de um para outro lugar e eram livres para fixar o preço dos seus trabalhos, enquanto os demais trabalhadores eram submetidos ao poder dos senhores feudais. (...) O progresso dos Mestres de Como começou em suas migrações durante o reinado de Carlos Magno, quando seguiram missionários da Igreja a remotos lugares, indo desde a Itália até a Grã-Bretanha, edificando durante o seu trajeto, principalmente igrejas, disseminando a arte „românica‟ que, anteriormente à „gótica‟, sobressaiu absoluta na arquitetura medieval, contribuindo assim para enaltecer a arte da edificação sobre os demais ofícios. Disseminaram a Arte Lombarda e Beneditina quando ensinaram a muitos arquitetos e pedreiros monásticos da Ordem de São Bento. Em  linhas gerais é importante observar que essas associações não assumiam ainda o rótulo de maçonaria. Desde a Antiguidade até a Idade Média elas se apresentavam como agremiações dedicadas à „arte de construir‟, dotada de um forte cunho religioso. Com o advento e a afirmação do Cristianismo, reportado principalmente ao crescimento da Igreja, não só como instituição religiosa, mas principalmente como instrumento de poder, esta influenciou o desenvolvimento das futuras corporações que iriam florescer na Idade Média. É sob o grande poder dessa Igreja que essas corporações seriam conhecidas mais tarde como Maçonaria Operativa, ou Maçonaria de Ofício, para a preservação da „arte‟ entre os mestres construtores da Europa.” “O COMPAGNONNAGE, (corporações obreiras) na França – uma espécie de renascimento das guildas simbólicas medievais, porém mais conhecido como uma associação de operários, que possuía ritos especiais de iniciação, acompanhados de preocupação quanto ao comportamento dos seus membros, e que se multiplicou em todas as nações européias por todo o período medieval, sobrevivendo em alguns deles até a Idade Moderna. A mais antiga divisão era a dos Filhos de Salomão, originariamente consistente apenas de pedreiros, e mais tarde também de soldadores e ourives; a segunda era a dos Filhos do Mestre Jacques, que igualmente admitia membros das três citadas profissões, e posteriormente seleiros, sapateiros, alfaiates, cuteleiros, chapeleiros; a terceira divisão seguia o Mestre Subises e era formada por carpinteiros, escultores e telhadores. As três divisões adotavam a lenda concernente a Salomão e seu Templo.” Além do mais, citado por Michael Johnstone, há a menção de um código, datado de 1260, se referindo a Carlos Martel, avô de Carlos Magno, como um dos homens para o qual teriam sido transmitidos os segredos dos construtores do Templo do Rei Salomão. Com relação à lenda do Templo de Salomão, adotada pelas três divisões das “Compagnonnage”, transcrevo o seguinte comentário do livro de Alex Horne, intitulado “O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica”: “No período medieval, dois fatores contribuíram para sustentar-lhe o interesse: primeiro, a força da tradição oral; e segundo, a Arte, sobretudo a Arte associada, direta ou indiretamente, ao impulso religioso, na pintura, na escultura e na arquitetura.

Quanto à tradição oral, Gerard Brett nos recorda que, antes do fim do Século XV, o número dos que tinham acesso a um AntigoTestamento real deve ter sido muito pequeno. Consequentemente, no seu entender, até mais ou menos o ano de 1500, precisamos considerar a palavra falada como o elemento mais importante na transmissão da tradição salomônica. Mas havia também a influência da Arte, e Brett cita e ilustra inúmeros exemplos de Arte européia em que figura a personalidade do Rei Salomão em conjunção como o seu Templo, em tapeçarias, vitrais e objetos entalhados de madeira e de pedra.”

Michael Johnstone, em sua obra “Os Franco-Maçons” diz: “Na França, a Compagnonnage permaneceu separada da Maçonaria ali estabelecida. Juntando tais fatos, é pouco provável que a Compagnonnage tenha sido a progenitora direta da Maçonaria. “OS CANTEIROS, pedreiros alemães, derivados provavelmente do século XII dos pedreiros dos mosteiros amalgamados com os construtores profissionais das cidades, e denominados Steinmetzen na Alemanha, usavam um cumprimento e um sinal que não podiam ser escritos.”

Nicola Aslan cita uma parte dos escritos de Lionel Vibert para falar dos Steinmetzen e que vem elucidar alguns pontos: “Em princípios do século passado, uma tentativa foi feita para demonstrar que os Steinmetzen (talhadores de pedra) estavam na origem de todas as Maçonarias. Mas as pesquisas modernas fizeram abandonar esta doutrina, a ponto de deixar planar sobre seus autores uma certa suspeita de falsificação dos textos; a Maçonaria alemã, isto foi demonstrado, deriva da Maçonaria especulativa inglesa, e os Steinmetzen tem com esta última um ponto comum: derivam, eles também, das Corporações ou fraternidades da Idade Média em seus respectivos países. No entanto, podemos descuidar dos Steinmetzen em nossa investigação sobre as origens da Maçonaria inglesa.” E ao final, Aslan arremata da seguinte maneira: “Mas hoje podemos afirmar e peremptoriamente que, não existem, contudo, traços de qualquer conexão entre esta organização e a Maçonaria.”

“AS GUILDAS inglesas que derivam dos construtores, oriundos do continente europeu e iniciados na época de S. Agostinho. Congregavam operários artesãos e comerciantes em organizações que tinham como objetivos principais a proteção mútua, a regulamentação da formação profissional e prestação de assistência social a seus membros.” As guildas são consideradas as precursoras da moderna Maçonaria. Floresceram no período que vai do século XI ao XV. O uso da palavra Loja é proveniente desse meio e era o local destinado aos trabalhos dos Maçons. Consta que a primeira vez que a palavra foi registrada em documento, foi em 1292.

Conforme o Irmão Pedro Juk, em sua coluna Perguntas e Respostas do JB NEWS, em uma ocasião, dando algumas informações à respeito de Loja de Mesa, ele diz assim: “Note que os
primeiros arremedos de uma Loja de Mesa estão condicionados às Guildas que, inclusive originaram o termo Loja. Nos antigos tempos das confrarias dos construtores essas reuniões eram realizadas em torno de uma grande mesa retangular estando o Mestre de Obra no centro e nas extremidades os seus auxiliares imediatos (Wardens), zeladores que posteriormente assumiriam o rótulo de Vigilantes na Maçonaria. (...) Posteriormente com o advento da Maçonaria Operativa essas reuniões tomavam um formato mais direcionado ao canteiro e surgiria a mesa em formato de “U” que dispunha os arremedos iniciais de orientação – O Mestre de Obra no Ocidente e os seus Vigilantes na extremidade final das figuradas pernas do “U”. Daí em diante respeitado os períodos solsticiais e às vezes equinociais, as diversas confrarias de construtores (canteiros medievais) se encarregariam de dar um formato mais conhecido por nós da Moderna Maçonaria.(...)”

Na Idade Média, sendo a corporação dos pedreiros, uma das mais importantes, era uma das mais cobiçadas também. Era a única guilda a cujos membros lhes era permitido o direito de ir e vir. De acordo com o exposto no “Vade-Mécum Maçônico”, “Mais recentemente os historiadores concluíram através de suas pesquisas que esse colégios, corporações, ou guildas, também tinham entre seus membros ligações mais íntimas de caráter religioso, e que em suas reuniões, de um modo geral, se realizavam acobertadas pelo segredo e obedeciam a determinados rituais e esquemas rígidos de trabalho. É inegável, porém, que todas tinham sempre o fato de um interesse comum ligado ao modo de vida dos associados,  principalmente sob o aspecto profissional.

(...) As guildas que proliferavam na Idade Média, atendendo condições mais modernas, adotaram tradições antigas e adicionaram a elas elementos mais modernos para se tornar uma Escola do progresso humano até os dias de hoje.” “OS GRÊMIOS MERCANTIS surgidos no século XIV com indústrias organizadas em consequência da efervescência do espírito da Renascença e do desenvolvimento da consciência nacional em todos os países, porém facilmente dispersivas.”

A MAÇONARIA NA INGLATERRA; UMA SÍNTESE
A partir das sucessivas invasões das tribos bárbaras até a conquista final, não restou pedra sobre pedra das construções erigidas pelos romanos na Ilha britânica. O trabalho da pedra acabou desaparecendo havendo espaço somente para as construções de madeira, conforme os costumes que os invasores trouxeram.

Somente após a cristianização dos anglo-saxões, que teve início em 596, por Santo Agostinho, e com as construções de pedra nos anos 627 e 635, das Igrejas de York e Winchester respectivamente, é que a arquitetura volta a florescer na Inglaterra. Sabe-se que ao final do século VII, bispos e abades iam continuamente a Roma, de onde traziam telas, estátuas, e também arquitetos e escultores. Mas, isso não é ainda, o suficiente para que se fale aqui diretamente sobre a Maçonaria Operativa.

Até o ano 871 e desde o ano 837, a Inglaterra se viu novamente sofrendo invasões e conquistas de parte dos dinamarqueses, normalmente piratas. Depois, foi a vez dos normandos, que até 912 se incumbiram de assaltar o país. Com tantas invasões, batalhas e pilhagens, a paisagem era de ruínas. Não havia mais arquitetura, nada mais restava da passagem dos romanos com os seus “collegia”.

A partir de 877, é chegado o feudalismo na Europa, com os seus castelos. E para construir castelos era preciso construtores, ou herdeiros das técnicas de construção. Á medida que os feudos vão sendo criados, é a oportunidade também da Igreja afirmar-se ainda mais, pois, detendo o poder no interior dos feudos tem o ambiente ideal, para crescer através da proliferação dos mosteiros que são os espelhos da sua estrutura. Para a construção de mosteiros eram necessários construtores, exatamente os que estavam organizados em guildas.

Uma referência muito antiga diz que consta em relatos datados de 1277, que na Inglaterra, já nessa época eles comiam e dormiam nas Lojas. Não se sabe com certeza quando o termo Loja começou a ser usado para descrever a comunidade em vez da construção. Nas minutas da Loja de Aitchinson na Escócia, que é de 1598 e dos estatutos da mesma, do ano seguinte, são feitas referências às Lojas de Edimburgo, de Kilwinning e de Stirling.

Nas Ilhas Britânicas, até o século XIV, são pouquíssimas as evidências de que os pedreiros daquela região estivessem bem organizados ou mantivessem qualquer comunicação entre os que habitavam uma parte e outra do país. Mas, após a conquista normanda, lá pelo ano de 1066 haviam sido construídas mais de 5000 novas igrejas. Mesmo havendo a distância considerável de 500 ou 600 quilômetros entre o norte e o sul, considerando a época, as construções eram bem semelhantes, fato devido aos construtores que viajavam de uma obra para outra levando as novas idéias.

De Winchester até Durham, gerações de artesãos trabalharam nas construções, um dos legados da Igreja para os futuros ingleses.

Rizzardo Da Camino em seu “Dicionário Maçônico”, diz o seguinte:”Em 1323, foi construído em Londres o Westminster Hall, tendo sido nele gravada a frase “Citiens et masons de Londres”, em francês arcaico, de onde se conclui que um certo número de “maçons” franceses participou da construção. Pode-se traduzir a frase como “Os cidadãos e pedreiros de Londres”.

Também na Inglaterra, em 1350, aparece pela primeira vez a denominação “francomaçom” ou “free-stone-mason”, o que servia para distinguir o pedreiro-livre que trabalha a pedra de adorno ou decorativa do “rough-mason”, trabalhador tosco, comumente dedicado aos canteiros ingleses. Isso pode ser encontrado em uma Ata do Parlamento, correspondente ao ano vinte e cinco do reinado de Eduardo III.

No século XIII é que surgem as associações e confrarias de Maçons. A denominação oficial de Maçonaria, no entanto, somente vai surgir em 1723, com as Grandes Constituições de Anderson. Em 1666, ocorreu um dos maiores incêndios da história da humanidade. Londres ardeu literalmente. Para a reconstrução da cidade, foram precisos muitos pedreiros, pedreiros que trabalhassem nos moldes medievais.

Em 1686 a Franco-Maçonaria estava bastante difundida, tanto que mereceu menção no livro “The Natural History of Shropshire” de Robert Plant. E na década seguinte havia sete Lojas operando em Londres e uma em York. Em 1717 ela havia se tornado popular. A partir do século XVII, as Lojas dos maçons de Ofício, ou Operativos, foram abrindo as portas para aqueles que não estavam ligados estritamente à arte de construir. Começava a fase que ficou conhecida como Maçonaria Especulativa. A data oficial, quando da reunião de quatro Lojas londrinas para criar a Grande Loja: 24 de junho de 1717.

DATAS RELEVANTES NA HISTÓRIA DA MAÇONARIA
Segundo o Irmão Luis Javier Miranda Mc Nally, em seu livro “Detalhes de Uma História”, está posto assim: “Seguindo o relato na Cronologia Maçônica existem datas que podemos chamar de relevância: Ano 924: Quase todas as antigas obrigações estabelecem a apraição da Maçonaria Moderna (?) no reinado de Athelstan...; Ano 926: A segunda assembléia da Fraternidade, conhecida pelas Tradições, foi convocada pelo príncipe Edwin, irmão ou meio irmão do rei Athelstan, na cidade de York. Nesta Asssembléia, coincidente com o Convento Maçônico de York , nasceram as Constituições Góticas com 15 artigos; estas Assembléias continuaram por muito séculos. Ainda mais adiante afirma: A Constituição Gótica foi utilizada como fonte por James Anderson na sua Constituição de 1723.

Foi na reunião de York que os Deveres vieram a ser estabelecidos e, sobre os Deveres diz Michael Johnstone: “A leitura pode parecer estrnha, mas o espírito da mensagem que ela carrega é o que está no âmago da Maçonaria Moderna.” Ainda em York, uns querem acreditar que esse seja o primerio documento maçônico, e que estaria revalizando com outro documento, esse da década de 1394 que é o Manuscrito Régio ou “Poema Regius”, para uns o mais importante documento da história da Maçonaria em sua fase operativa ou de ofício, e que contém, uma história lendária da Arquitetura (Maçonaria), artigos vários, lendas envolvendo a Torre de babel, Nabucodonosor, Euclides e seus ensinamentos, além de regras para um bom comportamento na Igreja, etc.

O Irmão Castellani conta que entre os anos de 1100 e 1300, milhares de igrejas, catedrais, mosteiros e conventos foram erguidos em território europeu. Tanto trabalho exigiu verdadeiros especialistas na arte de construir, assim como, uma melhor organização dos mesmos. Essa organização redundou num Estatuto. Esse Estatuto, o Estatuto do Trabalhador da Pedra, na verdade, um esboço, foi apresentado por 12 homens liderados por Henry Yevelem ao Prefeito Alderman e aos Edis, no dia 2 de fevereiro de 1356, tornando-se, então, conforme Castellani, ainda que somente o esboço, e que se encontra até hoje na Biblioteca da Prefeitura de Londres, o documento maçônico mais antigo. Nele estava previsto, obediência às autoridades locais, fidelidade ao Rei e à Religião, além de solicitar que as reuniões deles fossem fechadas, sem as presenças de pessoas que não mantivessem ligações. A informação tem o aval do pesquisador G.H.T. French, da Loja Quatuor Coronati. Essa Sociedade dos Maçons (The Fellowship of Masons), durou até 1376, quando foi fundada a Companhia dos Maçons de Londres.

Com o passar do tempo, outros documentos a exemplo dos citados, foram surgindo, para formaram as “Old Charges”, número que ultrapassou o de 130.

CONCLUSÃO
Como foi manifestado lá no começo, não iríamos viajar durante o transcurso do presente trabalho, pelas infindáveis teorias, lendas e invenções a respeito das origens da Maçonaria, e tenho certeza de que isso foi cumprido até o momento. No entanto, acho que para encerrar de vez algumas questões que se arrastam de tempos, colho da opinião que o grande estudioso Nicola Aslan inseriu em seu Grande Dicionário Enciclopédico, no verbete “MAÇONARIA (ORIGENS)‟, e que é de autoria do estudioso R.Le Forestier, que diz: “A história das origens da sociedade secreta conhecida sob o nome de Maçonaria saiu do período lendário durante o último terço do século XIX. Os estudos objetivos e documentos de verdadeiros historiadores como Hughan, Gould, Schiffmann, Begemann, para só citar os principais dispersaram em grande parte as névoas acumuladas ao mesmo tempo pela imaginação intemperante de apologistas desprovidos de senso crítico ou de impudentes falsários e pelas deduções cegados pela paixão.

É supérfluo, doravante, procurar o berço da associação no Oriente antigo, no Egito, na Grécia ou na Roma antiga, porque ele é encontrado prosaicamente na Inglaterra; a data do seu nascimento não se perde mais na noite dos tempos, já que ela foi fixada com insuficiente precisão no início do século XVII; enfim, as hipóteses, muitas vezes apresentadas como certezas, que faziam da Ordem dos maçons a herdeira e a sucessora dos pitagóricos, essênios, Iniciados dos Mistérios, maniqueus, albigenses e até mesmo Templários, não puderam resistir a um exame sério.

Vista em pleno dia e despida de seus ornamentos emprestados a Maçonaria deixou de ser a figura mítica, Anjo de Luz ou Gênio do Mal, que foi, durante quase dois séculos, veneradas ou maldita pelas almas ingênuas.”

Durante as pesquisas efetuadas, chamou-me a atenção um esclarecimento de Joseph Fort Newton, que consta em sua obra utilizada aqui, e que diz assim: “Não se devem confundir os Franco-Maçons, ou construtores de catedrais, com aqueles que pertenciam às Guildas de pedreiros, pois os primeiros pertenciam a uma ordem universal, enquanto que os segundos estavam presos a grupamentos locais e restritos. A ordem, dos construtores de catedrais era mais antiga, poderosa e artística do que a Guilda dos pedreiros, e, mais religiosa, Dessa ordem é que descende a Maçonaria moderna.”

Como se pode ver, quanto mais lemos, quanto mais pesquisamos, estaremos sempre nos defrontando com novas informações, o que serviria para remontar tudo outra vez? Não, claro, por isso a importância da leitura, da pesquisa, pois, ainda que sejam muitas as fontes ou a quantidade de informações, somente buscando a verdade, objetivo do Maçom, estaremos chegando mais perto dela, menos sujeito a confundir ou a misturar as informações, e compromissados com repassá-las para os demais. Envolvendo a história da Maçonaria, são muitas as lacunas ainda existentes.

Com o que reunimos até aqui, podemos dizer também que existem muitos dos eventos históricos concernentes à Maçonaria são extremamente polêmicos, possuem várias versões e que há momentos sim, que temos a sensação de estarmos frente de uma colcha de retalhos.

Podemos afirmar, no entanto, que ante todas as evidências que foram apresentadas, a origem mais crível é aquela que a situa na Inglaterra, bem no meio dos trabalhadores de pedra. Acho a declaração do crítico citado pelo Irmão João Ivo Girardi, no verbete “GUILDAS‟, de nome Stephen Knight, sobre a história da Maçonaria, muito inteligente, e ela reza assim: “é a história de como uma guilda católica romana de alguns milhares de trabalhadores de construção na Grã-Bretanha veio a ser assumida pela aristocracia, pela pequena nobreza e por membros de profissões essencialmente não produtivas, e como foi transformada em uma sociedade secreta não cristã”.

Quando me referi às lacunas que ainda existem, uma delas diz respeito ao período de transição que vai dos séculos XVI ao XVIII. Pouco se sabe, na realidade, das transformações que a Maçonaria sofreu neste período, mas, certamente muito profundas, e muito restando para ser estudado.

A Maçonaria Operativa viu o seu apogeu nos séculos XII e XIII. As suas sementes estão em vários lugares, essa é a conclusão: York, Kilwinning, Londres, as Ilhas Britânicas, França, Alemanha, Roma e muitos outros lugares.


O Irm.·. José Ronaldo Viega Alves (ronaldoviega@hotmail.com )
da Loja Saldanha Marinho, “A Fraterna” de Santana do Livramento, escreve aos domingos neste espaço.

A MAÇONARIA OPERATIVA FINDOU EM 1717 OFICIALMENTE.
ONDE E QUANDO, A DATA PROVÁVEL DA SUA CERTIDÃO DE NASCIMENTO, E QUAIS AS CORPORAÇÕES DE OFÍCIOS QUE SÃO TIDAS COMO SUAS ANCESTRAIS DIRETAS?
Irmão José Ronaldo Viega Alves


Fontes Bibliográficas:
Internet:
“Corporações de Ofício” e “Maçonaria”, ambos da Wikipédia. Disponível em:
pt.wikipedia.org/wiki/Maçonaria
JB NEWS nº 964, de 24/04/2013

Livros:
ASLAN, Nicola. “A Maçonaria Operativa” – Editora Maçônica “A Trolha” Ltda. 2008 e “Grande Dicionário
Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia” – Volume 3 – Editora Maçônica “A Trolha” Ltda. 2012
CAMINO, Rizzardo Da. “Dicionário Maçônico” – Madras Editora Ltda. 2006
CASTELLANI, José. ”Caderno de Estudos Maçônicos – Curso Básico de Liturgia e Ritualística” – Editora Maçônica “A
Trolha” Ltda. – 1994 e “Cadernos de Estudos Maçônicos – O Aprendiz Maçom” – Editora Maçônica “A Trolha” Ltda. 1995
CASTELLET, Alberto Victor. “O Que É a Maçonaria? – Madras Editora Ltda.
FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio. “Dicionário de Maçonaria” – Editora Pensamento
GIRARDI, João Ivo. “Do Meio-Dia à Meia-Noite Vade - Mécum Maçônico” – Nova Letra Gráfica e Editora Ltda. 2008
HORNE, Alex. “O Templo de Salomão na Tradição Maçônica” – Editora Pensamento
JOHNSTONE, Michael. “Os Franco-Maçons” – Madras Editora Ltda. 2010
JUK, Pedro. “Exegese Simbólica Para o Aprendiz Maçom” - Editora Maçônica “A Trolha” Ltda. 2007
MC NALLY, Luis Javier Miranda. “Detalhes de Uma História” – Editora Maçônica “A Trolha” Ltda. 2007



Fonte: JB News


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