quinta-feira, 28 de maio de 2015

MAÇONARIA: FESTAS SOLSTICIAIS


MAÇONARIA: FESTAS SOLSTICIAISMorto CARAUSIUS em 294 pela mão de seu próprio Ministro llectus, seu sucessor CONSTANCE CHLORO ou Imperador CONSTÂNCIO I, pôs termo à relativa soberania da Inglaterra para engloba-la no próprio Império Romano, então recém dividido pela tetrarquia com a nomeação dos Césares sob dois Augustos, vindo ele a fixar sua residência em “Eboricum”, depois e ainda hoje YORK 1, onde já se encontravam fixadas várias corporações de pedreiros que, por assimilação, desempenhavam ritualisticamente as “Janua Coeli” e “Janua Inferni”, festas pagãs solsticiais que eram praticadas pelas guildas romanas.
Um culto mitológico
O deus JANUS, esse personagem mitológico, onde, na Grécia, correspondia a “HERA”, contava, entre as tantas duplas atribuições a si conferidas pela Mitologia, também a de ser protetor das Corporações de Pedreiros ou “collegia fabrorum” romanos.
Por que dera asilo a Saturno, quando expulso do Olimpo por Júpiter (Zeus), fora agraciado com o dom de conhecer o passado e o futuro. Também era o guarda do interior e do exterior das moradas e das cidades, das partidas e regressos das viagens, do início e do fim das atividades, possuidor das chaves que abriam e fechavam todas as portas.
Seu templo, em Roma, permanecia aberto em tempo de guerra, e fechado, quando sobrevinha a paz. Sua festa cultual, denominada “Agonium” ( e daí, “agonia”, “sacrifício”), era celebrada no dia 9 de janeiro (de “januarius”, derivado de “Janus”).
Precisamente por essa duplicidade de atributos era esse deus representado, com barbas ou não, e cabeça com duas faces contrapostas, tendo numa das mãos uma chave e na outra uma varinha
Cristianização das Festas Solsticiais
Num ‘crescendo’ cronológico e duzentos anos mais tarde, aproximadamente, ou seja, no Século V (anos 400 e queda do Império Romano diante dos bárbaros germânicos 2, que no Século III a.C. já haviam ocupado a atual Alemanha entre os rios Reno, Vístula e Danúbio), veio toda a Inglaterra a restar dominada pelos invasores saxões, levando a que os ingleses, liderados por monges e padres, acompanhados também pelos Artífices, se deslocassem para a Irlanda e Escócia, cujos habitantes já haviam sido civilizados e convertidos à fé cristã pelos monges beneditinos, estando, inclusive, instruídos na arte de construir. Tendo havido a conversão religiosa dos anglo-saxões e dos próprios pedreiros, vieram aquelas festas januárias a ser cristianizadas com os nomes de “São João de Verão” e “São João de Inverno”, que, bem mais tarde, se metamorfosearam na Maçonaria para “Solstício de São João Evangelista” (Verão) e “Solstício de São João Batista” (Inverno), feitas as adaptações ritualísticas destinadas a apagar o ranço pagão de tais ágapes.
Lojas Azuis ou de São João
1 É a Capital de Yorkshire, na confluência dos rios Ouse e Foss, e é uma das mais antigas cidades inglesas. Sua Catedral foi construída entre os Séculos XI (anos 1000) e XIV (anos 1300), sendo uma das mais refinadas espécies da arquitetura gótica em todo o mundo. Está construída em forma de “cruz”. Foi dominada por Escoceses e Dinamarqueses.
2 Tribos dos Suevos, Francônios, saxões, alamanos, bávaros, godos, ostrogodos e visigodos, lombardos e vândalos, que eram indo-europeus advindos da Península da Jutlândia, habitando nos limites do Império Romano. Algumas delas haviam sido convertidas ao Cristianismo no Século IV.
Dentro do Simbolismo a “Maçonaria Azul” rege os graus simbólicos ou iniciais, que são tratados em “Lojas Azuis” ou “LOJAS DE SÃO JOÃO”.
As conhecidas pergunta e resposta ritualísticas – “De onde vindes ? De uma Loja de São João”- leva a indagar, ao menos mentalmente: Qual “São João” ?
Já houve quem sustentasse que o Patrono da Maçonaria nunca foi o Batista, o Precursor, e nem o Evangelista, mas sim o Esmoler ou Hospitaleiro, esse João, filho do rei de Chipre, que ao tempo das Cruzadas fôra a Jerusalém socorrer viajantes e cavaleiros, tendo fundado um hospital (albergue) para cuidar de enfermos e prestar auxílio financeiro aos que peregrinavam para chegar ao Santo Sepulcro.
Mas, na verdade, os dois santos patronos da Instituição Maçônica, são mesmo o São João Batista e o São João Evangelista, que estão estreitamente relacionados, de um lado, a JANUS, o deus mitológico romano. E de outro, à etimologia hebraica, onde “João” é denominado “Hanan” para significar dupla e simultaneamente “benevolência” e “misericórdia” e também, “graça” e “piedade”. E quando recebe o nome de “Johanan”, tem também a dupla significação de “misericórdia de Deus” e “louvor de Deus”, observando RENÉ GUÉNON 3
“que a misericórdia é evidentemente ‘descendente’, e o louvor, ‘ascendente’, o que nos leva ainda à sua relação com as duas metades do ciclo anual”,
ou seja, às festas solsticiais de inverno, em 24 de junho (São João Batista = a “misericórdia de Deus”), e de verão, em 27 de dezembro (São João Evangelista = “louvor de Deus”), aqui no Hemisfério Sul.
No entanto, embora paradoxalmente, os dois são a síntese de um mesmo ser.
Como se vê e qualquer que seja a preferência, “João”, tanto derivando de “Janus”, deus mitológico, como de “Johanam”, etimologia hebraica, tem duplo atributo – o de “misericórdia” e o de “louvor”. O primeiro é emprestado à figura do João Batista 4, esse filho de Zacarias e Isabel, e o segundo, à do João Evangelista, festejados na Maçonaria nos dois ciclos anuais já indicados, e que, em última análise, não passam de um único e mesmo ser, exatamente como se observa na Catedral de Saint Rémy, em Reims, França, em cujo vitral figura
“um São João que se poderia chamar de ‘sintético’, incluindo numa só figura o Precursor e o Evangelista, fusão sublinhada pela presença por cima da cabeça de dois girassóis dirigidos em sentidos opostos (= os dois solstícios), em suma, uma espécie de Janus cristão” 5
Acrescenta J. PALOU:
“Parece-nos igualmente útil mencionar que no simbolismo maçônico operativo, que é transmitido na Maçonaria anglo-saxônica, encontra-se uma figuração dos dois São João, representada por um círculo, tendo em seu centro um ponto, trazendo o círculo duas tangentes paralelas”,
e, citando R.GUÉNON 6, arremata com esta transcrição:
“(Esse) círculo é considerado como uma figura do ciclo anual, correspondendo então os pontos de contato dessas duas tangentes, diametralmente opostas uma à outra, aos dois pontos solsticiais”.
Acresça-se, para encerrar esta minúscula e despretenciosa peça de arquitetura, que esse simbolismo avança muito mais, tanto em extensão quanto em profundidade, mas ele escapa às finalidades primárias aqui pretendidas, de cunho eminentemente rudimentar e voltadas aos Irmãos Aprendizes no curso de sua senda iniciática.
3 “À propos des deux Saint Jean””, em “Études Traditionelles”, junho de 1949, e em “Symboles fondamentaux de la science sacrée”, Paris, 1962, p. 235, apud Jean Palou, “A Franco Maçonaria Simbólica e Iniciática”, nota 9, p. 210, na qual acrescenta que o autor por si citado faz observar, “não sem perspicácia, que as figuras populares de ‘João que chora’ e ‘João que ri’ são equivalentes (do mesmo modo que as duas faces de Janus), a primeira, ‘daquele que implora a misericórdia de Deus’, quer dizer, São João Batista, e a segunda ‘daquele que o louva’, quer dizer, São João Evangelista”.
4 Veja-se: Evangelho Segundo São Lucas, 1:13 e 63, Bíblia Sagrada, ed. Barsa, 1967.
5 Jean Hani, “Le symbolisme du temple chrétien”, Paris, ed. La Colombe, 1962, pp. 91-92, apud J. Palou, ob. cit., p´. 212, nota 23.
6 “Le symbolisme solsticial de Janus”, em “Symboles fondamentaux”, p. 253, nota 3.

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