terça-feira, 5 de maio de 2015

MAÇONARIA: UM FACHO DE LUZ


MAÇONARIA: UM FACHO DE LUZApós aproximadamente sete meses de espera até certo ponto incômoda e por que não dizer muito gostosa, eis que de repente surge o grande dia: 18 de agosto de 1984.
Neste dia, mais um profano terá a oportunidade de conviver com seres humanos diferentes, homens dedicados a uma causa nobre e, por que não dizer enternecedora. e que, após passarem pelos mesmos momentos, tornaram-se maçons convictos.
É chegada a hora de adentrarmos em um local para nós totalmente desconhecido. A emoção começa a tomar conta de nós por não sabermos exatamente o que nos espera, porém, é uma sensação gostosa de vermos que fomos atendidos em nossa solicitação, e melhor ainda, por sabermos que no teste inicial havíamos sido aprovados de forma “limpa e pura”.
Para nós, o maior teste de um homem é a sua própria vida, as suas ações e os exemplos que possa oferecer e deixar para os seus e para a sociedade.
Logo que chegamos é-nos oferecida a escuridão total, que nos faz pensar em mil coisas ao mesmo tempo. Estamos confusos, sentimos um misto de ansiedade e por que não dizer de receio que logo é dissipado quando uma voz ao nosso ouvido nos revela o seguinte: eu sou o vosso guia, tende confiança em mim e nada receeis…
Ficamos sabendo então, que mesmo nas trevas proporcionadas por aquela venda negra em nossos olhos, não estamos sozinhos, temos ao nosso lado, segurando firme em nosso braço um amigo desconhecido que mais tarde passaríamos a chamar de “irmão”.
Após percorrermos caminhos tortuosos, subir e descer escadas em forma de caracol, somos colocados em outro lugar onde, após descalçarem um dos nossos pés, despojam-nos dos bens materiais e ainda nos deixam com o lado esquerdo do peito à mostra.
Faz frio, muito frio mesmo… Ouvimos muitas vozes, sons diversos e não conseguimos entender nada. Estamos sentados aguardando outros momentos que nos esperam e que não sabemos como serão. Naquele momento, sentimos outra mão amiga que cobre o lado esquerdo do nosso peito, procurando transmitir o seu calor humano na forma de um pequeno e humilde pedaço de pano. Sentimo-nos gratificados, e mais uma vez, percebemos e temos certeza e confirmação de que ali, em momento algum, estaremos sozinhos.
A grande prova ainda está por vir. Após nova caminhada por desconhecido trajeto, somos levados a um local que mais parece uma masmorra e ali, tiram-nos a venda e nos deixam com algumas poucas instruções como que abandonados à nossa própria sorte.
Continua escuro apesar de estarmos enxergando alguma coisa. Mais tarde viemos a saber que aquele local é respeitosamente denominado e conhecido pelos maçons como “Câmara das reflexões”.
Inicialmente sofremos o impacto natural daquela cena inusitada e nunca imaginada por nós. Estamos realmente entregues à nossa própria sorte, no entanto, sabemos que existe alguma explicação ou razão de estarmos expostos ali daquela maneira.
Momentos de angústia, de coragem, de medo… Sim, de medo… medo de não conseguirmos chegar ao fim de um propósito que tanto almejamos, sermos recebidos e acolhidos pela maçonaria.
Como em todos os momentos da vida, procuramos primeiramente o autodomínio, fazer com que as coisas se aclarassem em nossa mente e então, passamos a olhar, observar, verificar e analisar todos os detalhes possíveis que estão em nosso redor.
Respondemos a um questionário e uma dúvida toma conta de nós. Pedem uma certa importância em dinheiro, mas, como podemos atender a tal solicitação se nos despojaram de tudo que tínhamos antes de ali chegarmos?
Continuamos a nossa viagem mental rumo ao desconhecido e podemos perceber, além de várias inscrições, detalhes que certamente têm o seu significado como um caixão com o fundo voltado para cima, uma corda no chão, uma mesa, uma cadeira e um banco toscos, um crânio com uma vela acesa em cima, além de um galo e uma ampulheta sobre a mesa.
Na parede as figuras de uma caveira, um grande olho acoplado a uma cobra e um esqueleto com uma foice ao lado. Meditamos e nos perguntamos. Para que tudo aquilo? Estamos numa casa mal-assombrada, ou estamos no fundo de um palácio da era medieval?
Temos a certeza que não e experimentamos a sensação de que o tempo ali retroage, passando pela nossa cabeça cenas da nossa infância, momentos difíceis de uma juventude às vezes mal compreendida; a figura do nosso pai com o seu desvelo, apesar de algumas vezes muito rígido, e as coisas vão se desenvolvendo agora com mais naturalidade, pois, até já conseguimos racionar com certa facilidade e com alguma lógica.
Começamos então a analisar os dizeres impressos naquelas paredes negras. À nossa frente a seguinte frase: “se a curiosidade aqui te conduz, retira-te. Se tens medo, não vá adiante. Perseverança”.
Curiosidade e medo poderiam ser interpretados de várias maneiras e sob diversos prismas naquele momento. Sentimos as duas coisas, porém de forma positiva; uma curiosidade natural de querer entender o real significado daquele momento e medo, de não sermos dignos de estarmos ali. Porém, outra palavra há que minimiza o nosso medo e a nossa curiosidade, servindo de alento aos nossos propósitos: perseverança.
Entendemos que não temos nada a temer uma vez que aquela palavra sempre tivera um significado especial, além de ser uma tônica em nossa vida.
À direita outra frase nos marca profundamente: “Se tens receio de que descubram os teus defeitos, não estarás bem entre nós. Se és apegado às distinções mundanas, retira-te. Nós aqui não as conhecemos”…
Naquele momento entendemos que ali se pregava a humildade, mesmo sabendo sermos possuidores de muitos defeitos, jamais os esconderíamos e, acima de tudo, não éramos apegados às distinções. Percebemos e começamos então, a acreditar que havia lugar para nós entre aqueles a quem estávamos procurando.
À nossa esquerda somos alertados de forma diferente quando nos deixam o seguinte: “se queres bem empregar tua vida, pensa na morte. Se fores dissimulado, serás descoberto. Vigilância”. Qual ou quais os significados daquelas palavras?
De acordo com a nossa interpretação parece quererem nos alertar, mostrar que a vida é feita de boas ações, de solidariedade e de amor ao próximo e, que a morte nestas circunstâncias seria o prêmio maior que estaria garantido em outras esferas em forma de reconhecimento, pelo Ser Supremo. Que tudo que fazemos aqui na terra deve ser feito de maneira aberta, transparente e sem subterfúgios, porque a mentira e a prepotência serão percebidas até pelos mais cegos.
Vigilância… O homem deve ser o seu próprio exemplo e juiz, vigiar e medir constantemente a extensão dos seus atos, atitudes e decisões. Deve procurar sempre reconhecer suas falhas e limitações, tentando saná-las sem nunca enfatizar as suas virtudes.
E, para surpresa nossa, vemos às nossas costas a confirmação daquilo que pensamos anteriormente, quando lemos a última frase que diz o seguinte: “somos pó e ao pó voltaremos. No fim, a ostentação, o luxo, a riqueza, tudo isso fica. Para o além levaremos somente os gestos nobres e as boas ações praticadas aqui na terra”.
Começamos a entender que a Maçonaria, apesar de congregar homens das mais variadas camadas sociais, desde o nobre até o mais simples plebeu, não faz distinções. Ali, todos são reconhecidos como seres humanos comuns, feitos da mesma matéria e que, as ostentações sob aquele teto, jamais encontrarão abrigo.
Passados aqueles momentos, novamente se faz a escuridão total. Somos deixados outra vez sentados, agora com os pensamentos voltados para tudo aquilo que havíamos visto.
Depois de uma nova e longa espera, somos submetidos a várias viagens e provas. Voltamos àquele lugar em que estivemos refletindo e novamente tiram-nos a venda e, qual a nossa surpresa ao vermos à nossa frente, vultos encapuzados apontando espadas para o nosso peito desnudo. O caixão que antes estava com o fundo para cima, agora abriga o corpo de um homem inerte, com as vestes manchadas de sangue, que podemos perceber apesar da escassez de luz.
No silêncio daquela cena dura e chocante, uma voz forte alerta-nos para o compromisso que estamos assumindo. Pensamos… será que estão fazendo tudo isto para que desistamos? Será que não acreditam em nossas virtudes ou em nossas intenções? Por que aquele defunto ensangüentado e por que aquelas espadas ameaçadoras apontadas contra nós? Não entendemos e continuamos na escuridão… Novamente a escuridão total e agora, temos de volta o nosso corpo vestido, o pé calçado, mas continuamos despojados de todos os bens materiais.
Somos levados a outro local onde nos retiram a venda e aí podemos ver novamente a luz. E que surpresa agradável, quando ainda assustados, mirando cada rosto, encontramos dentre eles os de vários amigos comuns. Passamos a entender então, as razões daquele ritual, uma vez que aqueles que ali estão são considerados por nós, homens de bem e entre eles, a figura humilde do responsável direto pela nossa vinda ao mundo, para a luz da vida: o nosso pai, o maçom Acir Vieira Viana.
Por que tanta escuridão? Por que tantos caminhos tortuosos e desconhecidos fomos levados a percorrer? Por que até a luz naquele momento nos ofusca a visão total das coisas à nossa volta?
Tudo para nós passa a ter um significado simples, porém, de uma profundidade imensa. A escuridão representando a nossa ignorância; o guia o nosso amparo, ajuda e que, somente irmanados por um mesmo ideal é que poderemos transformar as nossas vidas, por meio de ações dignas, sem nunca pensarmos somente em nós e sim, nos nossos semelhantes.
E a luz? O que representa naquele momento? Mesmo sendo bastante nítida, percebemos que pelo tamanho da nossa ignorância ela não passa de um simples facho de luz em meio à escuridão. E a Maçonaria para nós, se faz representar ali por aquele facho de luz, procurando clarear bem devagar o caminho que escolhemos, com a certeza de que sempre será assim. Jamais nos será dado o direito de vermos a totalidade da luz, pois, se assim fosse, estaríamos sujeitos à estagnação. Poderia sim, ser-nos dada de outra maneira, de modo sublime, como um reconhecimento a todos os homens virtuosos, caridosos e fraternos em forma de LUZ ETERNA.
Estamos felizes, pois o grande dia vai passando e conseguimos… Será que conseguimos mesmo, passar pelas primeiras provas? Será que vislumbramos um novo horizonte e começamos realmente a engatinhar rumo a uma nova vida?
Estas respostas somente o tempo poderá nos dar, já que por diversas e inúmeras vezes seremos obrigados a descobrir novos e necessários fachos de luz para que a nossa escuridão possa ser sempre iluminada…

http://formadoresdeopiniao.com.br/portal/maconaria-um-facho-de-luz/

Nenhum comentário:

Postar um comentário