Escrito por Sandra Starling |
Sex, 22 de Agosto de 2014 09:03 |
Em recente viagem aos EUA, resolvi
reler a trilogia de Sófocles sobre a tragédia edipiana. Lá, um de meus
netos acabara de estudá-la, em curso médio de escola pública (!), como
meio para o entendimento da problemática que originou o título deste
artigo: até que ponto somos vítimas e/ou coautores de nosso destino
como seres humanos?
Confesso
nunca ter passado de uma leitora ávida do teatro grego. Não recebi
nenhuma formação sistemática sobre o sentido dramático, mitológico ou
seja lá o que for de cada uma das peças. Vou lendo por puro prazer e
tirando minhas conclusões – certas ou equivocadas.
O fato é que, diante da tragédia que se
abateu sobre o candidato Eduardo Campos, voltei a meditar sobre o que
havia lido. Que lições tirar? Quem poderia supor o que viria a
acontecer com alguém tão novo, tão esperançoso, tão disposto a
construir seu próprio futuro?! Teria ele sido predestinado a apenas
embaralhar a sucessão presidencial no Brasil, neste ano, decidindo ser
candidato e, para isso, rompendo tanto com o PT quanto com seus amigos
Lula e Aécio Neves? E o que teria levado a que, no meio do caminho,
tivesse um impedimento para que a Rede Sustentabilidade, capitaneada
por Marina Silva, não conseguisse registrar-se a tempo como partido?
Isso jogou Marina nos braços de Campos, praticamente contra tudo e
todos.
PLANO C
Sei da perplexidade e da revolta de seus
apoiadores quando ela anunciou que todos perguntavam pelo plano A ou
B, e nunca pelo que ela acabou escolhendo, o plano C, de se juntar a
Eduardo Campos. Destinatária de quase 20 milhões de votos nas eleições
de 2010, Marina virou vice de quem mal pontuava nas pesquisas de
opinião, um vitorioso político nordestino, com experiência curta no
plano nacional (deputado federal e ministro da Ciência e Tecnologia do
primeiro governo Lula), mas largamente conhecido em Pernambuco, onde
fora secretário de Fazenda de seu avô Miguel Arraes e, depois,
conseguira eleger-se duas vezes governador com elevadíssima aprovação.
No dia 12 de agosto, Eduardo Campos foi
entrevistado duas vezes à noite na emissora de maior audiência no país.
Não assisti à sabatina. Só vi trechos dela no dia seguinte. Mas um
desses excertos me fez pensar em Édipo Rei e na maldição que pesava
sobre ele. No trecho, a entrevistadora insistia com o candidato a
presidente sobre a aparente contradição entre “responsabilidade fiscal”
e “fim do fator previdenciário”, prometidos por ele. Com um largo
sorriso, Eduardo apontou um fato relevante da realidade. Disse ele:
“Mas, Renata, a ciência tem permitido que vivamos cada vez mais tempo”…
Sou atropelada na manhã seguinte pela notícia da morte dele em
desastre aéreo. O entrevistado da véspera não viveria mais um dia…
Destino?! Que pretenderia, então, o
destino, ao matá-lo aos 49 anos e ao jogar, talvez, agora no colo de
Marina Silva o encargo de vir a ser candidata e, quiçá eleita,
presidente da República?! Pensei em Sófocles.
Fonte: Tribuna da Internet
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