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Escrito por Rui Jung Neto |
Seg, 23 de Março de 2015 17:00 |
Antes de tratar especificamente dos três
Graus do Rito Schröder, creio ser importante estabelecer quando
surgiram os três Graus simbólicos e, para isto, vou me socorrer da obra
do Ir. Nicola Aslan: "O Historiador e Ex-V.M. da Loja Quatuor Coronati,
Ir. Lionel Vibert, afirma: "os termos Aprendiz, Companheiro e
Mestre-Maçom são escoceses e foram empregados pela primeira vez pela
Maçonaria Inglesa em 1723." Sobre o mesmo assunto escreve R. Le
Forrestier: A inovação mais notável (da G.L. de Londres) foi a criação
dos Graus denominados Especulativos ou Simbólicos.
Os talhadores de pedra só tinham uma
classe, a dos Companheiros, já que os Aprendizes não faziam parte da
Corporação, cujos membros só possuíam os sinais de reconhecimento
mantidos, ciumenta e zelosamente, secretos. O único ato solene de
recepção era, portanto, o da admissão entre os Companheiros. Na
Freemasonry (Franco-Maçonaria) Especulativa, ao contrário, onde a antiga
aprendizagem profissional não tinha mais razão de ser, os candidatos
eram admitidos diretamente na associação e a primeira Cerimônia
Ritualística era agora a recepção ao Grau de Aprendiz.
A razão pela qual o termo de Mestre
serviu, a partir de 1725, para designar não mais uma função mas uma
dignidade e tornou-se a denominação de um terceiro Grau, parece ter sido
o desejo de fazer uma escolha entre os membros cada vez mais numerosos
da associação e de constituir um "High Order of Masonry" (uma "Alta
Ordem da Maçonaria"), como o Grau de Mestre foi algumas vezes
denominado."
Atualmente existe, entre os modernos
historiógrafos da Maçonaria, o consenso de que a separação das
instruções em três graus não era utilizada nas Lojas operativas. Isto
nos leva a concluir com segurança, que a divisão da Maçonaria
Especulativa (modernamente denominada Simbólica) em três Graus:
Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, que já era utilizada pela
Maçonaria Escocesa desde o Século XVII, ocorreu na Grande Loja de
Londres somente entre 1717 e 1725.
Desta forma, quando Schröder foi
Iniciado em 1774, os três Graus já estavam consolidados e eram aceitos
como universais por todos os sistemas maçônicos (Ritos). Sabemos que o
Rito Schröder teve sua origem baseada principalmente no "Livro das
Constituições" de 1723, da Grande Loja de Londres, e no "Antigo Ritual"
descrito no livro "The Three Distinct Knocks on the Door of the Most
Ancient Freemasonry - As Três Batidas Diferentes na Porta da mais Antiga
Franco-Maçonaria", de 1760. Com base nestas duas fontes, o Ir.
Friedrich Ludwig Schröder aboliu o misticismo e os "altos Graus"
introduzidos na Maçonaria Alemã no decorrer do Século XVIII e se
utilizou do simbolismo simples das ferramentas da Arte da Construção
como instrumento para promover a elevação moral dos seus Irmãos.
Schröder, um representante do classicismo alemão, através de um estudo
minucioso, procurou a essência da Maçonaria, aconselhando-se com um
grande círculo de Irmãos dentre os mais renomados maçons, escritores e
filósofos da sua época (Herder, Fessler, Meyer, Bode, etc).
O Ritual de Schröder está expresso em
uma linguagem insuperável na qual pulsa o espírito do humanismo clássico
e fica evidente a simplicidade original como característica mais
importante da Maçonaria moderna, formando um conjunto harmônico
constituído pelos 5 rituais originais que englobam os três Graus do Rito
(Loja de Aprendiz, com a Loja de Mesa e a Loja de Funeral; Loja de
Companheiro e Loja de Mestre).
Neste trabalho, analisarei de forma
sintética cada um dos Graus e procurarei destacar suas características
fundamentais a luz do que acredito ter sido o pensamento original do Ir.
Schröder. A meu ver, fruto da sua vasta pesquisa maçônica, mas também
do período histórico excepcional vivido na Europa no final do Século
XVII e no decorrer do Século XVIII, principalmente nas províncias de
língua Alemã, na Inglaterra e na França. Nesta época floresceu o
"Iluminismo", movimento cultural que valorizou a razão, aboliu os
preconceitos de raça e religião, libertou o homem do autoritarismo e
difundiu a crença no progresso fundamentado na liberdade de pensar.
Sua força afetou todos os ramos do
conhecimento e das artes, sendo considerado pelo filósofo e maçom
Lessing como o primeiro movimento a defender a livre manifestação do
pensamento. Acredito que Schröder, um verdadeiro mestre no domínio da
linguagem e da dramatização, trabalhou em perfeita sintonia com os
acontecimentos de seu tempo e o pensamento dos maiores maçons alemães,
muitos dos quais eram seus amigos e com os quais contou para elaborar
seus Rituais, nos quais colocou o que de melhor havia em termos de
Filosofia Racionalista e Humanista, defendendo sempre a igualdade entre
os Irmãos e a busca da verdadeira Fraternidade.
Para Schröder, a Franco-Maçonaria era e
sempre foi uma Confraria que unia homens virtuosos para em conjunto
estudarem os símbolos da Arte da Construção e desenvolverem a Moral, a
Ética, a Caridade e o Amor Fraternal. Em muitas passagens o Ritual
enfatiza a confiança que os Irmãos depositam uns nos outros e a harmonia
que deve prevalecer na Fraternidade.
O Grau de Aprendiz Maçom nos ensina
que1: "Os Maçons formam uma Fraternidade espalhada entre os povos,
países e classes, cujo fim consiste no espírito do verdadeiro amor
fraterno para promover a legítima humanidade, isto é, proporcionar o
domínio dos puros princípios morais em todos os círculos e empregar suas
atividades em boas obras. Porém em nossas reuniões usamos símbolos e
alegorias para expressar os nossos ideais, e segundo a origem histórica
de nossa instituição, escolhemos como símbolos principais os
instrumentos de construção.
" O Ir. Schröder, que acreditava ser a
Maçonaria "uma união de virtudes", declarou em um veemente discurso
proferido em 1789 aos Irmãos de Hamburgo: "Meus Irmãos, considerem antes
de tudo, as lições tiradas das vidas virtuosas dos homens sábios, de
estabilidade, de prudência e de sigilo que nos foram ensinadas no
Primeiro Grau. Pensem nestes preceitos e nos subseqüentes modelos!
...elas são a base material da qual a grande corrente da Fraternidade
foi formada...".
Expressava assim, a importância dos valores morais contidos simbolicamente nos instrumentos dos antigos Pedreiros-livres e do Humanitarismo, doutrina filosófica e política que pretende eliminar as injustiças através da ação direta do homem e, por decorrência, mudar para melhor a própria sociedade que nos cerca.
Também, sobre a importância da Moral e
seu uso no simbolismo da Maçonaria, cito dois consagrados autores que
definem conceitos perfeitamente adequados para a prática maçônica em
geral e para a do Rito Schröder em particular: - Alec Mellor (maçom e
escritor francês) nos lembra que: "A Franco-Maçonaria define-se como "um
sistema particular de moral, velada pela alegoria e ilustrada pelos
símbolos." - definição esta, já utilizada na Inglaterra do Século
XVIII”. - José Castellani (maçom e escritor brasileiro contemporâneo)
nos esclarece que: "os símbolos maçônicos representam a maneira velada
através da qual a instituição dá, aos seus iniciados, as lições de moral
e ética, que fazem parte de sua doutrina".
Para Schröder o desenvolvimento da
Fraternidade, dentro de princípios éticos e de elevada moral, é a
verdadeira finalidade da Maçonaria e praticar a caridade é materializar o
ideal maçônico de levar o amor fraterno para todos os homens, não só
para os Irmãos.
A Moral e a Ética são pré-requisitos
indispensáveis do homem-maçom. As Lojas, por reunirem homens virtuosos,
devem reforçar e elevar cada vez mais o padrão ético dos seus
integrantes. Cabe também a Loja de Aprendiz, além da instrução dos
significados dos símbolos, estimular o Aprendiz a pensar e a agir como
maçom, levando o modo de vida da Fraternidade Maçônica para o seu
dia-a-dia e não somente algo para ser utilizado nas reuniões da Loja.
Este é um desafio que cada um de nós deve assumir como seu! Com "fervor,
fidelidade e firmeza", o Aprendiz desenvolve um "comportamento
exemplar, seu pensamento livre de preconceitos e sua amizade leal para
com seus Irmãos, baseada em princípios morais". Por isto, trabalha-se
tanto neste Grau, que serve como "alicerce" para a construção do Templo
individual do homem-maçom. Esta também é a base para o desenvolvimento
maçônico dos futuros Companheiros e Mestres e isto deve ser valorizado.
Quero ainda enfatizar que, é na Loja de
Aprendiz que tem início a formação futuros Companheiros e Mestres e, por
isto, é muito oportuno realizar reuniões, debates, seminários
incentivando a participação de Aprendizes e Companheiros, sendo
acessíveis aos Mestres interessados, para que os Irmãos tenham condições
de aumentar seus conhecimentos, abrir seus horizontes e assumir suas
responsabilidades na Fraternidade.
O Grau de Companheiro Maçom será
abordado citando parte da análise do Ir. Hans Heinrich Solf, membro da
Loja de Pesquisas “Quatuor Coronati”, n° 2076, da Grande Loja Unida da
Inglaterra através do Trabalho Origem e Fontes do Ritual Schröder: ...
Isto despertou o talento de Schröder como ator dramático para criar um
Ritual inteiramente novo, com sua própria concepção deste Grau.
A uma tanto laboriosa explanação do
Painel da Loja que é complemente omitida, colocou em seu lugar os
princípios morais explanados numa bela linguagem e toda a cerimônia tem o
significado de inculcar no candidato esperança e alegria.
As viagens são acompanhadas com
comentários encorajadores e flores e música são importantes fatores
neste Grau. ... Ele conhecia todos os Rituais importantes de seu tempo,
mas o seu mais ardente desejo era voltar as fontes. Já foi mencionado
que Schröder acreditava que tinha havido somente uma cerimônia de
iniciação aplicada à Maçonaria Operativa mas, quando o estágio da
Especulativa havia sido plenamente desenvolvido, certas velhas usanças
tiveram de ser abandonadas e novos elementos ritualísticos foram
portanto introduzidos. Schröder compreendeu que ele não podia voltar a
roda de evolução, mas ele sentiu que os Rituais existentes para a
cerimônia de elevação eram supérfluos.
Na verdade nenhum sistema Maçônico
(Rito) tem sido capaz de providenciar uma função satisfatória para este
Grau e é afirmado que o melhor conteúdo alegórico é o que Schröder e
seus amigos deram para ele. Com um preciso instinto do espírito do seu
tempo, a aurora do Iluminismo e o surgimento do romantismo, ele
recolocou as citações enfadonhas e explanações do Velho Testamento como
simples ensinamentos de Ética e Moral Maçônica. Tão estritamente quanto
possível, porém de nenhum modo sem criticismo, ele conservou seus textos
dentro da estrutura do Ritual que ele havia escolhido e ele o adornou
com comentários instrutivos e encorajadores em vez de citações Bíblicas.
O objetivo de trabalho numa Loja
maçônica era para ele o cultivo de uma Fraternal e espiritual comunidade
pela prática de cerimônias ritualísticas."... Neste Grau aprendemos
através da calma meditação e da diligência no trabalho a importância do
autoconhecimento e da fidelidade às leis da Fraternidade; a valorizarmos
alegremente a Amizade, a Beleza e a busca da Verdade, conquistando
assim a confiança dos nossos Irmãos e progredindo em nossa caminhada
maçônica.
O Grau de Mestre Maçom é, para o Rito
Schröder, o último e mais elevado Grau da Maçonaria, sendo consagrado à
busca incessante da perfeição e ao cumprimento inflexível dos seus
deveres, servindo de exemplo de conduta aos Companheiros, Aprendizes e
profanos. Como modelo de perfeição, o Mestre deve conhecer o melhor
possível os três Graus, os Usos e Costumes da Fraternidade, a Legislação
da sua Potência e da sua Oficina, bem como as obrigações inerentes a
cada cargo, sejam elas ritualísticas ou administrativas.
Prepara-se assim para Instruir os
Aprendizes e Companheiros, para assumir um cargo de Oficial, chegando ao
de Venerável Mestre da sua Loja por delegação de seus iguais, recebendo
a autoridade e o poder para dirigir os trabalhos por um determinado
período. Todo o trabalho em Loja deve procurar educar e formar o maçom,
visando prepará-lo para ser Mestre. Ao Mestre do Rito Schröder cabe
também, a pesquisa e a reflexão filosófica sobre o destino final do
homem e sua preparação para a morte e que representa mais um passo na
evolução natural do ser humano.
Por isto, o Mestre Maçom do Rito
Schröder deve encarar a morte de quatro maneiras principais: a)
alegórica ou simbólica: a Lenda do 3o Grau, significando o cumprimento
do dever à custa da própria vida, exemplo legado pelo Mestre Hiram
Abiff; b) o eterno ciclo da natureza, onde um novo homem nasce (ou
renasce) para substituir aquele que partiu ("ele vive no filho"); c) a
crença na imortalidade da Alma (ou do Espírito), que parte para o
Oriente Eterno e lá nos aguarda para o derradeiro reencontro; d) a
certeza de que a morte virá e que devemos nos preparar através do
cumprimento das nossas obrigações pois podemos ser levados a qualquer
momento.
O Mestre Maçom deve encarar esta situação como algo natural e normal e, não, com temor ou horror. Devemos viver com intensidade, pois nossa passagem por este plano pode ser interrompida a qualquer momento ("Não nos amedronta a Morte!".). Finalmente, ser Mestre significa trilhar zelosamente a senda da Sabedoria. Significa ser mestre de si mesmo, trabalhando com ininterrupta força de vontade no seu próprio aperfeiçoamento e pode ser comparado com a idade adulta do Homem, quando assumimos plenamente nossas responsabilidades perante a vida.
Para que possamos refletir sobre a real
importância do Grau de Mestre no Rito Schröder, incluo trecho escrito
originalmente pelo Ven. Ir. Friedrich Ludwig Schröder, P.G.M.: Acredito
ser evidente que existe uma identidad“A Maçonaria é uma fraternidade e,
como tal, adotou os instrumentos de trabalho do maçom, e por isso não
pode possuir mais do que os três Graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre.
Assim era ela em todos os países onde existiam Corporações.
Com o grau de mestre fechava-se o
círculo. Àquele que anseia alguma coisa mais além não é mestre, ou seja,
não compreende que são seus deveres e suas habilidades que o tornarão
um verdadeiro mestre. ... Foram os rituais falsificados em vigor, pouco
satisfatórios, repletos de lacunas e defeitos (além de outras causas
funestas), que deram motivos para que a Teosofia, as Ordens de
Cavalaria, a Alquimia e a Magia procurassem guarida na Maçonaria. Nada
pôde ser mais nefasto do que quando se passou a confundir a Maçonaria
com uma Ordem.
A Maçonaria é uma irmandade voltada ao
trabalho, uma construção, uma obra que, com seus estatutos, provas de
admissão e habilidade, procura ressaltar as virtudes do mestre. Eis o
que de mais elevado pode alcançar a natureza humana.” e) doutrinária
comum entre os Ritos maçônicos regulares, além do simbolismo das
ferramentas dos antigos construtores e da admissão exclusiva através da
Iniciação. Diferencia-se, no entanto, em muitos outros aspectos, dentre
eles, sua liturgia e dramaturgia e o desenvolvimento do seu Método de
Ensino.
Em Loja, o maçom é apresentado ao
simbolismo e às cerimônias ritualísticas; ouve as preleções e instruções
contidas nos rituais ou nos trabalhos elaborados por seus Irmãos;
apresenta suas idéias; aprende a ouvir e respeitar idéias divergentes e
as minorias (a exigência da unanimidade em algumas votações da Loja é a
máxima prova deste respeito). Se tiver empenho, estabelecerá uma ligação
com a doutrina da Maçonaria, a filosofia do Rito adotado e com o
pensamento da sua Loja. Aprenderá que a moral maçônica é racional,
expressada pelo amor à verdade, pelo respeito à razão, à sinceridade
intelectual, à soberania da consciência que se impõe contra a
superstição e contra o dogmatismo.
É uma moral solidária, pois pretende que
o maçom, mais do que "ter bons costumes", seja tolerante, dedicado,
disposto a servir seus irmãos e semelhantes e a fazer tudo o que estiver
ao seu alcance para promover o bem estar da sua família, da sua Pátria,
da sua Loja, das suas relações na vida profana e, por decorrência, o
Bem da Humanidade. Aprender, para poder praticar e ensinar, o conjunto
de princípios e práticas do Rito no qual foi Iniciado ou no qual sua
Loja trabalha, é dever de todo o maçom. Conhecer os demais Ritos,
respeitando suas origens, princípios e práticas, demonstra seu interesse
na procura do auto-aperfeiçoamento.
A Maçonaria exige de cada um de nós, a
busca constante do conhecimento, da perfeição e da Verdade e, freqüentar
a Loja, é fundamental, mas não é o suficiente. São necessários também, o
estudo constante dos rituais e muita reflexão. para podermos formar
nossas próprias convicções sobre tudo o que vemos, ouvimos, vivenciamos,
estudamos e aprendemos.
Com a fraternal saudação do Ir. Rui Jung Neto, AStM,
“Aprendendo, ensinarás. Ensinando, aprenderás.” Ex-V.M. da Cinq. Ben. A.R.L.S. "Concordia et Humanitas" Nr. 56 - ao Or. de Porto Alegre – RS – Rito Schröder - GLMERGS Membro da Loja Maçônica de Estudos e Pesquisas “UNIVERSUM” Nr. 147 - GLMERGS Membro Correspondente da Loja Francisco Xavier Ferreira de Pesquisa Maçônicas (Chico da Botica) – GORGS Membro do Colegiado Diretor do Colégio de Estudos do Rito Schröder Ir. Gouveia
http://formadoresdeopiniao.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=30997:maconaria-os-tres-graus-do-rito-schroeder&catid=66:templo&Itemid=136
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