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Escrito por João Bosco Rabelo |
Sex, 27 de Março de 2015 08:24 |
A emenda constitucional que o presidente
da Câmara, Eduardo Cunha, cuida pessoalmente de fazer tramitar,
reduzindo para 20 o número de ministérios, é um problema para a
presidente Dilma Rousseff, mas para o PT, um golpe duríssimo, com poder
para retirar do partido o combustível de sua militância e feri-lo de
morte.
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Sem mais o monopólio das ruas,
protagonista de escândalos de corrupção em série, no comando de um
governo que levou o país à recessão, o PT sofre a ameaça de perder o
controle dos cargos estratégicos na estrutura administrativa, que lhe
garantiu na última década e meia a consolidação de uma militância ativa
a partir do uso partidário da máquina pública.
É desse desmonte que trata a emenda
constitucional que Cunha impulsiona a partir de sua cadeira de
presidente da Câmara. O pior para o PT é que a causa contagia e não
dependerá mais de Cunha ou de qualquer outro líder para andar sozinha. O
desaparelhamento da máquina estatal constrói maioria por ser desejo
permanente de todos os partidos, inclusive os da base aliada.
VAGAS E MAIS VAGAS
Nos últimos dez anos, o número de
ministros chegou a 39 e os ocupantes de cargos de livre nomeação,
subordinados a eles, passaram de 17,6 mil, no final de 2003, para 22,6
mil em outubro de 2013, segundo dados de 2014.
Ao longo da administração petista, o
número de ocupantes de DAS 4, 5 e 6 saltou 46% em uma década, chegando a
4.814, crescendo a taxa bem menor, de 24%, no grupo dos DAS 1, 2 e 3,
destinados a servidores de carreira que assumem funções de coordenação e
assessoria técnica.
A remuneração mensal dos cargos vai de
R$ 2.152 a R$ 12.043. Servidores públicos nomeados podem acumular seu
salário com parte da comissão, segundo limites definidos na legislação.
É fato que não só o PT ocupa a máquina, mas a prevalência do partido é
notória e responde pela queixa geral dos aliados, especialmente o
PMDB.
Reduzir o número de ministérios
significa um abalo nessa conta e pode ser o início de um desgaste que
se somará ao já em curso, que produziu importante perda política ao
partido, identificado nas pesquisas como responsável pelos erros do
governo e patrocinador da corrupção, nos casos do mensalão e do
“petrolão”.
SEM BLINDAGEM
Nem mais o ex-presidente Lula desfruta
da blindagem que parecia inabalável: as pesquisas recentes registram
que 67% da população entendem que ele tem responsabilidade nos
acontecimentos da Petrobras e o desgaste do governo Dilma o alcança,
pois é identificado como quem a elegeu.
O PMDB cumpre, com precisão cirúrgica,
um roteiro para reduzir a força do PT. O partido está visivelmente
isolado no contexto partidário e não é imaginável supor que contornará
seus problemas no Legislativo sob a liderança de perfis como Sibá
Machado (AC) e José Guimarães (CE), segundo os quais, a legenda é
vítima da agência de espionagem norte-americana, a CIA, e de “uma
lavagem cerebral midiática”, nessa ordem.
Em paralelo, a reforma política do PMDB
avança na Câmara em versão rejeitada pelo PT, roubando ainda ao governo
a iniciativa concreta em defesa do tema que usa como escape para as
críticas da população, a cada nova manifestação.
Outros temas de importância econômica,
caros ao governo, andam também à revelia do Planalto, casos da reforma
do Simples, da ampliação dos direitos dos empregados domésticos e da
regulamentação do mercado de terceirizados – todos com origem no
Executivo, mas que vão ganhando dono novo – o PMDB.
PMDB À FRENTE
O governo, portanto, está na Câmara sob a
liderança do PMDB que, por isso mesmo, quer diminuir o tamanho da
estrutura administrativa onde o espaço que lhe foi reservado durante os
anos de poder do PT, não corresponde à sua importância como aliado.
Com a anemia política que tomou conta do
governo Dilma, a qual corresponde brutal índice de desaprovação
popular, o PMDB roubou o governo. Se nele não pode entrar, fez-se
governo. Tem a iniciativa política e executiva que chega agora ao ponto
de patrocinar uma reforma administrativa que o governo hesita em
fazer, mesmo diante da obviedade de seu acerto.
FORTE SIMBOLISMO
Não é sustentável a recusa à proposta de
cortes, ainda que ínfimo em relação ao que se precisa, mas de forte
simbolismo. Pergunte-se a qualquer cidadão na rua para que servem 39
ministérios e ele responderá sem pestanejar que é para atender aos
políticos – no mínimo.
Na véspera da aprovação de medidas
recessivas, se não cortar na carne, o governo perde o que resta de
autoridade para impor o ajuste fiscal. Resta pouco para a presidente
Dilma fazer e, a continuar nessa toada, restará cada vez menos.
Bandeiras positivas, capazes de sugerir
alguma ação de governo, estão sendo tocadas pelo Legislativo, como os
casos já citados. A redução dos ministérios poderia ser uma porta de
saída para a presidente acuada pela desaprovação, mas Cunha já a tomou.
(artigo enviado pelo comentarista Celso Serra)
http://formadoresdeopiniao.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=31044:pmdb-comanda-desaparelhamento-da-maquina-estata&catid=77:politica-economia-e-direito&Itemid=132
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