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Escrito por Octávio Costa |
Qua, 04 de Março de 2015 08:43 |
Ao formar seu governo em 1979, o general
João Figueiredo, último presidente da ditadura militar, ficou sem
saber exatamente o que fazer com a economia e deu uma no cravo e outra
na ferradura. Manteve Mário Henrique Simonsen à frente da política
econômica, como ministro do Planejamento, mas nomeou Antonio Delfim
Netto para o Ministério da Agricultura. Simonsen, que havia chefiado a
Fazenda no governo Geisel, foi encarregado de contornar os efeitos da
segunda crise do petróleo. Optou por um tratamento de choque, com corte
dos gastos públicos e superávit primário de 1% do PIB, ao preço de
desaquecimento da indústria e do risco de recessão.
Para conhecer melhor esta história, vale
a pena ler estudo do professor José Pedro Macarini, da Unicamp, sobre o
período Figueiredo. O que mais impressiona é, sem dúvida, a semelhança
entre o isolamento de Mário Simonsen e o rápido desgaste que enfrenta
hoje o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
PEIXE FORA D’ÁGUA
A exemplo de Simonsen, Levy parece um
peixe fora d’água no governo Dilma. Se ele representa a
ultra-conservadora Universidade de Chicago, os demais membros da equipe
econômica aproximam-se, sem dúvida, do pensamento desenvolvimentista
(ao qual a presidenta Dilma também se filia).
A ortodoxia de Levy nada tem a ver com
com a visão heterodoxa do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, do
presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e da presidente da Caixa
Econômica, Miriam Belchior. Mais importante: não se afina com a
formação keynesiana da economista Dilma Rousseff, avessa ao liberalismo
de Milton Friedman, Prêmio Nobel e guru do Chicago.
Substituto de Guido Mantega, Levy foi
incumbido de pôr a casa em ordem, pois, como diz a presidenta, “quando a
realidade muda, a gente muda”. Agiu rápido e baixou um pacote de
ajuste fiscal, que minou as expectativas e faz de 2015 um ano perdido.
Mas não encontrou sustentação sequer entre os parlamentares do PT,
partido do governo. As medidas que mudam as regras da pensão de viúvas e
do seguro-desemprego dificilmente passarão no Congresso.
ERROS DA PRÓPRIA DILMA
Ao defender a freada de arrumação na
economia, Levy ataca sem piedade erros da política econômica do
primeiro mandato de Dilma. Após afirmar que houve uma “escorregadinha”
no controle das contas públicas, foi ainda mais longe e disse que a
desoneração da folha de pagamento de empresas foi “um negócio muito
grosseiro”. Segundo ele, “essa brincadeira nos custa R$ 25 bilhões por
ano” e não protege, nem cria empregos.
Desta vez, Dilma reagiu: “A desoneração
foi importantíssima e continua sendo. Se não fosse importante, tínhamos
eliminado. Acho que o ministro foi infeliz no uso do adjetivo”. Levy
levou o pito e ficou calado. Comentou com assessores que exagerou no
“coloquialismo”. Ele já se corrigiu de outras vezes, mas começa a dar a
impressão de que se prepara para pular do barco em poucos meses. Ao
deixar o governo de João Figueiredo, Simonsen não deu grande
importância: “O cargo de ministro é apenas mais uma linha no meu
curriculum”. Joaquim Levy já tem esta linha no seu curriculum.
http://formadoresdeopiniao.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=30797:ministro-da-fazenda-joaquim-levy-vai-pular-do-barco-&catid=77:politica-economia-e-direito&Itemid=132
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