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Escrito por Laryssa Borges |
Ter, 01 de Abril de 2014 09:08 |
Uma das mais bem sucedidas empresas brasileiras poderá perder 20% da área para experimentos de campo no DF e terá de interromper pesquisas.
“Pegar aquele terreno para fazer
casas populares é não perceber o que a Embrapa significa para o Brasil.
Atitudes como a do governador Agnelo contribuem para que o Brasil
fique estacionado na 13ª posição na produção científica mundial”, Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Sede da Embrapa Cerrados: um exemplo positivo num país que carece de investimentos em pesquisa e tecnologia (Divulgação)
Em um país que há décadas trata com
negligência sua política nacional de ciência e tecnologia
e despreza investimentos em pesquisa, a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura e
Pecuária, é um raro exemplo de sucesso. Criada há quarenta anos,
durante o regime militar, a instituição atua em 44 países e desenvolve
pesquisas de inovação e transferência de tecnologia em parceria com
institutos de ponta nos Estados Unidos, no Reino Unido e na França. Um
dos principais braços operacionais da empresa, a unidade do Distrito
Federal, instalada às margens da BR-020, é responsável por fazer do
cerrado brasileiro um dos principais biomas de produção nacional de
carne e soja. Apesar dessas credenciais, o oportunismo do governador do
DF, Agnelo Queiroz (PT), poderá mudar completamente os rumos da
empresa. Candidato à reeleição em outubro, o petista quer tomar o
terreno da Embrapa Cerrados para construir casas populares - e colher
votos.
Alguns campos experimentais da Embrapa
foram desenvolvidos em áreas de antigas fazendas desapropriadas na
década de 1950 para a construção de Brasília – e legalmente cedidas
para o uso da empresa em 1975. O argumento da gestão Agnelo para ficar
com a terra é pífio: o governo pretende utilizar o mesmo terreno,
independentemente das dezenas de áreas ociosas no Distrito Federal,
para construir um condomínio com 5.000 apartamentos populares. Com a
perda da área – a gleba exigida pelo governo Agnelo representa 20% da
área utilizada pelo Centro de Pesquisas para os experimentos de campo
no DF –, a Embrapa afirma que haverá "descontinuidade de pesquisas
realizadas há mais de trinta anos, com prejuízos irreparáveis para a
sociedade".
Agnelo Queiroz quer desalojar Embrapa
Nos seus 40 anos de funcionamento, a
Embrapa Cerrados levou o Brasil à liderança em projetos de agricultura
tropical, com investimento de pelo menos 7 milhões de reais na fazenda
que o governo do Distrito Federal agora reivindica. Pesquisas em
produção animal e vegetal e o desenvolvimento de tecnologias para
correção da fertilidade do solo e para sistemas irrigados fizeram com
que o cerrado respondesse por 55% da produção nacional de carne bovina,
mais de 60% da produção de soja, 41% da produção de leite e 31% da
produção de milho.
“Pegar aquele terreno para fazer casas
populares é não perceber o que a Embrapa significa para o Brasil. O
país chegou ao posto de sexta economia do mundo [em 2012] muito em
função da agricultura e pecuária. Mas atitudes como a do governador
Agnelo contribuem para que o Brasil fique estacionado na 13ª posição na
produção científica mundial”, diz a presidente da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader. “Sou totalmente a
favor da melhoria das condições de moradia, mas a atitude do governo de
construir casas nas fazendas da Embrapa será a completa destruição de
pesquisas porque a região tem toda uma história de ciência. Existem
outras áreas para fazer residências populares.”
“Até meados dos anos 1970, o cerrado era considerado improdutivo. Hoje, bate recordes sucessivos de produtividade. Sem a pesquisa agropecuária isso jamais teria sido possível”, afirmam os funcionários da Embrapa Cerrados em manifesto redigido após a mais recente investida do governo para tomar a fazenda.
Para a Secretaria da Habitação do
Distrito Federal, comandada por Geraldo Magela, companheiro de partido
de Agnelo, as moradias populares precisam ser erguidas exatamente na
região de atuação da Embrapa. Em 2008, a mesma secretaria alegava que a
área era fundamental para a viabilização de um polo de venda de
máquinas agrícolas. Na falta das máquinas, o despejo da Embrapa
ocorreria agora para abrigar a população carente de moradia e minimizar
o déficit habitacional – estimado em 116.000 casas.
O secretário Geraldo Magela vai
além: segundo sua assessoria, a área de Planaltina, onde fica a fazenda
de pesquisas da Embrapa, está degradada e, por isso, a construção de
unidades habitacionais evitaria novos custos ambientais para a
população.
Além da negligência em relação às
pesquisas em andamento, um fator ambiental também tem sido
desconsiderado pelo governo Agnelo na disputa pela região. A área da
fazenda fica no entorno da unidade de conservação da Estação Ecológica
de Águas Emendadas, fundamental para a proteção do bioma do cerrado e
nascente de duas das mais importantes bacias hidrográficas
brasileiras: Araguaia-Tocantins e do Paraná.
Centro do poder político e com
reconhecido padrão de excelência em qualidade de vida, o Distrito
Federal enfrenta há pelo menos cinquenta anos um dos maiores problemas
fundiários do país. Pelo menos 20% de todas as moradias, segundo a
última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios, estão em terrenos
não legalizados, assentamentos ou invasões. No ano passado, a
ex-presidente na Câmara Legislativa Lúcia Carvalho foi acusada pela
Polícia Federal de fraude em demarcação de terrenos e formação de
quadrilha. Outros políticos de Brasília também já frequentaram páginas
policiais por envolvimento em irregularidades na posse de terras.
Porém, é fato que não faltam áreas de propriedade do governo do
Distrito Federal aptas a receber o conjunto de casas populares que
Agnelo quer erguer. Só a pressa em entregar obras em ano de eleição
explica a insistência de Agnelo em tomar os campos da Embrapa.
Em tempo: o Governo do Distrito Federal
afirma que respeita as pesquisas da Embrapa e negocia – sem mediação da
Justiça – uma outra região para a empresa montar os campos
experimentais.
Fonte: Veja.com
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