sábado, 26 de abril de 2014

LAGOA DA CONFUSÃO: QUEM A CONHECE NÃO ESQUECE JAMAIS

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Escrito por Helio Leite   
Qui, 10 de Abril de 2014 17:00
Antes de falar propriamente dita da lagoa da Confusão, finalidade maior deste articulado, convido você, caro leitor, para juntos, empreendermos uma viagem, através do tempo e do espaço, tendo como ponto de partida a cidade de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, no início dos anos 50, e como ponto de chegada a cidade de lagoa da Confusão (TO), em pleno carnaval de 2014.

Caminhemos, então !
Quando estudante, em Fortaleza, estudando a geografia do Brasil tomei conhecimento da existência do Estado de Goiás, situado na região centro-oeste do país, que, segundo as informações constante no livro desta matéria, era habitado por fazendeiros, criadores de gado, índios e garimpeiros. Em face da distância entre Fortaleza e Goiânia, a capital de Goiás jamais poderia imaginar que um dia viesse a morar no centro-oeste brasileiro. Mas o tempo não para, em julho de 1963, passei a residir em Brasília, a nova capital do país e, em setembro do ano seguinte, visitei pela primeira vez Goiânia, cidade que abriga muitos nordestinos, razão porque passei a interessar-me pela história daquele grande estado.

A história de Goiás, segundo os registros, tem início no fim do século XVI, quando as explorações portuguesas não se mais se limitavam apenas às regiões do litoral brasileiro. A caça ao índio, a busca por riquezas minerais e a evangelização foram os principais responsáveis pela exploração do centro oeste brasileiro.

Conta-se que os paulistas Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, João leite e Domingos do Prado, saíram de São Paulo em 1722, em busca das ricas lavras de Goiás, tendo, em tendo quatro anos depois, fundado a primeira povoação goiana, o Arraial da Barra, na confluência dos Rios Vermelho e Bugre. Em meados de 1727, acharam as minas de Vila Boa (atual cidade de Goiás), para onde foram quase todos os habitantes da Barra. Por causa do contrabando e das lutas internas, o governo de São Paulo solicitou à Coroa Portuguesa que fosse criada a Capitania de Goiás, em 1749, sendo o seu primeiro governador D. marcos de Noronha, futuro Conde dos Arcos.

Apesar de descobertas de novas jazidas auríferas (1792/1809), o declínio da mineração era evidente na Capitania. Terminava, assim, definitivamente, a fase de ocupação territorial fundada na atividade de extração mineral.

Por este motivo, no início do século XIX, o respaldo financeiro da região passou a ser representado pela pecuária. Contudo, era grande a dificuldade de comunicação com as outras regiões brasileiras, decorrente, principalmente, pela pobreza da província, incapaz de vencer as enormes distâncias que separavam Goiás dos portos do litoral.

Em face das dificuldades de progresso, em 1830 cogitou-se a possibilidade de transferir a capital da  província para o norte do território goiano. O plano da época levava em conta a necessidade de povoar as regiões próximas aos rios Tocantins e Araguaia. A decadência de Vila Boa, após o esvaziamento das minas, faz com que o presidente José Vieira Couto de Magalhães passasse a advogar, em 1863, a mudança da capital para a região do Araguaia ( Leopoldina). Nesta época consolida-se o regular intercâmbio com o Pará, por meio do estabelecimento da navegação a vapor, do rio Araguaia (1868) e posteriormente do rio Tocantins, até Belém.

Em 1930, assume o Governo de Goiás Pedro Ludovico Teixeira, que tinha como meta principal a mudança da capital, que até então estava localizada em Vila Boa, atual cidade de Goiás, terra da poetisa Cora Coralina.

Assim, em dezembro de 1932 foi decretada a mudança da sede do governo de Goiás para um local próximo da cidade de Anápolis, até que fossem construídos os prédios, necessários para a instalação dos órgãos estaduais. Finalmente, Goiânia, a nova capital do Estado de Goiás, em 1933, é oficialmente fundada.

Vale registrar que, no início do século XIX, Goiás foi obrigado a ceder parte de seu território às províncias do Maranhão e de Minas Gerais; em pleno século XX, também cedeu terras para que o governo federal constituísse o quadrilátero de terras do Distrito Federal, onde foi construída e inaugurada, pelo saudoso presidente JK, a nova capital do Brasil, Brasília, em 21 de abril de 1960, polo irradiador de progresso para a região centro oeste e para todo o território nacional Finalmente, em 1988, com o advento da nova Constituição Federal do Brasil, o estado de Goiás foi dividido, cedendo mais uma vez a parte norte de seu território, que passou a constituir o Estado do Tocantins, com o objetivo maior foi estimular o desenvolvimento daquela região, onde se concentravam as maiores carências sociais e, também, ocorriam com muita frequência disputas pela posse de terras.

Mas a criação e instalação do Estado do Tocantins se deve ao trabalho político insano de um cearense, nascido no dia 1º de agosto de 1928, o qual no registro civil recebeu o nome de José Wilson Siqueira Campos.

Este nordestino, depois de vaguear por várias estradas da vida, fixou residência na cidade de Colinas, no então norte de Goiás, atualmente chamada de Colinas do Tocantins, onde começou a trabalhar na área rural. Com outros cultivadores da terra, fundou a Cooperativa Goiana de Agricultores, tendo na ocasião deflagrado um movimento popular que pedia a criação do estado do Tocantins. Por seu trabalho incansável foi eleito vereador de Colinas, em 1965. A luta pela criação do estado do Tocantins causou reações violentas, e Siqueira Campos foi vítima de vários atentados contra sua vida. Mesmo assim, mercê de sua luta política, foi eleito deputado federal por Goiás, tendo atuado como constituinte, oportunidade em que apresentou uma emenda á Constituição, chamada de emenda Siqueira Campos, que foi aprovada, dando origem ao Estado do Tocantins, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, finalizando assim uma luta de quase 200 anos dos moradores do norte goiano.

Siqueira Campos foi eleito o primeiro governador do novo estado, instalando a administração estadual, provisoriamente na cidade de Miracema do Tocantins, até a inauguração da capital, a cidade de Palmas, planejada nos moldes da cidade de Brasília. Palmas foi fundada em 20 de março de 1990, tornando-se a capital definitiva em 1º de janeiro de 1991, seu nome é uma homenagem à Comarca de São João de Palma, atual Paranã, sede do primeiro movimento separatista da região, em 1809, na barra do Rio Palma com o rio Paranã.

Para chegar à cidade de Lagoa da Confusão, parti de Brasília, a convite do meu amigo e compadre Raimundo Borges Guimarães, numa manhã de sol; antes de chegar ao nosso destino passamos por Cristalina,antiga Chapada, distante de Palmas 130 kms.

Cristalina, também tem sua história ligada ao cristal. No ano de 1947, segundo o escritor Cynobilino Aguiar Almeida, em seu livro História de Cristalina, começaram as primeiras manifestações em prol da emancipação política da Chapada; em 6 de setembro de 1948, foi elevada à categoria de Vila, com sede no distrito do mesmo nome. Tornara-se então nessa época um centro sócio-econômico e político na região. Sua emancipação deu-se pela lei nº 742, de 23 de junho de 1953, com o nome de Cristalândia, “terra do cristal”.
Este município tem hoje cerca de 6.520 habitantes que vivem da agricultura, pecuária e do garimpo, sendo que a maioria da população vive de salários do serviço público ou da atividade comercial e prestação de serviços.

De Cristalândia rumamos na direção da lagoa da Confusão, pela TO-230. Finalmente, caro leitor chegamos à cidade e nos dirigimos para a Pousada da Raiza, que fica nas proximidades da Lagoa, um belo espelho d‟água, rodeado de uma rica vegetação e praias de águas agradáveis e areias finíssimas.

Segundo fui informado a cidade é o portal de entrada para a ilha do Bananal e o Parque do Araguaia. A cidade é banhada pelos rios urubu, Formoso, javaé e Araguaia. A Ilha do Bananal abriga aldeia indígenas, como Boto Velho, Wari Wari, Fontoura, Santa Isabel do Morro e Macaúba,  as quais ainda preservam o típico artesanato indígena e a prática dos rituais Aranã; o acesso é feito pelo município de Lagoa da Confusão, possuidor de belezas naturais, consideradas como um dos maiores potenciais turísticos do Estado do Tocantins O carnaval chegou, as fortes chuvas que caíam diariamente na cidade impediram que os foliões se divertissem à vontade. Mesmo assim, seis bandas musicais foram contratadas para animar a quadra carnavalesca, cujo som ensurdecedor dificultava o sono dos moradores que não são chegados à festa de Momo. Contudo, minha estada nessa cidade foi muito promissora, pois conheci pessoas maravilhosas, funcionários públicos, empresários, advogados, produtores rurais, hóspedes da Pousada da Raiza, jovens e crianças; por certo em breve voltarei a Lagoa da confusão, porque quem a conhece não esquece jamais.

Helio Leite, advogado e escritor

Ir. Helio Leite
Advogado, escritor,
ex- Grão-Mestre do GOB/DF
banquetemaconico@gmail.com

Fonte: JB News

 
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