segunda-feira, 28 de abril de 2014

MARCIO FRANÇA: "LULA PERDERIA A ELEIÇÃO PARA CAMPOS"


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Escrito por Leopoldo Mateus e Alberto Bombig   
Seg, 28 de Abril de 2014 17:00
O deputado federal Márcio França, presidente do PSB paulista, esbanja otimismo. Diz que,  “se Lula fosse candidato hoje, perderia a eleição para Campos”. Ele se refere ao ex-governador pernambucano Eduardo Campos, de cuja candidatura à Presidência ele é um dos principais articuladores. França, de 50 anos, é um dos nomes mais cotados para coordenar  a campanha presidencial. Pré-candidato ao governo paulista, ainda sonha em ser candidato a vice de Geraldo Alckmin (PSDB). Na busca por essa última hipótese, enfrenta a resistência de Marina Silva, futura candidata a vice na chapa de Campos. “Acho Marina muito próxima, em posições pessoais, a Alckmin.”
ÉPOCA – O senhor coordenou a última campanha à Presidência do PSB, do deputado federal Anthony Garotinho, em 2002, e está próximo da coordenação da candidatura de Eduardo Campos neste ano. O que mudou no partido entre essas duas candidaturas?
Márcio França –
Duas coisas em especial. Garotinho tinha entrado no partido para ser candidato. Ele não teve no partido o apoio que Eduardo tem agora. A segunda é que o partido era muito inferior ao de hoje. Tinha dois governadores, de Estados pequenos, poucas lideranças e só 17 deputados. A candidatura Garotinho foi importante para a gente chegar até aqui, nos colocou em outro patamar, dos seis, sete maiores partidos do país. Essa conquista produziu as vitórias da sequência: prefeituras, capitais, governos de Estado e o tempo de TV. A decisão de Garotinho foi acertadíssima. Levou em consideração o partido. A candidatura de Eduardo é diferente, é para ganhar a eleição.
ÉPOCA – Em 2002, no segundo turno o PSB apoiou o ex-presidente Lula. Nos anos seguintes, Campos e Roberto Amaral foram ministros. Como explicar agora que o PSB seja oposição?
França –
Lula é um fenômeno brasileiro como poucos acontecem. Como Neymar. Não nascem aos montes. Os dois governos dele foram altamente aprovados. Com ele, foi um tipo de relação. Quando ele escolheu a presidente Dilma (Rousseff), foi mais um ato de genialidade, intuindo esse esgotamento do político-padrão, que está na rua hoje. Veio a primeira personagem da presidente: a gerente. Logo depois veio a segunda: a faxineira. Ela entrou e varreu os políticos. Houve um instante no primeiro ano em que ela teve o maior apoio político que um presidente já teve. Criou expectativa na população. Quando vestiu essa segunda personagem, saltou para fora a verdadeira e terceira personagem: ela própria, a intervencionista. A lógica dela é a intervenção. No país, um processo de intervenção é duro de engolir.
ÉPOCA – Então o slogan “a esperança venceu o medo” não existe mais?
França –
Não. A grande diferença entre os governos dela e de Lula foi justamente esta: a esperança desapareceu. Ao final do governo Lula, ela tinha uma carruagem. Agora está entregando uma abóbora. Tudo em que ela mexeu deu confusão. Eduardo percebeu isso dois anos atrás. Percebi na montagem do governo. Ninguém da política negocia do jeito como ela negociava. Ela tinha de ter mantido o núcleo central, que éramos nós, o PCdoB, o PSB, o PDT. Quando chegou o final de 2012, Eduardo fez as primeiras manifestações críticas, porque ele se sentia meio isolado. Depois, com os índices (de aprovação de Dilma) ruins, percebendo a falta de diálogo, ele foi falar com ela numa praia na Bahia. A conversa boa, mas ela ficou falando de artesanato. Não fala de política, ela não tem para dar. Falei para Eduardo: você procura uva numa bananeira.
ÉPOCA – Com essa postura do partido, elogiosa ao governo Lula e crítica do governo Dilma, caso o PT decida que Lula será o candidato, como ficará a candidatura de Campos?
França –
Já houve um tempo em que eu tinha essa preocupação. Todos devemos muito a ele. Não há um político que eu conheça no Congresso que não deva a Lula uma gentileza. Ele fez gestos a cada um de nós. Se, amanhã, um amigo seu se candidata, você ficaria no constrangimento. Mas, hoje, uma coisa que ninguém me tira da cabeça: Lula tem vários defeitos, mas uma grande qualidade, ele é muito intuitivo. Se fosse candidato hoje, perderia a eleição para Eduardo. Ele sabe disso.
ÉPOCA – O senhor foi um dos principais padrinhos do casamento político mais surpreendente dos últimos tempos, entre Marina Silva e Eduardo Campos. Depois de seis meses, ele é de mais alegrias ou mais tristezas?
França –
Muito mais alegrias. Marina é a grande novidade boa e pura da política brasileira. Ela também nos reenquadra. Você tem de ter seu grilo falante. Ela é nosso grilo falante, porque nossa intuição é ganhar, minha intuição é ganhar. É importante ter alguém como ela que fale: cuidado, daqui a pouco estamos iguais a todo mundo. E ela é uma mulher internacional. Quantos nomes no Brasil repercutem no mundo? Agora, ela também intuiu que a passagem do modelo dela para o que está hoje precisa de transição. Ela sozinha não faria essa transição.
ÉPOCA – Como está a relação com Marina?
França –
Temos muitas dificuldades nessa composição. Tenho divergências com Marina, acho que temos de fazer movimentos conservadores, em busca dos conservadores idôneos. Nem todo mundo é obrigado a ser progressista. Teremos um pouco de dificuldade neste início da relação com a Rede, porque há enfrentamentos que precisam ser feitos, e São Paulo é um deles.
ÉPOCA – O senhor ainda é pré-candidato ao governo?
França –
Sim. Se a decisão final for por uma candidatura própria, serei pré-candidato, ainda que ninguém me convença de que essa é a melhor estratégia. Aqui em São Paulo, é onde o jogo vai se decidir. Se depender de minha opinião, continuarei trabalhando por uma coligação.
ÉPOCA – Como resolver esses problemas?
França –
Eduardo é um grande mediador. Resolverá tudo isso e, se vencer, fará uma transição, preparará tudo para um dia ela (Marina Silva) ser presidente.
"Não há hipótese de ficarmos fora do segundo turno. Hoje creio que Dilma possa ficar fora"
ÉPOCA – Marina não atrapalha vocês em São Paulo? Ela vetou o apoio a Geraldo Alckmin?
França –
Ela usa argumentos lógicos para defender essa ideia, mas nunca falou como imposição. Para ela, a nova política exige candidatos novos. Ela nunca me disse que não aceita apoiar Alckmin. Até acho ela muito próxima, em posições pessoais, a Alckmin. Convivi muito com Alck­min e agora convivo com Marina. Alckmin é radical do ponto de vista ético. Ele é extremamente religioso, como ela, extremamente simples, como ela. Eles têm coisas muito próximas. Se tivéssemos tido tempo de construir uma candidatura conjunta em São Paulo, a ideia de Marina seria viável. Infelizmente, isso não aconteceu. Dizem que sou muito tucano, só que nunca estive com Alckmin em campanha eleitoral dele. É uma bobagem.
ÉPOCA – Como pré-candidato ao governo paulista, como o senhor enxergou a declaração do porta-voz da Rede em São Paulo, Célio Turino, de que o senhor não está no rol de nomes que a Rede apoiaria ao Palácio dos Bandeirantes?
França –
Ele tem todo o direito de escolher. Depois vamos para a convenção, o lugar certo da escolha do candidato.
ÉPOCA – Campos e Aécio Neves (PSDB) disputarão, provavelmente, um lugar no segundo turno. Até quando manterão o pacto de não agressão?
França –
Até o fim da eleição. Eles são amigos, da mesma geração. De nossa parte, não deverá haver agressões. Começamos atrás nas pesquisas e não agredimos ninguém até agora. Não sei como será quando a primeira pesquisa detectar Eduardo na frente, não sei como será o comportamento do PSDB. Aécio foi um bom governador, lidera um partido importante, mas há algo de que ele não tem como escapar. Ele lidera uma mudança para o passado, e nós para o futuro.
ÉPOCA – Se Aécio for para o segundo turno com Dilma, o apoio de Campos e do PSB a ele será natural?
França –
Não há hipótese de estarmos fora do segundo turno. A tendência de Eduardo talvez fosse declarar apoio a Aécio, mas não sei como seria o PSB. No Nordeste, haveria dificuldades de transferir o apoio de Eduardo a Aécio. Hoje acredito que Dilma possa ficar fora do segundo turno.
ÉPOCA – O senhor acha que Campos tem força para fazer frente às boas votações do PT no Nordeste?
França –
Certamente. Só em Pernambuco, ele tirará 5 milhões de votos dos 10 milhões que teve no Estado em 2010. Contagiará outros Estados também.
ÉPOCA – O PSB teme investigações sobre o Porto de Suape, em Pernambuco?
França –
Se mexerem em Suape, encontrarão é mais sujeira do que já encontraram na Petrobras. Isso não tem nada a ver com Eduardo. Não acho bom para o país fazer a policialização da eleição. Cada um deve lutar com as forças que tem.
Fonte: Revista Época



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