quarta-feira, 9 de abril de 2014

MAÇONARIA: AS CARCAÇAS DO DINOSAURO - ECOS DO PASSADO

 
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Escrito por Pedro Juk   
Qua, 09 de Abril de 2014 17:00
Tenho observado que vez por outra aparecem certos escritos que sugerem mudanças e desqualificação do pensamento doutrinário do belíssimo Rito Escocês Antigo e Aceito como se já não bastassem os enxertos que o assolam, sobretudo na Maçonaria brasileira, transformando-o às vezes em uma “colcha de retalhos”. Ecos O que me refiro é que além de todas essas pedras de tropeço que têm sido criteriosamente e exaustivamente extirpadas uma a uma de modo acadêmico pela escola autêntica (pelo menos em alguns rituais), infelizmente ainda aparecem incitações e sugestões que além de nada somar para a investigação ainda incitam o crédito em certos restos putrefatos que de há muito tempo já foram sepultados.

Vivemos atualmente mais um período equinocial, cujo ápice ocorreu em 21 de março próximo passado, o que indica o início da estação da primavera no hemisfério Norte da Terra e do outono no hemisfério Sul. Para a Maçonaria e muito em particular ao Rito Escocês Antigo e Aceito esses períodos que marcam os ciclos naturais são bases elementares da estrutura doutrinária do Rito, cuja associação simbólica de comparação determina a alegoria do aperfeiçoamento do Homem (matéria prima especulativa) comparando-o com as etapas da  Natureza, ou o ato de morrer (inverno) para o de renascer (primavera).

Além da doutrina ética e moral do lapidar que é o objetivo sintético na Maçonaria Especulativa, os ritos e trabalhos por sua vez exercem na Maçonaria uma espécie de grade curricular que orientam esse “aperfeiçoamento” e para tal, constituem as suas particularidades escolares. Assim, se tomarmos como exemplo o Rito Escocês Antigo e Aceito no seu simbolismo criado em 1.804 (primeiro ritual simbólico) e aperfeiçoado durante o Século XVIII nos moldes do pensamento humano oriundo da França, nos deparamos com uma série de características particulares da sua formalidade ritualística o que lhe desenvolve um padrão sui generis no simbolismo.

Toda essa estrutura tem como cenário visual e palpável o ambiente da Loja e a sua decoração imaginada e preparada para adequar a doutrina do Rito ao resultado final do aperfeiçoamento adquirido no trajeto da senda iniciática do simbolismo. Nessa abstração maçônica o Homem (perfectível) como integrante da Natureza protagoniza a regra natural imutável do nascimento, da infância, da juventude e da maturidade – primavera, verão, outono e inverno. Nesse ambiente está a razão da decoração e alegorias na liturgia do escocesismo simbólico onde destacamos as Colunas Zodiacais, as Colunas Solsticiais (B e J) como marco de passagem dos trópicos de Câncer ao Norte Capricórnio ao Sul, o Topo das Colunas do Norte e do Sul, a decoração da Abóbada Celeste e as datas solsticiais e equinociais.

Todo esse corolário alegórico destaca-se na Loja como o elemento de estrutura simbólica e por consequência geográfica de nascimento nas latitudes terrenas que se refere ao hemisfério Norte do Planeta. Como dito, esse é um elemento “simbólico” para a comparação e não um elemento astronômico de uma academia universitária. É nesse particular que os ritos maçônicos criados no HEMISFÉRIO NORTE seguem a sua senda iniciática a partir da Coluna do Norte – Aprendizes no Norte, Companheiros no Sul e os Mestres no Oriente e espalhados por toda a face da Terra.

Cabe então aqui um alerta: a Sala da Loja, ou Templo Maçônico é um canteiro simbólico de obras haurido dos costumes medievais operativos e, conforme a doutrina do Rito associa-se muitas vezes o seu exclusivo simbolismo doutrinário. No caso do Rito Escocês a Loja simbólica representa um segmento do Globo terrestre situado sobre o Equador orientado do Ocidente (Oeste) em direção ao Oriente (Leste), tendo à direita o Sul (meridião) e à esquerda o Norte (setentrião). A Coluna Vestibular B (a esquerda de quem entra) marca a passagem do Trópico de Câncer (Norte) enquanto que a Coluna Vestibular J (a direita de quem entra) assinala a passagem do Trópico de Capricórnio (Sul). Entre elas, ao centro, no sentido longitudinal do espaço se apresenta a linha imaginária do Equador (vai do centro da porta de entrada até o Oriente) que divide as Colunas do Norte e do Sul, cujos respectivos “topos” correspondem às paredes do Norte e do Sul limitadas pela grade do Oriente e pela parede Ocidental. Por sua vez, nesses “topos” se localizam em dois grupos de seis as Colunas Zodiacais que marcam as constelações do Zodíaco, cujos alinhamentos com o planeta Terra (inclinado em aproximados 23º no seu plano de órbita) no movimento de translação, demarcam as estações terrenas nos seus respectivos hemisférios.

Como a questão está sob o ponto de vista do “Hemisfério Norte” (onde nasceu o Rito), a Primavera (renascimento da Natureza) começa em Março – o Aprendiz recém-saído da Câmara e, segue os Ciclos de três em três até morrer para renascer – infância, juventude, maturidade e morte (primavera, verão, outono e inverno – Aprendiz, Companheiro e Mestre). Esse é o alicerce principal onde se apoia a escalada iniciática do simbolismo escocês, ou seja: o Aprendiz no Norte, o Companheiro no Sul e o Mestre no Oriente e dali para todos os quatro cantos do Orbe.

Como a questão é do simbolismo1, ou simbólica2 a Maçonaria não dá uma interpretação literal da geografia e das toponímias da Loja, senão o ponto de vista do seu nascimento, que volto a repetir: é a do hemisfério Norte do planeta Terra. Assim a decoração da Abóbada também se relaciona ao hemisfério citado que é o berço do Rito em questão onde aparecem as luminárias (Sol e a Lua), estrelas principais, constelações e planetas, todos identificados também sob o ponto de vista boreal (norte). A questão principal é a de entender a doutrina do Rito e não uma interpretação de acordo com a situação geográfica. A Maçonaria não pretende dar aula de astronomia nem de geografia, muito menos influenciar os seus adeptos com concepções particulares dos ocultistas. As alegorias e os símbolos são exemplos comparativos e não afirmações literais, daí o ponto de vista tradicional como se o Maçom vislumbrasse todo esse teatro alegórico das latitudes boreais do nosso Planeta (acima da linha do Equador).

Não deve existir a preocupação se nos situamos na meia-esfera inferior (Sul). Tudo é simbólico e o importante mesmo é compreender a mensagem do que significa esse aperfeiçoamento proposto. Essa é a escola do simbolismo – interpretação sem licenciosidade.

A interpretação simbólica se diferencia da literal, já que se tomássemos tudo ao pé da letra, haveria um tabelião oficial no para o testamento simbólico na oportunidade da iniciação, um agente funerário tanto na Iniciação quanto na Exaltação. O que aconteceria com o protagonista golpeado? E os Templos. Seriam eles obrigatoriamente construídos conforme a orientação do nascer do Sol (Leste-Oeste). O Venerável obrigatoriamente ficaria de costas para o Leste? E por aí vamos.

Então que “estória” e essa de certos incentivos publicados incitando os Irmãos a procurarem “chifres na cabeça do cavalo” querendo propor mudanças no Rito Escocês e alteração nos seus Rituais? Ao incentivador desses absurdos caberia perguntar se o Rito seria praticado conforme o Hemisfério. Também deixo aqui uma pergunta: Esse tipo de incentivo de colocar “minhocas” na cabeça dos outros é oriundo de regularidade maçônica?

De qual Obediência e Loja estaria partindo esse tipo de proposta?

Devo salientar que não estou aqui discutindo geografia e astronomia, senão simbolismo maçônico oriundo de um Rito, que inclusive sou dele Secretário Geral no GOB. Portanto, meus Irmãos eu os concito a compreenderem a essência doutrinária, filosófica, moral e ética dos ensinamentos maçônicos despidos de quaisquer interpretações que envolvam crenças pessoais, sejam elas religiosas ou ocultistas. Não dêem crédito aos tais “nós na cabeça” como inversões das toponímias da Loja. Sejam elas as palpáveis, bem como as abstratas.

Estes sugerem hoje a alteração da Abóbada, e amanhã? A inversão das Colunas?
A posição dos Aprendizes? O que mais?

Aliás, sugiro aos que enveredam para essas propostas de alterações, que antes criem o seu próprio rito, sugerindo-o para a sua Obediência nos conformes da Lei e, se legalmente adotado que assim seja mais um rito praticado. Penso que essa atitude seria muito mais coerente do que aquela que de quando em quando sugere desenterrar carcaças de dinossauro.


1 Simbolismo (De símbolo + - ismo). Substantivo masculino. 1. Expressão ou interpretação por meio de símbolos. 2. Escola literária do fim do séc. XIX, que se originou na França, surgida como reação contra o parnasianismo, e que, caracterizando-se por uma visão subjetiva, simbólica e espiritual do mundo, adotou novas formas de expressão, traduzindo as impressões por meio de uma linguagem em que dominava a preocupação estética. 3. Escola de tendências análogas, nas artes plásticas e na música.

2 Simbólico (Do gr. symbolikós, pelo lat. symbolicu). Adjetivo. 1. Referente à, ou que tem caráter de símbolo. 2. Alegórico; metafórico.

Pedro Juk
jukirm@hotmail.com
Morretes-Paraná em abril/2014.

Fonte: JBNews
 

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