Escrito por J. R. Guzzo |
Seg, 07 de Abril de 2014 14:00 |
Pode ser uma coisa que muita gente acha
desagradável ouvir, e por isso é melhor dizer logo, para não gastar o
tempo do leitor com prosa sem recheio.
É o seguinte: os brasileiros fariam um grande favor a si mesmos se
tomassem a decisão de ficar, com o máximo de clareza e na frente de
todo mundo, a favor da polícia. Isso mesmo: a favor da polícia, e da
ideia de que cabe exclusivamente a ela, numa democracia que queira
continuar viva, o direito de usar a força bruta para manter a ordem,
cumprir a lei e proteger o cidadão. Tem, também, a obrigação legal de
fazer tudo isso. Algum problema? É exatamente assim em todos os regimes
democráticos. Eis aí, na verdade, uma afirmação evidente em si mesma;
pode ser entendida sem a menor dificuldade após um minuto de reflexão.
Mas estamos no Brasil, e no Brasil o que parece ser um círculo, por
exemplo, é muitas vezes considerado um triângulo, ou um quadrado, ou
qualquer outra coisa que não seja o diabo do círculo.
No momento, justamente, passamos por um
desses surtos de tumulto mental. Segundo o entendimento de boa parte
daquilo que se considera o “Brasil pensante”, “civilizado” ou
“moderno”, nosso grande problema não é o crime, mas a polícia. Parece
bem esquisito pensar uma coisa dessas, num país com mais de 50 000
assassinatos por ano e índices de criminalidade que estão entre os
piores do mundo. Onde esses pensadores estão vendo o problema de que
tanto falam? Vai saber. Os verdadeiros mistérios desse mundo não são as
coisas invisíveis, e sim as que se podem ver muito bem. No caso, o que
se pode ver com a clareza do meio-dia é a fé automática de boas almas e
mentes num mandamento que ouvem desde crianças: o criminoso brasileiro
é sempre “vítima das desigualdades sociais”, e o policial está errado,
por princípio, quando usa a força contra ele. Seu dever, como agente
do Estado, seria tratar os bandidos como cidadãos que precisam de
ajuda, para que tenham oportunidade de entender por que não deveriam
matar, roubar, estuprar e assim por diante. Será que esse jeito de
pensar é alguma tara que nos sobrou do regime militar, quando polícia e
liberdade eram coisas opostas? De novo: não se sabe.
Praticamente todos os dias há exemplos
claros desse curto-circuito geral na capacidade de separar o certo do
errado. O cidadão é assaltado, brutalizado, ferido ─ e no dia seguinte
lê, ouve ou vê mais uma reportagem denunciando a polícia por algum
erro, real ou imaginário. Ainda há pouco, o país teve oportunidade de
testemunhar políticos, intelectuais e “celebridades” em geral, com a
colaboração maciça da mídia, colocando a polícia no banco dos réus por
reprimir bandos de marginais que vão para a rua decididos, treinados e
equipados para destruir. Segundo essas excelentes cabeças, a polícia
cria um “clima de violência” e de “provocação” que “força os ativistas”
a se defenderem “previamente”. Para isso, veem-se obrigados a
incendiar bancas de jornal, destruir carros, quebrar vitrines de loja e
por aí afora. Esse tipo de julgamento vai se tornando mais e mais
aceitável no Brasil de hoje. Deve ser maior do que se pensa o número de
pessoas que não querem ter a tranquilidade de sua fé perturbada por
fatos ou por conhecimentos; além disso, cabeças em que não há ideias
são sempre as mais resistentes a deixar alguma ideia entrar nelas.
Quanto à imprensa, rádio e TV, acreditem: o que mais gostam de fazer é
falar as mesmas coisas, pois se sentem mais seguros quando um repete o
outro e todos atiram nos mesmos alvos. Alguém já viu, por exemplo,
algum jornalista arrasando o técnico do Olaria?
Não há sete lados nesse debate. Só há
dois, um que está a favor da lei e o outro que está contra ─ e aí o
cidadão precisa dizer qual dos dois ele realmente apoia. O primeiro é a
polícia. O segundo é o que leva o crime para a rua. A única pergunta
relevante, num país que tem uma Constituição em vigor, é: de que lado
você está? Não vale dizer “depende”, ou declarar-se a favor da ordem,
desde que a tropa se comporte com altos níveis de civilidade, seja
muito bem-educada, fale inglês e não bata nunca em ninguém, nem cause
nenhum incômodo físico a quem esteja jogando coquetéis molotov na sua
cara, ou sacando armas contra ela. A questão real é apoiar hoje a
polícia brasileira que existe hoje ─ não dá para chamar a polícia da
Dinamarca, por exemplo, para substituir a nossa, ou tirar a PM da rua e
só chamá-la de volta daqui a alguns anos, quando estiver
suficientemente treinada, preparada e capacitada a ser infalível. É
mais do que sabido que a polícia do Brasil tem todos os vícios
registrados no dicionário, de A a Z. Mas, da mesma maneira como não é
possível fechar todos os hospitais públicos que funcionam mal, e só
reabri-los quando forem uma maravilha, temos de conviver com a
realidade que está aí. É indispensável transformá-la, mas não dá para
exigir, já, uma corporação armada que precise ter virtudes superiores
às nossas.
A polícia, por piores que sejam as
condutas individuais dos seus agentes e seus níveis de competência, é
uma peça essencial para manter a democracia no Brasil e impedir a
tirania daqueles que só admitem as próprias razões. É a polícia, na
verdade, o que a população brasileira tem hoje de mais concreto na
garantia de seus direitos. Alguém pode citar alguma força mais eficaz
para impedir que o Congresso, o STF e o próprio Palácio do Planalto
sejam invadidos, metidos a saque e incendiados? A PM está do lado do
bem ─ goste-se ou não disso. No mundo das realidades, é ela a principal
defesa que o cidadão tem para proteger sua vida, sua integridade
física, sua propriedade, sua liberdade de ir e vir, o direito à palavra
e tudo o mais que a lei lhe assegura. A autoridade policial já erra o
suficiente quando falha ao cumprir quaisquer dessas tarefas. Não faz
nexo criticá-la nas ocasiões em que acerta.
Não serve a nenhum propósito útil,
igualmente, dar conforto ao inimigo ─ o que nossa elite pensante, como
dito anteriormente, faz o tempo todo. O inimigo não vai deixar de ser
seu inimigo; você não ganhará sua admiração, nem será deixado em paz. É
um desafio à lógica, neste sentido, achar que delinquentes teriam a
licença de armar-se para assegurar seu direito de “legítima defesa”
contra a repressão policial. A lei brasileira, com todas as letras, diz
que só a polícia tem o direito de portar armas, e de utilizá-las no
combate ao crime e na defesa do cidadão ─ salvo em casos excepcionais,
que exigem licença específica. Dura lex sed lex, claro. Mas não é só
uma questão legal. Trata-se de simples sensatez. No caso dos atos de
protesto ─ qual o propósito de levar para a rua mochilas com bombas
incendiárias, estiletes, barras de ferro e outros artefatos desenhados
unicamente para machucar? Por que alguém precisaria de qualquer dessas
coisas para expressar suas opiniões em praça pública?
O Brasil vem se acostumando nos últimos
anos à ideia doente de que mostrar simpatia diante da delinquência e
hostilidade diante da polícia é uma questão de princípio ─ uma atitude
socialmente avançada e politicamente progressista. Quem não pensa assim
é visto como um homem das cavernas, extremista e inimigo da
democracia. Mas é o contrário: opor-se ao crime e apoiar a polícia é
ficar a favor da liberdade. Está na moda denunciar, com apoio da caixa
de amplificação da imprensa, delitos como a “pregação do ódio”,
“apologia do crime” ou “incentivo ao racismo”. Esse mesmo tribunal,
entretanto, aplaude como uma forma superior de cultura popular os
rappers que pregam abertamente, em suas músicas, o assassinato de
policiais. Há alguma coisa muito errada nisso aí. Está na hora de
deixar claro: é falso acusar de “histeria” e outros pecados mortais
quem não acredita, simplesmente, que no Brasil de hoje existe algum
assaltante que rouba e mata porque está com fome ou tem de sustentar
sua família; o que há é gente que quer satisfazer todos os seus desejos
sem ter de trabalhar ou de respeitar o direito alheio. Em Cuba,
regime-modelo para nosso governo, são chamados de sociopatas e
enterrados na cadeia mais próxima, sem que a “sociedade” seja chamada a
“debater” coisa nenhuma.
Deus não precisou da ajuda dos
brasileiros para criar o Brasil. Mas, como diria Santo Agostinho, só
poderá nos salvar se tiver o nosso consentimento.
Fonte: Veja.com
|
Entrevistas
Política, Economia e Direito
Setembro.net
Denúncia
Civismo/Cidadania/Patriotismo
Categorias
Gastronomia
Meio Ambiente
Contato
Sites
Formadores de Opinião
O Livro Banquete Maçônico
Esperanto
Home
Tecnologia
Banquete Maçônico
Últimas Publicações
Saúde
TEMPLO DE ESTUDOS MAÇÔNICOS
Templo de Estudos Maçônicos
Charges
Poesia & Prosa
Educação, Família e Filosofia
Nenhum comentário:
Postar um comentário