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Escrito por Marco Antonio Villa |
Qua, 02 de Abril de 2014 09:11 |
Durante a ditadura, a oposição de
esquerda transformou a experiência dos países socialistas em referência
de democracia. A ditadura do proletariado foi exaltada como o ápice da
liberdade humana e serviu como contraponto ao regime militar. A
falácia tinha uma longa história. Desde os anos 1930 brasileiros
escreveram libelos em defesa do sistema que libertava o homem da
opressão capitalista.
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Prado Júnior justificou a violência, que
segundo ele “está nas mãos das classes mais democráticas, a começar
pelo proletariado, que delas precisam para destruir a sociedade
burguesa e construir a sociedade socialista”. A feroz ditadura foi
assim retratada: “O regime soviético representa a mais perfeita
comunhão de governados e governantes”. O autor regressou à União
Soviética 27 anos depois. Publicou seu relato com o título O Mundo do Socialismo. Logo de início escreveu que estava “convencido dessa transformação (socialista), e que a humanidade toda marcha para ela”.
Em 1960, Caio Prado não poderia ignorar a
repressão soviética. A invasão da Hungria e os campos de concentração
stalinistas estavam na memória. Mas o historiador exaltava “o que
ocorre no terreno da liberdade de expressão do pensamento, oral e
escrito”, acrescentando: “Nada há nos países capitalistas que mesmo de
longe se compare com o que a respeito ocorre na União Soviética”. E
continua escamoteando a ditadura: “Os aparelhos especiais de repressão
interna desapareceram por completo. Tem-se neles a mais total liberdade
de movimentos, e não há sinais de restrições além das ordinárias e
normais que se encontram em qualquer outro lugar.”
Seguindo pelo mesmo caminho está Jorge
Amado, Prêmio Stalin da Paz de 1951. Isso mesmo: o tirano que ordenou o
massacre de milhões de soviéticos dava seu nome a um prêmio “da paz”.
Antes de visitar a União Soviética e publicar um livro relatando as
maravilhas do socialismo – o que ocorreu em 1951 -, Amado escreveu uma
laudatória biografia de Luís Carlos Prestes. A União Soviética foi
retratada da seguinte forma: “Pátria dos trabalhadores do mundo, pátria
da ciência, da arte, da cultura, da beleza e da liberdade. Pátria da
justiça humana, sonho dos poetas que os operários e os camponeses
fizeram realidade magnífica”.
A partir dos anos 1970, o foco foi
saindo da União Soviética e se dirigindo a outros países socialistas.
Em parte devido aos diversos rachas na esquerda brasileira. Cada
agrupamento foi escolhendo a sua “referência”, o país-modelo. O Partido
Comunista do Brasil (PCdoB) optou pela Albânia. O país mais atrasado
da Europa virou a meca dos antigos maoistas, como pode ser visto no
livro O Socialismo na Albânia, de Jaime Sautchuk. O jornalista
visitou o país e não viu nenhuma repressão. Apresentou um retrato
róseo. Ao visitar um apartamento escolhido pelo governo, notou que não
havia gás de cozinha. O fogão funcionava graças à lenha ou ao carvão.
Isso foi registrado como algo absolutamente natural.
O culto da personalidade de Enver Hoxha,
o tirano albanês, segundo Sautchuk, não era incentivado pelo governo.
Era de forma natural que a divinização do líder começava nos jardins de
infância onde era chamado de “titio Enver”. As condenações à morte de
dirigentes que se opuseram ao ditador foram justificadas por razões de
Estado. Assim como a censura à imprensa.
Com o desgaste dos modelos soviético, chinês e albanês, Cuba passou a ocupar o lugar. Teve papel central neste processo o livro A Ilha,
do jornalista Fernando Morais, que visitou o país em 1977. Quando
perguntado sobre os presos políticos, o ditador Fidel Castro respondeu
que “deve haver uns 2 mil ou 3 mil”. Tudo isso foi dito naturalmente ─ e
aceito pelo entrevistador.
Um dos piores momentos do livro é quando
Morais perguntou para um jornalista se em Cuba existia liberdade de
imprensa. A resposta foi uma gargalhada: “Claro que não. Liberdade de
imprensa é apenas um eufemismo burguês”. Outro jornalista completou:
“Liberdade de imprensa para atacar um governo voltado para o
proletariado? Isso nós não temos. E nos orgulhamos muito de não ter”. O
silêncio de Morais, para o leitor, é sinal de concordância. O pior é
que vivíamos sob o tacão da censura.
O mais estranho é que essa literatura
era consumida como um instrumento de combate do regime militar. Causa
perplexidade como os valores democráticos resistiram aos golpes do
poder (a direita) e de seus opositores (a esquerda).
Fonte: Veja.com
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